tag:blogger.com,1999:blog-36134694698538656502024-03-13T14:40:35.567-07:00.as cores dela.[para as coisas que não sei dizer, escrevo]Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.comBlogger632125tag:blogger.com,1999:blog-3613469469853865650.post-19274418062403294742021-08-28T14:00:00.002-07:002021-08-28T14:00:16.934-07:00. despedida . ou o tempo das pausas .<p><i>era agosto de 2009 quando, movida pelo amor e pelo afeto, eu abri espaço aqui, neste cantinho, pra guardar minhas palavras. </i></p><p><i>por aqui, fiz amigos. aqui, desaguei inúmeras vezes e entendi que, realmente, algumas coisas só saem da gente por escrito. </i></p><p><i>criei personagens e contei, através deles, uma história de amor tão minha, que acabou sendo de muitas outras pessoas. e isso tanto me confortou. sentimento bom é aquele compartilhado, dividido, capaz de se encontrar pelo reflexo do outro. é nisso que acredito...</i></p><p><i>mas sabe: há alguns meses - pra ser sincera, há quase um ano - eu deixei de me encontrar aqui. não porque as palavras deixaram de ser minhas amigas, mas porque o amor que foi tantas vezes minha razão de existir neste espaço, fez as malas de repente, se mudou sem dizer adeus e deixou marcas profundas no meu coração. feridas que permanecem abertas, ainda distantes de virar cicatriz. </i></p><p><i>e por isso, escolhi este quase fim de agosto pra encerrar o ciclo de doze anos do . as cores dela . é preciso, sabe? faz parte do processo de cura abrir espaço no coração pra que novas palavras se transformem em poesia. eu não sei o que virá depois. talvez a gente renasça com o mesmo nome, mas de um jeito diferente, em um outro lugar que não aqui. talvez a gente tenha coragem de assumir nosso próprio nome e se encontrar entre as diversas formas da palavra em um tempo cheio de novidades. talvez a gente volte, com toda força, em um momento de mais encontro...</i></p><p><i>por hora, continuarei me preservando entre silêncios. e, às vezes, espalhando estrelas soltas em outros cantinhos. não foi fácil tomar essa decisão. mas em uma conversa com minha querida terapeuta, pude enxergar com clareza e carrego no peito a sensação de ser a escolha mais acertada. </i></p><p><i>te agradeço por ter seguido comigo até aqui... certamente, cê é um pedacinho bom da nossa história e eu serei sempre grata por isso. não é um adeus. eu continuo ali, no <a href="https://www.instagram.com/deboragtomaz_/" target="_blank">@deboragtomaz_ </a>e no emaildadeboragomes@gmail.com. e, por enquanto, este espaço continuará aberto, como um baú de memórias... </i></p><p></p><div style="text-align: right;"><i>"a sorte é como o Tour de France, </i></div><i><div style="text-align: right;"><i>esperamos tanto e passa tão rápido.</i></div><div style="text-align: right;"><i>quando chega a hora, precisa saltar sem hesitar"</i></div><div style="text-align: right;"><i>- o fabuloso destino de amelie poulain.</i></div></i><p></p><p style="text-align: right;"><i><br /></i></p><p style="text-align: right;"><i>obrigada!</i></p><p><i><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><br /></p>Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3613469469853865650.post-58930235489052912752021-08-02T12:40:00.002-07:002021-08-02T12:40:13.868-07:00. [do livro de cartas] de volta ao amor .<p style="text-align: justify;"><i> querida Bisa,</i></p><p style="text-align: justify;"><i>é verdade quando dizem que o silêncio não combina com a gente. mas eu precisei, Bisinha. precisei deixar o vazio me preencher todo o lado de dentro, para só então conseguir vir aqui - nesse agosto de deus - te escrever algumas linhas. e contar do frio que fez nos últimos dias, do ipê amarelo da rua começando a virar flor, dos olhos verdes do moço que, por vezes, parecem me ensinar um pouco sobre o amor. mesmo diante da minha curta disposição em aprender. </i></p><p style="text-align: justify;"><i>também continuo a pensar no quanto viver é cuidadoso. ganhei medos novos, aumentei algumas distâncias. e já consigo delicadamente esquecer diversos espaços do tempo que passou. no entanto, Bisa, em outras vezes pareço ter me perdido… talvez seja a ausência da escrita. ou ao contrário: pode ser que ela tenha escolhido se ausentar por causa da minha perdição. eu colocaria a culpa em Salvador se ainda tivesse forças, sabe? mas não tenho. e danei de entender que toda a responsabilidade da vida é minha. e de certo ponto, isso só pode ser bom… </i></p><p style="text-align: justify;"><i>a verdade é que, tentando seguir, descobri que posso ir, aos pouquinhos, voltando a ser. e não sei até onde isso vai. só sei que o tempo aqui, enfim, tem sido a vida que sempre desejei: posso ouvir os passarinhos cantando. tenho pessoas a me sorrir pelas ruas. algumas já sabem me chamar o nome. a solidão não mais me assusta. e caminhar, então, por vezes parece colocar asas em meus pés.</i></p><p style="text-align: justify;"><i>eu não sei, Bisinha, até onde isso vai dar. porque melhor que ninguém, sabes que meu signo de libra com ascendente em sagitário, não me dá tanto tempo em ser raíz. mas eu tenho tentado, sem fazer esforço porque, de repente, não parece ser mais preciso fazer qualquer força: o curso das coisas está encontrando seus sentidos, como naquele clichê dos rios sempre a correr para o mar.</i></p><p style="text-align: justify;"><i>espero que tudo isso queira dizer alguma coisa. e que seja algo bom…</i></p><p style="text-align: justify;"><i>aqueça os pés, Bisinha. ouvi dizer que agosto será gelado quando chegar ao meio.</i></p><p style="text-align: justify;"><i><br /></i></p><p style="text-align: justify;"><i>com amor,</i></p><p style="text-align: justify;"><i>Alice.</i></p><div style="text-align: justify;"><br /></div>Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3613469469853865650.post-60106045571720932872021-03-01T15:48:00.007-08:002021-03-01T15:50:12.854-08:00. tudo pode, o nosso coração .<p style="text-align: justify;"><span style="color: #666666; font-family: courier;">quando criança, aprendi com minha avó o significado da palavra "alinhavar": usar agulha e linha pra dar pontos largos e marcar aquilo que a gente queria costurar ali, no tecido. vó alinhavava barras de calça, mangas de blusas, beiradas de vestido. tudo com as mãos. depois, cuidadosamente vinha a máquina de costura fazer seu trabalho de arrematar, costurar de verdade, colocar firmeza pra não soltar nada. eu nunca soube costurar. fiz até um curso uma vez, em uma associação que recebia nas tardes de terças e quintas-feiras, com café e biscoitos, senhorinhas mais velhas. saí de lá, depois de seis meses de curso, com duas saias e uma blusa, que elas costuraram pra mim enquanto me contavam histórias e se divertiam diante da minha juventude. