segunda-feira, 28 de março de 2016

[nota nº 28]

disseram-lhe, uma vez, que não deveria deixar de sonhar, acontecesse o que fosse.
e assim o fez... 
a cada dia escrevia um sonho novo no coração e, sem estipular hora, mês, ano, deixava cada um ali, na esperança de que se realizasse. 
e realizava. 
porque sonho é às vezes como margarida, como girassol: a gente coloca a sementinha na terra, rega todos os dias, cuida com carinho, até florir em cor.
hoje, a cada vez que abre a caixinha de memórias, se depara com um pequeno desejo que cresceu e, silencioso, se tornou real. do jeito que tinha que ser, superando o que fosse, deixando algumas marcas por dentro, com a delicadeza de curar qualquer medo que viesse a se transformar em dor... 
em dias como esses, em que a gente não sabe muito que rumo tomar; nem do que se arrepender; nem que lembrança curar; que a gente não perca, então, a poesia... a esperança... o amor... a fé... 
e que a gente não deixe nunca, nunca, de sonhar.
amém.




quinta-feira, 24 de março de 2016

[terceiro dia]

"é terrível a existência de duas retas paralelas porque elas nunca se cruzam. 
e elas apenas se encontram no infinito"



"porque você e eu, a gente é feito de matéria escorregadia.
isto é:
manteiga, azeite, geleia, espanto"

segunda-feira, 14 de março de 2016

.do verbo haver.

de tanto fazer e desfazer as malas, há de chegar o dia em que sentirás vontade de ficar. de criar raízes, de estabelecer laços, de pedir uma xícara de açúcar para a vizinha, de assar bolo de maçã aos sábados, de "pegar" uma praia aos domingos e ir ao teatro antes de anoitecer.

há de chegar aquele dia em que não questionarás mais a liberdade, sentindo orgulho da tua solidão. que te fez forte. que te deu coragem. que te levou lá longe. que te deu abrigo. que te salvou da dor. que te preparou pra ser uma boa companhia. pra si, pro outro, pra quem vai chegar.

há de chegar o dia, e eu sei que não demora, em que sentirás o desejo de pertencer... ao chão. ao céu azul. ao novo. ao velho. às ruas. às calçadas. aos prédios. aos jardins. ao amor. e não sentirás mais o desejo de partir. e terás motivo para ficar. erguer paredes. plantar rosas. pendurar quadros. abrir janelas. portas. coração. 

.de tanto fazer e desfazer as malas.

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quarta-feira, 9 de março de 2016

.do livro de cartas [já vai chegar o outono].

daqui a pouco é outono e eu já posso sentir seu sorriso daqui. 
não há mais o que eu possa dizer, Alice, a não ser pedir que me perdoe. 
é que eu não saberia corresponder ao seu amor doce, nem conseguiria complementar suas alegrias tristes. e eu sinto muito pela minha covardia. e entendo... se não quiseres voltar nunca mais.
talvez seja mesmo isso que deva fazer... seguir sua vida, construir seus sonhos, realizar seus planos, viver seus amores. pegar todas essas coisas bonitas que você vive e transformar em realidade. 

[essa é a sua chance do ano para ser feliz, querida]

você sabe. 
é assim. 
todos os anos, os outonos te entregam, em mãos, a chance de construir um caminho mais bonito, para conseguir enfrentar as outras estações e renascer pelo tanto que seu coração não suporta mais as destemperanças do verão.

por isso, peço que não se guarde nesse choro e me esqueça, se for preciso. vai dar tudo certo, eu te prometo! um dia [até] eu corro e te alcanço, quando a gente não precisar mais sofrer para chegar em nosso destino. por enquanto, te deixo e isso é tudo que posso te dizer. me guarde em mágoa, mas por favor, não tenha dor ou ódio do amor...

um afago em sua alma.
Salvador.

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