nesses meus dias, de sentir saudade de tudo, faço pouco (ou quase nada) pra que ela vá embora. compreendo que, no fundo, somos feitas uma da outra. damos importância a coisas pequeninas, enxergamos formas nas nuvens, colecionamos poemas, guardamos fotografias quando elas revelam flores... porque saudade é um tanto diferente de falta. não tem sinônimo: é feita dela e só. não é como a lembrança, que a gente substitui facilmente por uma ou outra memória. saudade não tem troca, nem se faz por aparências ou ilusões. existe porque quer existir, e carregar a gente nela é sua forma de dizer sem causar espanto e de ser sem tremura...
...tem um pouco de jeito de se alojar pelos dias bonitos, aqueles que são bem vividos... um reflexo, ainda que meio embaçado, das horinhas de descuido em que fomos felizes... por isso, quando ela vem, sendo singular ou plural, dou-lhe asas, silêncio e pouca pressa. existo nela também, no meu jeito meio lento de viver, os olhos carregados de imensidão, um amor sentido por essa chance de companhia, a certeza de guardar dentro dela as partes mais bonitas do caminho...
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