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #666666; font-family: courier;">lá, no curso com as senhorinhas, eu alinhavei muito tecido. era a única coisa que eu dava conta de fazer de verdade. as saias costuradas por nóe tinham uma beirada de renda, um pouco de pregas as tornando quase rodadas. e era preciso medir, marcar, cortar tudo antes de passar a costura mesmo, da máquina. "aí a gente alinhava", elas me ensinavam. e eu fingia que não sabia porque sempre achei muito audacioso saber de todas as coisas. a ignorância, às vezes, pode ser uma dádiva. uma das nossas saias era branca. a outra, amarela com flores bem miúdas e distribuídas assimetricamente pelo tecido. como também nunca fui muito boa em quantidade, sempre comprava pano demais ou de menos. esse amarelo mesmo: sobrou de jeito que dava até pra se ter outra saia de outro modelo. mas eu não quis. um pouco porque já teria uma e duas às vezes é demais. outro pouco porque às quintas-feiras, se juntava a nós uma senhorinha que se encantou pelo tecido. aí eu o entreguei a ela, sem pensar mesmo. e ele virou uma blusa que alinhavamos juntas.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #666666; font-family: courier;">hoje, bastante tempo depois, quando eu penso em alinhavar, acho bem que fazemos isso com nossa própria vida. alinhavamos nossos passos antes de costurá-los com firmeza. pensamos nosso caminhar, ponderamos antes de ir adiante e só quando nos sentimos bem firmes, seguimos. às vezes, se não arrematamos direito, a costura solta. e é assim que aprendemos sobre a não existência da certeza ou sobre a bonita forma das coisas existirem além de nós. é assim que sabemos também que passamos a nossa vida inteira alinhavando nosso próprio coração, pra fazer dele inteiro, ainda que cheio de remendos das mais variadas cores...</span></p><p style="text-align: justify;"><br /></p>Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3613469469853865650.post-16264333182509695812020-11-19T16:24:00.004-08:002020-11-19T16:26:52.854-08:00. [do livro de cartas] vestido de esperança .<p><i> querido Salvador,</i></p><p><i>uma cigana leu nas linhas das minhas mãos que somos destinados um ao outro. achei bonito. e corri a lhe escrever este bilhete, porque no fundo, sei que cê também sabe. agora, aqui, pense comigo: quantas pessoas neste mundo tem a chance de encontrar suas pessoas preferidas em uma só existência?</i></p><p><i>talvez seja sorte, mas eu prefiro acreditar naquele fio fino que liga nossos corações e que, vez ou outra, tem a graça de virar laço e não se romper. veja bem, querido: são exatos 439 quilômetros que nos separam. e ainda assim, mesmo entre tanto tempo e tanta distância, ainda acho bom quando você telefona ou escreve, quando percebo uma fotografia tua sorrindo, quando me encarrego de lembrar do passado todos os dias pra que ele não se apague de mim...</i></p><p><i>já te disse e devo repetir, sobre o quanto tenho cuidado com a história que estamos ainda a escrever. e que me parece ser feita de infinito. porque é ela a me salvar quando tudo fica muito difícil ou quando tenho a impressão de que o mundo virou um espaço enorme de solidão. e aí, prefiro o despenhadeiro e a corda bamba de viver carregando ocê em meu coração, do que seguir sem esse amor pro resto de toda a vida.</i></p><p><i>certo, Salvador, é que gosto de acreditar mesmo na cigana principalmente quando ela tornou a dizer: "terás nessa vida só um amor. e ele já passou por ti"... cê acredita? eu sei que sim. e é por isso que reaprendo, todos os dias, a gostar dessa liberdade vestida de esperança. em ti...</i></p><p style="text-align: left;"></p><div style="text-align: right;"><i>com amor, </i></div><i><div style="text-align: right;"><i>Alice.</i></div></i><p></p>Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3613469469853865650.post-16364335142122954242020-09-29T13:01:00.002-07:002020-09-29T13:01:46.096-07:00. tempo de ipê .<p style="text-align: justify;"><i> .nessa época de setembro, os chãos que já tiveram sorte, ficam todos encobertos por sementes de ipê amarelo. cheias de leveza, elas dançam de um lado pro outro quando venta nas calçadas. destemidas, invadem as casas e os quintais de perto sem sequer pedir licença. esperançosas, aguardam que alguma chuva seja capaz de fazê-las brotar num seco chão qualquer que deseje receber mais vida. mas em setembro pouco chove. fica assim: esse baile de coisinhas miúdas, terra vermelha e céu azul, vistos por toda janela. pode-se limpar a casa todos os dias, que sempre estará suja. mãe diz que é normal, que antigamente também era assim, tudo seco demais desde agosto, embaçado que nem olhos de gente que pouco enxerga. mas me lembro que um dia, era um setembro diferente, e no dia primeiro de primavera, choveu. sei porque era teu aniversário: as cadeiras molhadas de festa que não acontecia porque chovia. cê nunca foi de ligar muito pra essas coisas, ao contrário de mim, que tenho sempre chuva e ausência em meus dias de novo ano. lembro também, como se fosse hoje: cê subiu as escadas depressa e eu achei que ia era tirar tudo, a festa toda, de lá do terraço pra que não molhasse. mas do seu jeito sempre aberto, cê ficou lá parado, quieto, sorria miúdo, na parte pequena que era coberta, olhando a chuva caindo, caindo… eu nem tive coragem de xingar, de dizer que as pessoas fossem mesmo assim, ou de abrir a porta pra que elas pudessem entrar: era tudo tão bonito do jeito que tava, que eu fiquei parada do seu lado direito, compreendendo porque é que eu nunca tinha ido embora. e porque é que jamais iria. desde então, nunca mais choveu em setembro, com exceção desses últimos dias de inverno desse ano esquisito. fez frio. eu olhava o ipê da minha rua, pela janela, e via que as sementes continuavam seu ciclo de voar no vento, pousar em quintais, esperar brotar… e pensava, então, que fizesse chuva ou fizesse sol seco, as coisas, as mais importantes, insistiriam em existir. assim como o ipê amarelo que mora na rua de casa. assim como o amor vivo que ainda mora dentro de mim...</i></p><div style="text-align: justify;"><br /></div>Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3613469469853865650.post-24748185955939855972020-09-21T11:53:00.002-07:002020-09-21T11:53:27.537-07:00. modo de ver .