quinta-feira, 19 de julho de 2018

. singularidades .

às vezes sou tomada por pequenas saudades... nesses dias, sinto saudade de tudo: do café que esfriou na xícara, do livro que terminei de ler há três dias, do amor que senti quando tudo era manhã, dos lugares por onde passei, dos amigos que moram longe e também daqueles que estão por perto. passo dias assim, vivendo dentro de pedacinhos de saudade que eu nem sabia que existiam. falo pouco sobre mim, porque nesses dias não sou muito minha. falo pouco sobre tudo, porque perco também o jeito que me resta de falar das coisas do mundo. fico aqui: dentro dessa saudade que muito me rouba, sem sequer me pedir nada em troca.

nesses meus dias, de sentir saudade de tudo, faço pouco (ou quase nada) pra que ela vá embora. compreendo que, no fundo, somos feitas uma da outra. damos importância a coisas pequeninas, enxergamos formas nas nuvens, colecionamos poemas, guardamos fotografias quando elas revelam flores... porque saudade é um tanto diferente de falta. não tem sinônimo: é feita dela e só. não é como a lembrança, que a gente substitui facilmente por uma ou outra memória. saudade não tem troca, nem se faz por aparências ou ilusões. existe porque quer existir, e carregar a gente nela é sua forma de dizer sem causar espanto e de ser sem tremura... 

...tem um pouco de jeito de se alojar pelos dias bonitos, aqueles que são bem vividos... um reflexo, ainda que meio embaçado, das horinhas de descuido em que fomos felizes... por isso, quando ela vem, sendo singular ou plural, dou-lhe asas, silêncio e pouca pressa. existo nela também, no meu jeito meio lento de viver, os olhos carregados de imensidão, um amor sentido por essa chance de companhia, a certeza de guardar dentro dela as partes mais bonitas do caminho...


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