cê tinha olhos de gente que chega pra ficar por um tempo
que a gente não mede, mas torce pra que não seja breve.
[pausa]
não entendo.
só sei que foi o suficiente pra que cê escrevesse dois poemas inteiros e um verso incompleto, sem rima ou qualquer cor.
- as palavras são incolores - você disse.
- eu vejo vida e sentimento em tudo - te respondi.
foi aí que a gente desandou.
e começou a nossa sucessão de erros.
enquanto cê preferiu ficar suspenso, eu agarrei todas as incertezas e levei-as pra dançar, nessa confusão toda que é viver.
ousei palavras difíceis como reciprocidade, entendimento e tempo.
só que cê preferiu retribuir com silêncio, vazio e distância.
mesmo sabendo que são essas as três coisas que mais me ferem, além das minhas próprias escolhas.
- eu não sei fazer rima - já tinha te dito.
- gosto da solidão - você me advertiu.
e eu deveria ter entendido que algumas coisas precisam de pressa.
outras, de espaço.
- o meu tempo é diferente do seu - conclui.
- as portas estarão sempre abertas - você se despediu.
[recomeça]
desde então, eu sinto todo dia uma vontade grande de entrar.
te pegar pela mão e mostrar que vai ficar tudo bem, mesmo quando já não for mais carnaval.
mas aí, lembro que o caminho sempre apontou a minha partida, que ainda é só o começo do verão e que não estarei mais por perto na próxima primavera.
porque seus olhos de espera, me ensinaram que é sempre cedo demais para querer ficar...
Um comentário:
que lindo, gostei muito da forma leve que colocaste um sentimento doloroso que a incompatibilidade às vezes traz, a gente às vezes também se molda pra se encaixar a qualquer custo na vida do outro /: quando no fim nós sabemos que aquilo caminhará para o fim mais rápido do que gostaríamos
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