<p style="text-align: justify;"><i> ficava olhando as coisas daqui de cima e achando estranho que elas só existissem ali, onde eu estava. era com quase tudo assim: vento, chuva, verso, sentimento, gente. vez enquando, inventava umas palavras como desver, deslembrar. sempre tirando um pouco das coisas que existiam, como se as pudesse apagar. </i></p><p style="text-align: justify;"><i>mas tem maneiras de estranheza que não se apaga, tipo coração partido ou remédio demais tomado pra dormir. que nem pôr de sol também: só se vê uma vez porque mesmo acontecendo todo dia, viver é um instante por vez e as coisas do céu nunca se repetem, ainda que entre tantos dias de olhos parados no mesmo ponto. </i></p><p style="text-align: justify;"><i>ponto: aquilo que cê marcou no chão pra que eu pudesse um dia ter pra onde voltar. mas que eu nunca soube e por isso mesmo passei todo o tempo do mundo andando em círculos, passando um monte de vezes pelo ponto marcado, sem sequer acertar por nem saber que ele estava ali. foi aí que eu sobe, em uma manhã quente de ainda inverno, que tinha acabado. </i></p><p style="text-align: justify;"><i>porque não dá pra atravessar todas as estradas da gente, a vida inteira, sem inaugurar algo novo do lado de dentro. e sem perceber aquilo que sempre esteve, porque vai ver nunca existiu. ao menos não daqui de cima, de onde tudo lá embaixo só sobrevive por querer. ou pelo meu modo de ver...</i></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-fjSGGV5Lhk8/X2j2gvg7dKI/AAAAAAAABwc/o1HwB3kkyKEJrMKDoMu-3OH79pN0zSCigCLcBGAsYHQ/s596/da3cd7398840a860363f4dc7a2fdfcc5.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="596" data-original-width="564" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-fjSGGV5Lhk8/X2j2gvg7dKI/AAAAAAAABwc/o1HwB3kkyKEJrMKDoMu-3OH79pN0zSCigCLcBGAsYHQ/s320/da3cd7398840a860363f4dc7a2fdfcc5.jpg" /></a></div><br /><i><br /></i><p></p><p style="text-align: justify;"><br /></p>Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3613469469853865650.post-62934930619883389552020-04-09T07:42:00.001-07:002020-04-09T07:42:31.776-07:00. [do livro de cartas] voltar sempre a dançar .<i>querida Bisa,</i><br />
<i><br /></i>
<i>os tempos ficaram um tanto diferentes. onde é que já se viu não poder ir à rua nas tardes de outono? fico pensando em como seria se estivesses aqui, pairando nesses silêncios. sei que me dirias qualquer coisa relacionada ao tempo e à voz do nosso coração... mas devo lhe dizer, ainda, que sobre isso já aprendi. e, no entanto, continuo um tanto aflita, buscando algumas respostas que bem sei: não existem...</i><br />
<i><br /></i>
<i>penso que se Salvador não tivesse partido, talvez a companhia dele faria com que eu me lembrasse das leis do universo e da força dos astros. e assim o mundo voltaria a ser leve. mas já combinei comigo, Bisa, que dessa vez aprendo a conviver com essa ausência, que me é presente há tantos verões. não o escrevi, também não telefonei. soube pelos recados do vento que os números mudaram e, nem assim, fui tentar saber sobre eles. guardei pra mim os meus sentidos, pensando em fazê-los aprender que é esse o amor que importa agora... e penso, aqui, que talvez nós dois tenhamos escolhido, assim, partir...</i><br />
<i><br /></i>
<i>vez enquando, até chego à janela... ouço os vizinhos em suas alegrias, penso em como é bonito viver isso da união, dos sorrisos, da partilha do amor, ainda que ele se transforme às vezes em algumas farpas. penso também que passaremos por tudo isso, quando aprendermos a transformar nosso lado de dentro. "orações e meditações ajudam", cê bem me diria. "mas eles só não são capazes de salvar a gente da própria mesquinharia. é preciso que a gente aprenda a se olhar por dentro, pra que só então volte a valer tudo isso que nos é ofertado de maneira gentil". </i><br />
<i><br /></i>
<i>volto a pensar no outono, nas luzes alaranjadas enfeitando a varanda dos fundos, na forma de existir em mais calma e menos dor. </i><br />
<i><br /></i>
<i>há de existir um tempo em que a gente vai poder pisar o chão sem medo dos pés descalços. </i><br />
<i>e voltar sempre a dançar...</i><br />
<i><br /></i>
<i>com amor,</i><br />
<i>Alice</i>Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3613469469853865650.post-73870112328085738842020-03-02T16:41:00.000-08:002020-03-02T16:41:09.995-08:00. [do livro de cartas] viver de mim .<i>Querido Salvador,</i><br />
<i><br /></i>
<div style="text-align: justify;">
<i>desde que cê foi embora, dessa que eu suspeito ser a última vez, não tive coragem de lhe escrever. parecia, aqui dentro do meu peito, que alguma coisa estava a se desfazer aos pouquinhos. e eu, sempre tão supersticiosa, achei prudente me encolher cada vez mais pra dentro, como se assim eu pudesse encontrar um jeito mais fácil de viver. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>acontece, Salvador, que eu não consegui mais sair desse lugar de pequeneza porque passei a ter medo de encontrar qualquer coisa que se assemelhasse a ocê, quando eu chegasse num ponto de ver grandezas. e aí, já se viu: de encolhimento em encolhimento, passei a não mais me reconhecer. danei de entrar nuns lugares escuros, e de viver uns vazios de gentes que, a meu ver, ainda não aprenderam o amor. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>porque assim: aos trancos e também barrancos, eu aprendi. que amor, amor mesmo, é aquela coisa da gente se importar, de ter afeto, de escrever carta, de estender a mão, de dividir a dor, de partilhar o sorriso, de viver de simplicidade e estrelas. cê há de convir comigo que assim é bem mais fácil. mas acontece também, Salvador, que o mundo todo acha que é complicado, assim como ocê passou a achar que era. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>de uma hora pra outra, cê foi ficando igual às pessoas que não se importam. e que levam dos olhos da gente, nosso único brilho de ver lá fora. e aí eu chorei. um choro que, se existisse mesmo, daria pra encher um pote daqueles grandes do seu doce preferido. mas eu, de tanto me cansar de rastros rasos, achei melhor pensar que lágrima tem mesmo gosto de mar. e me tornei infinita. perdoe se não aguardo mais a tua ligação. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>por enquanto, eu só preciso viver de mim…</i></div>
<i><br /></i>
<div style="text-align: right;">
<i>continua sendo com amor,</i></div>
<div style="text-align: right;">
<i>Alice</i></div>
