segunda-feira, 21 de outubro de 2019

. penso n'ocê quando o mundo me assombra .

[para minha pessoa preferida]

outro dia, era ainda cedo, fazia um sol de avermelhar o rosto, e eu não sabia mais como seguir. de repente, pareceu que uma nuvem feita de brancura tomou conta dos meus olhos e pronto: não via um palmo na frente dos olhos, nem um ponto seguro diante do chão. fiquei sem saber como é que fazia, e então eu te escrevi. as mãos trêmulas, como se um bilhete destinado a ti, fosse também destino nosso, coisa de estremecer o coração. 

"houvesse tempo e eu te entregava meu caminhar", escrevi incerta.

depois ocê me disse que tinha dado um sorriso de contente, numa resposta que eu não esperava chegar. tenho esse jeito meio torto de achar que silêncio é morada e que palavra é perdão. por isso mesmo é que vivo de esperançar as coisas e de aguardar o tempo certo dos acasos. cê é que sabe de tudo que eu carrego por dentro, do medo que eu tenho das alturas, da minha crença em vidas passadas, do tanto que tropecei pra chegar até aqui. e que eu sou assim meio boba, meio distante das coisas palpáveis, meio morada em um lugar distante... e ainda assim, é ocê que sempre volta: não sei se por gosto ou por costume. 

sei só que é ocê que me salva quando eu vou entrando naquele lugar do qual eu nunca consigo voltar sozinha: preciso d'ocê pra me guiar. e não se apavore, não. do amor meu, me esqueço mesmo é quando ocê some, porque parece que vai contigo um pedaço bom de mim. quando cê volta, me ascendo, lembro de dançar sozinha na frente do espelho, recordo que chorar é lavar a alma e entendo que meu lugar foi, e sempre há de ser, dentro do meu próprio coração...



terça-feira, 15 de outubro de 2019

. [do livro de cartas] estou sempre a lembrar-me de ti .

querido Salvador,

ensaiei tantas partidas. mas, de fato, nenhuma delas funcionou. estou sempre a lembrar-me de ti... hoje pela manhã, por exemplo, abri a janela do quarto e lá estava: bonito, de até doer os olhos, um céu tão azul como os de suas primaveras. sorri de recordação e, por alguns segundos, deixei de pensar que por descuido, quase te transformei em mágoa. vê se pode, Salvador: justo ocê, minha pessoa preferida, que eu sempre prometi nunca deixar sair do canto bom do coração!

acontece, querido, que eu às vezes me esqueço... que gostar tem mesmo que ser mais sobre viver do que sobre encontrar razões ou teorias. sou mais poema quando cê regressa. e isso, por si só, já é um agradecimento em viver. não há como mudar as coisas: nem o que se sente, nem o que desacontece. mas aprendi que a gente pode criar um espaço melhor dentro do tempo que se tem. e é isso que tenho feito, desde a sua ligação naquele domingo quieto. ouvir tua voz, Salvador, fez-me lembrar daqueles dias em que te conhecia e que, por manter o coração aberto, eu me reconhecia também. e isso vai me ser sempre tão valioso. 

ando com a cabeça um pouco cansada. o corpo às vezes querendo esmorecer... mas contou-me um vento veloz, que veio me encontrar pela tarede, que as coisas vão se transformar outra vez. e, em breve, todos os nós desfeitos, vão de novo ser laço. não sei quanto a ti, querido, mas digo por mim que será uma alegria infinita lhe ver outra vez.

sem ânsia, nem medo ou esperas. 
mas sempre com amor,
Alice.