quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Sobre o dia ter amanhecido cinza e o sol querer aparecer

    "Dançarás- disse o anjo- Dançarás com teus sapatos vermelhos... 
    Dançarás de porta em porta... Dançarás, dançarás sempre."
    (Andersen: Os Sapatinhos Vermelhos)

Pelas frestas da janela, entravam pequenos raios de sol que iluminavam a casa toda. De alergia, lacrimejava os olhos e espirrava continuamente sem conseguir parar. Estava introspectiva e já fazia tempo. Falava pouco, quase nem cantava mais e lia, muito! E ouvia também. Adquiriu com o tempo o maravilhoso dom de ouvir, seja uma música bonita ou qualquer desejo, pedido, tristeza ou prazer alheio, sem ousar um conselho sequer.
Havia os que viam nos seus olhos e na sua solidão aumentada, um pouco de melancolia e nostalgia. No entanto, era tudo uma questão de prática! De olhar pra dentro e descobrir as verdadeiras razões e sensações da vida e ficar lá por um tempo, para aproveitar a calmaria tão inconstante do próprio coração.
Até nos momentos de pura indelicadeza (costumava aumentar o tom de voz sem querer ou ser agressiva com palavras sutis e mal colocadas) conseguia enxergar a própria salvação. A partir do momento que percebe-se os próprios erros, o caminho vai ficando mais claro e começa então a ficar mais fácil perceber pra que lado direcionar o próximo passo, sem jogar o próprio corpo num grande abismo. E o mais importante, é que toda a inquietude foi transformada em pequenas doses azuladas de certezas e esperanças, que preenchiam os espaços acinzentados do céu de janeiro.
“Chega logo o outono”, desejava. “Tá faltando amarelo na minha vida.”, dizia. “Colore, pinta, faz um desenho bonito. Que a vida é curta demais pra se chorar desilusões por muito tempo...”

Um comentário:

Karine Melo disse...

Que lindo tudo isso que vc escreveu!!

um beijo ;*