<div style="text-align: right;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: right;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: right;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: right;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-fWijpF8nFoM/Xl2nnRUyUVI/AAAAAAAABtQ/GAT-wgIIXroGk1UcgobVu6PaJAW0XVnuACLcBGAsYHQ/s1600/4db46ebd76fc243af63384825f9732f8.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="564" data-original-width="564" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-fWijpF8nFoM/Xl2nnRUyUVI/AAAAAAAABtQ/GAT-wgIIXroGk1UcgobVu6PaJAW0XVnuACLcBGAsYHQ/s320/4db46ebd76fc243af63384825f9732f8.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: right;">
<i><br /></i></div>
<i><br /></i>
<br />Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3613469469853865650.post-56862855514577865912020-02-28T16:27:00.002-08:002020-02-28T16:27:47.141-08:00. poema curto .<div style="text-align: right;">
<i>[para quem está sempre a partir]</i></div>
<i><br /></i>
<i>não se sabe a medida exata dos começos. </i><br />
<i>é difícil.</i><br />
<i>quando a gente percebe, já está inteiro lá,</i><br />
<i>dentro de uma nova história.</i><br />
<i><br /></i>
<i>vivo de histórias novas o tempo todo.</i><br />
<i>parece que elas preferem dançar dentro de mim</i><br />
<i>do que do lado de fora</i><br />
<i>onde tudo o que é real</i><br />
<i>realmente acontece.</i><br />
<i><br /></i>
<i>- não dá pra saber o que é real.</i><br />
<i>(você me diria)</i><br />
<i>e mesmo assim, </i><br />
<i>mesmo sabendo de cór todas as suas falas</i><br />
<i>eu ficaria feliz em ouvir a tua voz</i><br />
<i>ecoando em minhas noites de chuva</i><br />
<i>e tanto silêncio.</i><br />
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: right;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-FdpWQ0cYFrw/Xlmv7LAGgXI/AAAAAAAABtE/DYO7aEzfa4wC-dWgeDGtM4TTuMlydMu3gCLcBGAsYHQ/s1600/35d4a23e1e96c995c16d27fd2bed23e5.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="705" data-original-width="564" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-FdpWQ0cYFrw/Xlmv7LAGgXI/AAAAAAAABtE/DYO7aEzfa4wC-dWgeDGtM4TTuMlydMu3gCLcBGAsYHQ/s320/35d4a23e1e96c995c16d27fd2bed23e5.jpg" width="256" /></a></div>
<i><br /></i>Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3613469469853865650.post-5695416884820367562020-02-12T16:30:00.000-08:002020-02-12T16:30:05.325-08:00. [rascunhos] part.ida .<i>[para ouvir este texto, <a href="https://soundcloud.com/user-500947698/rascunhos-partida" target="_blank">clique aqui</a> <span style="font-size: x-small;">♡ </span>]</i><br />
<i><br /></i>
<i>propuseram-nos dias para tratar do esquecimento. </i><br />
<i>era preciso, entre um desajeito e outro, estabelecer uma distância comum, conter o desejo da fala, controlar a ânsia da voz, medir a pressa do sonho. </i><br />
<i>eu, que nunca fui muito boa em esquecer nada que vive do lado de dentro, passei dias de profundo silêncio. </i><br />
<i>em que cortei os dedos com faca de cozinha, </i><br />
<i>queimei a língua com chá de camomila, </i><br />
<i>quebrei os óculos que mais gostavas, </i><br />
<i>manchei de lavanda minha única roupa branca. </i><br />
<i>tudo por andar distraída, nessa ideia de que partir, não sendo mais novidade, deveria ter se tornado em mim, uma tarefa habitual. </i><br />
<i>como o café que se toma ao acordar, </i><br />
<i>como os sapatos que se calça antes de ir à rua, </i><br />
<i>como a mão que toca as rosas de jardim só por achá-las bonitas demais para permanecerem apenas nos olhos. </i><br />
<i>fala-se muito sobre deixar ir, sobre obedecer as nossas vontades e respeitar a nossa individualidade. </i><br />
<i>mas, há de convir comigo que, muitas vezes, a gente só quer permanecer. </i><br />
<i>sem qualquer regra ou sintoma de adeus, </i><br />
<i>sem qualquer força ou coragem nos pés, </i><br />
<i>sem qualquer padecimento ou velocidade na alma. </i><br />
<i>não se pode ter, no tempo, o amor e a destreza presos em uma mesma frase. </i><br />
<i>mas se pudesse, daria a minha vida (e também a tua) para que as memórias encontrassem uma maneira de fim...</i><br />
<i><br /></i>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: right;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/--Db6-HyZIqY/XkSYcYkDvgI/AAAAAAAABs4/n_ajUe81xMQRk12HiwED-2uqdSbmeuYiACLcBGAsYHQ/s1600/97e7ccd4628d05f83d8fcf87fe014bea.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="625" data-original-width="564" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/--Db6-HyZIqY/XkSYcYkDvgI/AAAAAAAABs4/n_ajUe81xMQRk12HiwED-2uqdSbmeuYiACLcBGAsYHQ/s320/97e7ccd4628d05f83d8fcf87fe014bea.jpg" width="288" /></a></div>
<i><br /></i>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: right;">
</div>
<i><br /></i>Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3613469469853865650.post-36578645058341043892020-01-15T08:27:00.000-08:002020-01-15T08:27:04.820-08:00. devagar .<div style="text-align: justify;">
<i>é certo que estou demais a pensar na posição dos astros, desde que ocê se foi. fico daqui imaginando até onde é que vai o infinito e se, chegando lá, não haverá de existir uma curva que aparece só pra reiniciar tudo o que envolve a nossa noção de fim. não possuo a resposta pra todas as coisas. no entanto, bastaria que todo esse turbilhão de silêncio passasse, pra que eu então pudesse ir embora sem pensar no que é certo ou errado, nem no que senti. verdade mesmo, é que aprendi a duras penas que a ausência de respostas pode ser muito mais dolorida do que um não ou um sim: ninguém deveria existir na dúvida do que poderia ter sido, quando se há ainda coragem para o ser. mas daqui, debaixo desse céu que me brilha em estrelas quando às vezes anoitece, eu desisti de esperar por milagres e de desejar que existam abrigos tão luminosos quanto um sorriso teu. não careço de muito pra viver: um pouco de papel, alguma caneta com muita tinta, um tanto de solidão, a espera por meus outonos. algumas coisas não devem ter a ver com a forma com que os planetas se organizam. mas às vezes, eu gosto de acreditar que sim...</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: right;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-LV1dRO9e8nk/Xh89MALHO7I/AAAAAAAABsk/nX4Py6cknSY5N8GgQCGurbu2MecfOLHZQCLcBGAsYHQ/s1600/bfb310eaea104e43e9af23110dea6ad1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="564" data-original-width="564" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-LV1dRO9e8nk/Xh89MALHO7I/AAAAAAAABsk/nX4Py6cknSY5N8GgQCGurbu2MecfOLHZQCLcBGAsYHQ/s320/bfb310eaea104e43e9af23110dea6ad1.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3613469469853865650.post-77116209482843407242019-11-28T13:00:00.000-08:002019-11-28T13:16:58.494-08:00. pequenices de amour .<span id="docs-internal-guid-cbe4b5ed-7fff-eca5-579f-cd5cb991a790"><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">quando lhe encontrar o amor, abra-lhe os braços. </span></i></span></span><br />
