segunda-feira, 9 de maio de 2011

Das transformações...

(dedico a uma pessoa que não via há um bom tempo e tive a alegria de rever esse fim de semana.
Fui ouvindo uma história e a traduzi assim...)

Era preciso fazer um esforço enorme para acordar pela manhã e fingir que nada estava acontecendo.
Preparar o café, lavar os olhos, escovar os cabelos e os dentes, escolher uma roupa, abrir a cortina... tudo isso tinha um peso danado diante das circunstâncias em que vivia.
Fazia duas semanas que ela constatou que o amor não acaba e apenas três dias que descobriu que ele se transforma, como haviam lhe explicado (da maneira mais dura) há alguns anos atrás.
Sim... se transforma em qualquer coisa que a gente não sabe bem explicar o que é, mas que é muito, mas muito mais pesado que o Universo inteiro colocado delicadamente sobre nossos ombros. E dói... mais até que aquele corte no joelho do primeiro tombo no parquinho da escola; mais até que espinho ou caco de vidro fincado fundo no calcanhar.
E dói mais porque não acontece de um dia pro outro. É aos pouquinhos, bem devagar e a gente só percebe de verdade, quando o abraço já nem faz tanta falta e quando a ternura e o carinho se misturam tanto à ausência do tempo, que não sabemos mais distinguir qual é o mais importante na vida.
E quando as palavras são tão cautelosas, ao ponto de pensar primeiro antes de dizer... não por aquela fórmula que a gente aprende quando criança de “cuidar das palavras para não magoar o outro”, mas por uma norma nova de cuidar-das-palavras-para-não-magoar-a-si-mesmo porque ação tem reação, porque pode desagradar, porque a gente desaprende a ser a gente mesmo e fica cuidando o tempo todo de ser um pouco diferente pra entrar no ritmo do outro e esquece que se pode dançar ou tocar a mesma música de jeitos diferentes, cada um a sua maneira...
e esquece que amor é coisa leve, é dividir, é celebrar, é cuidar o tempo todo para que tudo corra bem, é agradecer todos os dias com um sorriso pela alegria que se tem ao lado. Esquece que para se amar direito é preciso ter uma das mãos livres para segurar a do outro mesmo que ele saiba atravessar a rua sozinho. Esquece que os passeios de 30 minutos em qualquer lugar que se vá a pé, pisando pelas folhas secas das tardes de outono, são tão importantes para clarear e acalentar a alma. Esquece que é preciso um coração aliviado, mesmo que cheio de traumas e medos, mas que queira continuar batendo para descobrir que a cada segundo, a vida traz um novo presente, uma nova experiência, uma nova canção.
E é quando um esquece de tudo isso e o outro ainda lembra a todo instante, que o amor se transforma. E a gente resiste a todo tempo e vai indo, resistindo e indo até não restar mais nem uma gota sequer de amor primeiro: só fica o transformado. E a gente chora todos os dias e espera ainda que tudo volte ao normal, que resista mais um pouco, que o silêncio não seja mais bonito, que os planos feitos só não sejam mais confortantes que os construídos a dois, que ainda existam fotografias para serem tiradas, músicas para serem tocadas, textos para serem escritos, sonhos para compartilhar...
Aí enquanto ela chorava por dentro ele dizia que estava tudo certo, que eram exageros e ela, foi se esquecendo que a vida mesmo que vale, é a de ser sonhada com calma e delicadeza. E aquilo ali não era sonho mais. Era dura, pura e inconsolável realidade, de um amor que se transforma deixando morrer qualquer chance de perdão.

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