terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

. do livro de cartas . de volta ao começo .

É bom escrever pra você, Salvador. Mesmo que nunca compreenda porque escrever para alguém que não se vê mais e de quem se tem poucas notícias. Mas alivia. Torna a respiração mais leve e os pulsos mais delicados. Deixa as manhãs mais claras e ameniza a espera por outro outono. Esse verão foi longo demais, não achou? Teve dias em que eu pensei que seria pra sempre assim e que a gente nunca mais poderia pisar nas folhas secas, nem colher a melancolia dos domingos entardecendo. Porque são por demais melancólicos os domingos de outono... são mais solitários que todos os outros pra mim. Mas existe algo bom nessa melancolia e é o mesmo bom que a gente vê na solidão, no sofrimento e no céu adormecendo sem estrelas. E você vai me dizer que não vê nada bom nisso e eu vou te responder que existe sim e que eu chamaria “adultamente” de amadurecimento. Você amadurece, porque precisa se encontrar de alguma forma quando se está só. Daí sofre. Dói. Desaparece. Mas aprende a olhar com os olhos de dentro. Cria invariáveis. Respira. Pensa. E vê que a vida é mais doce quando se tem melancolia.
Não me tranco em casa quando é outono, você bem sabe. Gosto das praças e das pessoas, ambos em seus entardeceres. Penso que algumas delas (dessa vez falo só das pessoas), não conseguem perceber. Não as culpo, sabe. Afinal de contas, viver é isso, não é mesmo? Um amontoado de coisas desconhecidas, passando rapidamente por nossa frente, a todo tempo, sem que consigamos alcançar. Não quero que seja assim pra sempre, Salvador. A gente sempre combinou que seria diferente, apesar de. E dessa vez eu prometi (cheia das minhas convicções), que seria. Por isso ando economizando um trocado aqui, outro ali, e vou ver você quando ainda for outono. Esse outono. Daí, se quiser, pode vir comigo pelos outros, que já tenho nota, escala e cor definidas pra seguir. Sim Salvador. A vida não é aqui. E ainda não é essa. Mas aos poucos, vai tudo se ajeitar. E eu acredito cheia de uma esperança branquinha, como essa paz de lhe escrever.

'Pour y arriver! Ainsi soit-il...'
 
(e uma canção que guardei pra você durante todo esse tempo... Morning Benders "Promises")

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