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">e ofereça-lhe seu tempo, sua ternura, seu bem-querer.</span></i></span><br />
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">não o deixe partir sem antes saber que existiu em ti, que fez sol no mundo inteiro desde que ele surgiu das tempestades, que tornou-se mais fácil o respirar.</span></i></span><br />
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">não deixe que parta de ti o amor, sem que ele saiba que fará tanta falta quanto fez nos dias que antecederam o seu chegar.</span></i></span><br />
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">e que agora, conhecido em ti, saberás também o gosto que há entre as ausências e as gargalhadas das manhãs de vazio...</span></i></span><br />
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></i></span>
</span><br />
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">quando lhe encontrar o amor, não permita que ele parta sem antes saber que,</span></i></span></span><br />
<br />
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">até então,</span></i></span><br />
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">contados todos os anos e os desencontros,</span></i></span><br />
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">foi ele,</span></i></span><br />
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">então,</span></i></span><br />
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">a coisa mais bonita que lhe aconteceu,</span></i></span><br />
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">mesmo que tenham aprendido os andores e os rumores de uma anunciada dor...</span></i></span><br />
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
</span>
</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-V4fZnvEHrWE/XeA1KjAGofI/AAAAAAAABsM/hPUqxBuxHg0Fol9jrDYtGwQcYZ7C_y4QQCLcBGAsYHQ/s1600/1524a58161fd1711e748a1d49400a5ee.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><img border="0" data-original-height="1003" data-original-width="564" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-V4fZnvEHrWE/XeA1KjAGofI/AAAAAAAABsM/hPUqxBuxHg0Fol9jrDYtGwQcYZ7C_y4QQCLcBGAsYHQ/s320/1524a58161fd1711e748a1d49400a5ee.jpg" width="179" /></span></a></div>
<span style="font-family: "arial"; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i><span style="font-size: x-small;"><br /></span></i></span>Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3613469469853865650.post-87084636045985933292019-11-11T05:12:00.001-08:002019-11-11T05:12:21.960-08:00. até a próxima saudade .<div style="text-align: justify;">
<i>ei, eu sei que anda meio hard falar de amor. ou de qualquer outra coisa que nos comprometa além da nossa liberdade inventada. mas olha, se cê parar pra pensar, 15 anos não são 15 dias. e é óbvio que eu senti tanta saudade: e isso não quer dizer que a gente deva se comprometer a eternidade. mas sei lá, de repente cê poderia vir. aqui fica fresco quando chove e sempre tem um passarinho que canta em minha janela ao amanhecer. cê não precisa ficar por muito tempo, só o suficiente pra me contar sobre a posição dos astros, o que cê aprendeu sobre as flores, sua vontade de ir em frente...</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>tem um ônibus direto pra tua cidade saindo uma vez por dia da minha; eu te acompanho até a rodoviária enquanto a gente conclui o quão estranhas são as despedidas. cê não precisa acenar da janela do ônibus, nem dizer adeus se não quiser. e nem pensar em amor, essa coisa assustadora, quando chegar em sua cidade cinza. eu vou fingir que não sei de nada também e a gente segue assim, livre, nem que seja até a próxima saudade...</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: right;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-2bTPLCeEelk/XcleKWnODiI/AAAAAAAABr4/ye_0kpMh0KksgxWjFHn-2YKjN5cDFvRpACLcBGAsYHQ/s1600/b98d25828f02b6a027e8cf670ade64d9.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="752" data-original-width="564" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-2bTPLCeEelk/XcleKWnODiI/AAAAAAAABr4/ye_0kpMh0KksgxWjFHn-2YKjN5cDFvRpACLcBGAsYHQ/s320/b98d25828f02b6a027e8cf670ade64d9.jpg" width="240" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3613469469853865650.post-86473316458085382452019-10-21T18:59:00.001-07:002019-10-21T18:59:17.813-07:00. penso n'ocê quando o mundo me assombra . <div style="text-align: right;">
<i>[para minha pessoa preferida]</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>outro dia, era ainda cedo, fazia um sol de avermelhar o rosto, e eu não sabia mais como seguir. de repente, pareceu que uma nuvem feita de brancura tomou conta dos meus olhos e pronto: não via um palmo na frente dos olhos, nem um ponto seguro diante do chão. fiquei sem saber como é que fazia, e então eu te escrevi. as mãos trêmulas, como se um bilhete destinado a ti, fosse também destino nosso, coisa de estremecer o coração. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>"houvesse tempo e eu te entregava meu caminhar", escrevi incerta.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>depois ocê me disse que tinha dado um sorriso de contente, numa resposta que eu não esperava chegar. tenho esse jeito meio torto de achar que silêncio é morada e que palavra é perdão. por isso mesmo é que vivo de esperançar as coisas e de aguardar o tempo certo dos acasos. cê é que sabe de tudo que eu carrego por dentro, do medo que eu tenho das alturas, da minha crença em vidas passadas, do tanto que tropecei pra chegar até aqui. e que eu sou assim meio boba, meio distante das coisas palpáveis, meio morada em um lugar distante... e ainda assim, é ocê que sempre volta: não sei se por gosto ou por costume. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>sei só que é ocê que me salva quando eu vou entrando naquele lugar do qual eu nunca consigo voltar sozinha: preciso d'ocê pra me guiar. e não se apavore, não. do amor meu, me esqueço mesmo é quando ocê some, porque parece que vai contigo um pedaço bom de mim. quando cê volta, me ascendo, lembro de dançar sozinha na frente do espelho, recordo que chorar é lavar a alma e entendo que meu lugar foi, e sempre há de ser, dentro do meu próprio coração...</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-JwJAgwgfdmw/Xa5iaNRntNI/AAAAAAAABrs/PDO0fkaQfLk0WpAtFfNlDtLAuHbI2zJOQCLcBGAsYHQ/s1600/a472ce66c02d10b8679cbab3574c1699.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="846" data-original-width="564" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-JwJAgwgfdmw/Xa5iaNRntNI/AAAAAAAABrs/PDO0fkaQfLk0WpAtFfNlDtLAuHbI2zJOQCLcBGAsYHQ/s320/a472ce66c02d10b8679cbab3574c1699.jpg" width="213" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3613469469853865650.post-88121791613899153652019-10-15T19:59:00.002-07:002019-10-15T19:59:32.977-07:00. [do livro de cartas] estou sempre a lembrar-me de ti .<i>querido Salvador,</i><br />
