domingo, 25 de agosto de 2019

. palavras alinhadas .

tinha jeito de gente que vem para nunca ficar.
achava mais difícil viver entre os dias de agosto, embora sempre carregasse um gosto tão particular pelo vento a tocar-lhe o rosto e lhe balançar os cabelos ao entardecer. sempre sozinha, costumava se afeiçoar às pessoas primeiro pelo riso, depois pelo tom de voz e só então pela forma como posicionavam as palavras: alinhadas, na concordância que direcionasse o próprio coração. amava as coisas da terra - cheiro, textura, cor -, mesmo vivendo entre as nuvens - cabeça, corpo, pensamento. tinha dia, até, que dizia que queria ser outra coisa: mais esperta, menos alma, mais pulso, menos respirar... achava que sofria, às vezes se escondia, pra que ninguém pudesse lhe ver, nem caçoar do seu jeito miúdo de viver sempre em pausa. gostava de pensar que, enquanto nela é primavera, em um outro continente as ruas se colorem d`um amarelo alaranjado bonito, em um ar ameno do seu tempo de ano preferido. vivia de achar doce a ideia conjugada no verbo recomeçar e nunca teve medo quando um abismo lhe dizia: junta o que sobrou de ti e vai! há um tempo, no entanto, danou de achar que o amor, tão arteiro e escorregadio, fosse coisa feita pros seus sentidos: olhos, passo, certeza... e amou: coisa de uma vez na vida, tempo contado de infinito, lembrança que não se apaga. amor fez dela gente que não se faz de permanecer, mas que avoa pelos instantes de brisa e depois retorna, pra sua doce e desenhada solidão, bordada em cores vivas e fita amarela de cetim.