domingo, 9 de junho de 2019

. reticências .

não precisam de explicação as coisas que são pequeninas. 
não carece dizê-las que se tornem grandes, que sejam fortes, que se aprumem, que tomem jeito.
as coisas que são pequeninas não sabem viver assim, com a pressa, com o valor altivo dos espaços infinitos, com o barulho excessivo das ausências. 
elas precisam que o vento as tire pra dançar, de vez enquando, nas tardes que são de agosto. e que os jardins de girassóis brotem diante de toda primavera, colorindo de amarelo-sol aquilo que a gente chama apressadamente de "passar do tempo"...
aprenderam, assim tão pequeninas, a não ocupar espaço demais;
a se preencher de vazios e silêncios;
a escrever poemas e rimas que cantam a solidão;
a catar estrelas com a ponta dos olhos...
não são bobas ou de menos valor, as coisas que são pequeninas.
embora pareçam ser: foscas como terra seca; ingênuas como flores brancas; apagadas com manhãs acinzentadas.
mas quem lhes souber ver o coração, vai receber das coisas que são pequeninas, 
confortáveis gestos de delicadeza, 
como passos milimetricamente juntos, dedos entrelaçados e um jeito sempre simples de dizer:
"ei, eu vou estar sempre aqui".
ou algo tão parecido com o amor, que é capaz até de, distraidamente, se confundir os verbos e os jeitos de infinitivo...



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