<i><br /></i>
<i>ensaiei tantas partidas. mas, de fato, nenhuma delas funcionou. estou sempre a lembrar-me de ti... hoje pela manhã, por exemplo, abri a janela do quarto e lá estava: bonito, de até doer os olhos, um céu tão azul como os de suas primaveras. sorri de recordação e, por alguns segundos, deixei de pensar que por descuido, quase te transformei em mágoa. vê se pode, Salvador: justo ocê, minha pessoa preferida, que eu sempre prometi nunca deixar sair do canto bom do coração!</i><br />
<i><br /></i>
<i>acontece, querido, que eu às vezes me esqueço... que gostar tem mesmo que ser mais sobre viver do que sobre encontrar razões ou teorias. sou mais poema quando cê regressa. e isso, por si só, já é um agradecimento em viver. não há como mudar as coisas: nem o que se sente, nem o que desacontece. mas aprendi que a gente pode criar um espaço melhor dentro do tempo que se tem. e é isso que tenho feito, desde a sua ligação naquele domingo quieto. ouvir tua voz, Salvador, fez-me lembrar daqueles dias em que te conhecia e que, por manter o coração aberto, eu me reconhecia também. e isso vai me ser sempre tão valioso. </i><br />
<i><br /></i>
<i>ando com a cabeça um pouco cansada. o corpo às vezes querendo esmorecer... mas contou-me um vento veloz, que veio me encontrar pela tarede, que as coisas vão se transformar outra vez. e, em breve, todos os nós desfeitos, vão de novo ser laço. não sei quanto a ti, querido, mas digo por mim que será uma alegria infinita lhe ver outra vez.</i><br />
<i><br /></i>
<i>sem ânsia, nem medo ou esperas. </i><br />
<i>mas sempre com amor,</i><br />
<i>Alice.</i>Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3613469469853865650.post-90100108858747319532019-08-25T19:22:00.001-07:002019-08-25T19:22:27.382-07:00. palavras alinhadas .<div style="text-align: justify;">
<i>tinha jeito de gente que vem para nunca ficar.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>achava mais difícil viver entre os dias de agosto, embora sempre carregasse um gosto tão particular pelo vento a tocar-lhe o rosto e lhe balançar os cabelos ao entardecer. sempre sozinha, costumava se afeiçoar às pessoas primeiro pelo riso, depois pelo tom de voz e só então pela forma como posicionavam as palavras: alinhadas, na concordância que direcionasse o próprio coração. amava as coisas da terra - cheiro, textura, cor -, mesmo vivendo entre as nuvens - cabeça, corpo, pensamento. tinha dia, até, que dizia que queria ser outra coisa: mais esperta, menos alma, mais pulso, menos respirar... achava que sofria, às vezes se escondia, pra que ninguém pudesse lhe ver, nem caçoar do seu jeito miúdo de viver sempre em pausa. gostava de pensar que, enquanto nela é primavera, em um outro continente as ruas se colorem d`um amarelo alaranjado bonito, em um ar ameno do seu tempo de ano preferido. vivia de achar doce a ideia conjugada no verbo recomeçar e nunca teve medo quando um abismo lhe dizia: junta o que sobrou de ti e vai! </i><i>há um tempo, no entanto, danou de achar que o amor, tão arteiro e escorregadio, fosse coisa feita pros seus sentidos: olhos, passo, certeza... e amou: coisa de uma vez na vida, tempo contado de infinito, lembrança que não se apaga. amor fez dela gente que não se faz de permanecer, mas que avoa pelos instantes de brisa e depois retorna, pra sua doce e desenhada solidão, bordada em cores vivas e fita amarela de cetim.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: right;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-BmWjg_-5XA4/XWNB7T-Kt9I/AAAAAAAABrQ/yIrkBRXMUwsVpCZr4813dxXhOrotOYHMgCLcBGAs/s1600/f8ca8006e93a215c9d84e3f989fb52bb.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="845" data-original-width="564" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-BmWjg_-5XA4/XWNB7T-Kt9I/AAAAAAAABrQ/yIrkBRXMUwsVpCZr4813dxXhOrotOYHMgCLcBGAs/s320/f8ca8006e93a215c9d84e3f989fb52bb.jpg" width="213" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3613469469853865650.post-49329651173360773442019-07-28T19:13:00.001-07:002019-07-28T19:17:29.504-07:00. [do livro de cartas] último sinal de adeus .<i>querido Salvador,</i><div>
<i><br /></i></div>
<div>
<i>sempre tive uma maneira só minha de lhe esperar. gostava, ainda há pouco, de olhar todas as tardes pela janela da frente, em busca de um vestígio, uma pista, um segredo que pudesse te trazer de volta. ao encarar as outras pessoas, procurava nelas, quase sem perceber, uma única coisa que se assemelhasse ao jeito que cê tinha de participar de mim: com a ponta dos pés, com os olhos firmes, com as direções contrárias, mas sempre, sempre, me lembrando o melhor de mim, sem pedir nada em troca, sem desejar que eu respirasse ou caminhasse de uma outra forma que eu não sabia ser... </i></div>
<div>
<i><br /></i></div>
<div>
<i>penso, Salvador, que cê deveria ter me desentendido. seria mais fácil me acostumar com as coisas dispersas do mundo, se cê não tivesse me ensinado um bocado sobre reciprocidade, liberdade e amor. mas eu te perdoo... perdoo por tantas partidas que foram me partindo ao meio e me tornando mais ampla, maior, mais certa de mim. perdoo por não ter escolhido ficar porque no fundo, no fundo, talvez nem eu mesma escolhesse. perdoo por ter entrado em minha casa e feito dela um lar tão seu, que nem querendo muito, eu consigo te desassociar de cada canto de mim. </i></div>
<div>
<i><br /></i></div>
<div>
