ficava olhando as coisas daqui de cima e achando estranho que elas só existissem ali, onde eu estava. era com quase tudo assim: vento, chuva, verso, sentimento, gente. vez enquando, inventava umas palavras como desver, deslembrar. sempre tirando um pouco das coisas que existiam, como se as pudesse apagar.
mas tem maneiras de estranheza que não se apaga, tipo coração partido ou remédio demais tomado pra dormir. que nem pôr de sol também: só se vê uma vez porque mesmo acontecendo todo dia, viver é um instante por vez e as coisas do céu nunca se repetem, ainda que entre tantos dias de olhos parados no mesmo ponto.
ponto: aquilo que cê marcou no chão pra que eu pudesse um dia ter pra onde voltar. mas que eu nunca soube e por isso mesmo passei todo o tempo do mundo andando em círculos, passando um monte de vezes pelo ponto marcado, sem sequer acertar por nem saber que ele estava ali. foi aí que eu sobe, em uma manhã quente de ainda inverno, que tinha acabado.
porque não dá pra atravessar todas as estradas da gente, a vida inteira, sem inaugurar algo novo do lado de dentro. e sem perceber aquilo que sempre esteve, porque vai ver nunca existiu. ao menos não daqui de cima, de onde tudo lá embaixo só sobrevive por querer. ou pelo meu modo de ver...
Nenhum comentário:
Postar um comentário