<i>mas olha: eu comprei tintas pra pintar as paredes de outra cor, eu aumentei a estante com livros que cê ainda não leu, eu voltei a usar aquele chinelo amarelo que cê não gostava, eu ando tentando conversar amenidades com outras pessoas, e ontem eu coloquei café no leite frio e até te achei meio errado quando dizia que um anula o sabor do outro. aos poucos, querido, eu espero conseguir não esperar mais nada: nem a sua volta, que bem sabemos - não vai mais acontecer, nem alguém que se assemelhe ao seu jeito de viver - é certo que isso também já se tornou ilusão.</i></div>
<div>
<i><br /></i></div>
<div>
<i>não responda essa correspondência. ela é um último sinal definitivo de adeus. </i></div>
<div>
<i>os outros sinais, já havíamos dado há muito tempo. só não soubemos perceber...</i></div>
<div>
<i><br /></i></div>
<div>
<i>vai ser sempre com amor,</i></div>
<div>
<i>Alice.</i></div>
Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3613469469853865650.post-8645817289980600622019-07-08T17:11:00.001-07:002019-07-08T17:11:59.757-07:00. verso miúdo .<i>para escrever um poema,</i><br />
<i>seria preciso</i><br />
<i> 177 rimas</i><br />
<i> um tempo para ver-te de perto</i><br />
<i> [com os olhos de dentro]</i><br />
<i> </i><br />
<i> pois os de fora</i><br />
<i> não enxergam o suficiente</i><br />
<i> para desenhar letras perfeitas</i><br />
<i><br /></i>
<i>como tu</i><br />
<i> e teu jeito de andar tropeçando </i><br />
<i> nas coisas</i><br />
<i> se embaraçando no meio fio</i><br />
<i> sem querer sorrir por causa da sua longa timidez </i><br />
<i> e dos seus dentes pequenos demais</i><br />
<i><br /></i>
<i> e que eu nunca vi</i><br />
<i>porque, meu bem, não te enxergo</i><br />
<i> [em aparência]</i><br />
<i>mas em olhos, verso e coração.</i>Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3613469469853865650.post-43743736347141630772019-06-19T20:05:00.000-07:002019-06-19T20:06:11.021-07:00. [do livro de cartas] esperançar .<i>querida Bisa,</i><br />
<i><br /></i>
<i>a ausência danou de fazer morada em mim. por isso não lhe escrevi antes: quis cuidar dela (a ausência), como quem vigia o sono de tantos dias sem adormecer. não tive medo, nem senti sequer solidão. só fiquei ali, quieta, sentada na beira das coisas, como quem espreita a luz que entra pelas frestas da porta em manhãs de sol. vez ou outra, batia em meu rosto um vento forte, parecido com os de nossos agostos... "vendaval assim em pleno junho?", dizia cá o senhor João, agasalhado até às orelhas para se proteger do frio.</i><br />
<i><br /></i>
<i>acho que danei de querer me proteger demais das coisas também, Bisa. e não sei mesmo se isso é de certo bom ou ruim. só sei que assim, desse jeito, eu meio que entendi que resguardo meu coração de tanto sofrer. sei que vais me responder em uma próxima carta, que a gente não deve se privar da vida. que certo mesmo é dar cara a tapa, ainda que as marcas fiquem é no coração. mas não quero, Bisa, de jeito nenhum, voltar a perder o jeito das palavras. e é isso o que acontece quando me doo demais: deixo de cuidar das coisas que são minhas, esqueço como se juntam as letras, como se compõem os versos, como se remontam as linhas. e viro um caquinho, que custa a se remontar.</i><br />
<i><br /></i>
<i>sim, eu sei também que isso faz parte do amor, essa coisinha frágil que a gente nunca vai compreender como se ajeita em nós sem que a gente sequer perceba. pecado seria eu lhe dizer que nunca mais quero amar, Bisa. mas eu ainda tenho, cá no fundo do peito, uma esperança fininha de aprender a começar de novo. de encontrar um coração de ar puro, de sorriso leve, com alma de partilha e nunca olhos de adeus. que traga os bolsos cheios de imperfeições, mas que não tenha medo de andar descalço em chão de terra pura, nem de dividir as inteirezas de si...</i><br />
<i><br /></i>
<i>como diria vovô: enquanto a esperança couber dentro de um verbo, a gente vai sempre caçar jeito de conjugar e esperançar...</i><br />
<i><br /></i>
<i>eu esperanço.</i><br />
<i><br /></i>
<div style="text-align: right;">
<i>com amor, </i></div>
<div style="text-align: right;">
<i>Alice,</i></div>
<br />Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3613469469853865650.post-38391875308576979042019-06-09T18:46:00.001-07:002019-06-09T18:46:16.211-07:00. reticências .<i>não precisam de explicação as coisas que são pequeninas. </i><br />
<i>não carece dizê-las que se tornem grandes, que sejam fortes, que se aprumem, que tomem jeito.</i><br />
<i>as coisas que são pequeninas não sabem viver assim, com a pressa, com o valor altivo dos espaços infinitos, com o barulho excessivo das ausências. </i><br />
<i>elas precisam que o vento as tire pra dançar, de vez enquando, nas tardes que são de agosto. e que os jardins de girassóis brotem diante de toda primavera, colorindo de amarelo-sol aquilo que a gente chama apressadamente de "passar do tempo"...</i><br />
<i>aprenderam, assim tão pequeninas, a não ocupar espaço demais;</i><br />
<i>a se preencher de vazios e silêncios;</i><br />
<i>a escrever poemas e rimas que cantam a solidão;</i><br />
<i>a catar estrelas com a ponta dos olhos...</i><br />
<i>não são bobas ou de menos valor, as coisas que são pequeninas.</i><br />
<i>embora pareçam ser: foscas como terra seca; ingênuas como flores brancas; apagadas com manhãs acinzentadas.</i><br />
<i>mas quem lhes souber ver o coração, vai receber das coisas que são pequeninas, </i><br />
<i>confortáveis gestos de delicadeza, </i><br />
<i>como passos milimetricamente juntos, dedos entrelaçados e um jeito sempre simples de dizer:</i><br />
<i>"ei, eu vou estar sempre aqui".</i><br />
<i>ou algo tão parecido com o amor, que é capaz até de, distraidamente, se confundir os verbos e os jeitos de infinitivo...</i><br />
<i><br /></i>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: right;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-Lnqw6UDRVmg/XP22LNnXlZI/AAAAAAAABqw/bPPa6IgbBgsOBCvs4kNujo-AqqYi6wFugCLcBGAs/s1600/2253e6609dbf2874da88a5285e1c8bbc.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="501" data-original-width="500" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-Lnqw6UDRVmg/XP22LNnXlZI/AAAAAAAABqw/bPPa6IgbBgsOBCvs4kNujo-AqqYi6wFugCLcBGAs/s320/2253e6609dbf2874da88a5285e1c8bbc.jpg" width="319" /></a></div>
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<i><span style="font-size: x-small;"><a href="https://br.pinterest.com/pin/723320390128295596/" target="_blank">achei a imagem aqui</a> </span></i></div>
<i><br /></i>
<br />Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3613469469853865650.post-76632193809639501542019-05-05T16:18:00.002-07:002019-05-05T16:18:16.694-07:00 . a construção solitária de uma vida .<div style="text-align: justify;">
<i>agoou as plantas que cresciam delicadamente no parapeito da janela. aprendeu a cuidar delas da mesma maneira que se trata a melancolia: com dedos leves, o olhar sereno, coração em pausa. na minuciosa tarefa matinal, retirava uma a uma as folhas apodrecidas pelo tempo, para que outras novas pudessem nascer ali, naquele espaço vazio. todos os dias encontrava ao menos uma vencida pelo envelhecer, principalmente quando se instalava por perto o outono, em sua árdua tarefa de cuidar dos reencontros e dos recomeços. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>daquilo era que ela gostava. e daquilo era que ela construiu um pouco do jeito de enxergar o mundo: ali, por detrás daquela janela tomada por florezinhas miúdas, tudo tinha outro tom. o céu parecia colorido à giz de cera e as nuvens eram salpicados pedaços de algodão. a sombra desenhada pelo sol depois de extensos dias de chuva, formava nas paredes uma verdadeira dança sem música, que pouco a pouco a fazia sorrir. o reflexo das folhas das plantas, projetado por seus olhos espremidos-para-enxergar-melhor, dava dimensões incríveis do que era a vida de dentro, encorajada de fora pelo arrastar das horas de abril.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>tudo aquilo era tão dela, que pouco tempo tinha para deixar de ser. foi se moldando o verso, sem nunca se fazer poema. foi se costurando a harmonia, respeitando o agora das pausas, o ontem dos sustenidos e a suspensão dos bemóis. vez enquando, até batia uma dor fininha no peito, formada pela soma de um sopro de vento que nunca se soube de onde vinha, com a certeza de uma solidão sabida, repleta das respostas de “como”, “porquê”, “quando”... a astúcia dos silêncios fez dela uma pessoa tão atenta ao ouvir, mas roubou-lhe a forma de transformar verbos em algum plural. e de fazer do caminho uma travessia de mãos dadas e exatidão. </i></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
(...)</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
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<a href="https://2.bp.blogspot.com/-Q5tD88OjU8g/XM9vFN9Rv0I/AAAAAAAABqc/coFMn8cyiuI5DAB0bU1tIKsYTjtFZwsHwCLcBGAs/s1600/b80380fffbb27685383c7a4857850ebf.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="698" data-original-width="563" height="320" src="https://2.bp.blogspot.com/-Q5tD88OjU8g/XM9vFN9Rv0I/AAAAAAAABqc/coFMn8cyiuI5DAB0bU1tIKsYTjtFZwsHwCLcBGAs/s320/b80380fffbb27685383c7a4857850ebf.jpg" width="258" /></a></div>
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<i><span style="font-size: x-small;"><a href="https://br.pinterest.com/pin/778137641848015815/" target="_blank">Imagem: Pinterest</a></span></i></div>
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<br /></div>
<div>
<br /></div>
Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3613469469853865650.post-85402027014748606232019-03-31T17:52:00.002-07:002019-03-31T17:57:41.063-07:00. [do livro de cartas] estampa .<i>Salvador,</i><br />
<i><br /></i>
<i>todas aquelas canções continuaram tocando no rádio, mesmo depois de tanto tempo. não lhe escrevi nesses intervalos breves, porque preferi assim: o gosto doce dessa ausência me enche de melancolia, e bem sabes como gosto da presença dela.</i><br />
<i><br /></i>
<i>algumas coisas Salvador, nunca serão esquecidas: é preciso fazer um esforço danado para deixar de lembra-las entre um passo e outro. mas passado o verão, eu fico sempre com a impressão de que as coisas vão melhorar: podemos ter frutas frescas todas as manhãs, tomar um thé à la camomille antes do pôr do sol, pisar folhas secas que amontoamos com as mãos, fingir que nada aconteceu e seguir por aquele caminho que nos parecer mais longo.</i><br />
<i><br /></i>
<i>torço pelo dia em que todas essas coisas miúdas vão deixar de te trazer pra mim, Salvador. e também, pra que desapareça da minha sombra, essa ideia tola de que era ocê a pessoa com quem eu sonhei um pedaço bom da minha vida. é um esforço contínuo, eu sei. sei também que, na realidade, essa coisa de lembrar e esquecer, só funciona mesmo quando deixo de me importar. e quando não me pergunto, sempre que se achegam os domingos, como foi que passaste pela vida e pelas distâncias de nós.</i><br />
<i><br /></i>
<i>vai chegar o dia, querido, em que teu nome estampado no tom das canções que cuidam de meus ouvidos, vai se parecer com um zumbido de estrelas. aí, elas vão cintilar nos meus olhos e tocar todas as minhas lembranças, com a mesma leveza das manhãs de abril. enquanto isso não acontece, continuarei contando no meu calendário invisível, os dias em que te esqueci...</i><br />
<i><br /></i>
<br />
<div style="text-align: right;">
<i>sempre com amor,</i></div>
<div style="text-align: right;">
<i>Alice.</i></div>
<div style="text-align: right;">
<i><br /></i></div>
<div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: right;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-qkb3UUg2jm4/XKFgvBCsylI/AAAAAAAABp4/EDGHqo--9iYI18ckF6ogEeOVxKgmcOnuACLcBGAs/s1600/b8e234a545791c5d2eb1bc0fbe5542e7.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="333" data-original-width="500" height="213" src="https://4.bp.blogspot.com/-qkb3UUg2jm4/XKFgvBCsylI/AAAAAAAABp4/EDGHqo--9iYI18ckF6ogEeOVxKgmcOnuACLcBGAs/s320/b8e234a545791c5d2eb1bc0fbe5542e7.jpg" width="320" /></a></div>
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Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3613469469853865650.post-86800140116941031302019-03-18T17:46:00.002-07:002019-03-18T17:48:10.485-07:00. ausência .<i>eu me separei d'ocê. </i><br />
<i>de tempos em tempos eu faço isso, e caio numa solidão danada, projetando um tanto de realidade naquilo que nunca existiu. </i><br />
<i>parece que eu fico procurando ocê onde é que cê nunca esteve: nos rostos dos outros, nas coisas que eles sonham, nos poemas que ainda leio.</i><br />
<i>no fundo, é isso um jeito meu de fugir das coisas. </i><br />
<i>porque eu sempre fui meio assim: caço jeito de ir embora antes da hora, maneira minha de desvencilhar o tempo, antes que seja tarde.</i><br />
<i>mas acontece que tarde já é. e cê há de convir comigo, que eu posso decorar todas aquelas canções francesas que me fazem lembrar das ruas em que ocê passou, mas não vou nunca poder viver ocê de novo.</i><br />
<i>ao menos não agora. não nesse tempo...</i><br />
<i>mas aí, eu ao menos entendo... que todo esse jeito meu, tão agudo de não pertencer a lugar algum, é metade culpa sua, metade culpa minha.</i><br />
<i>que eu devia mesmo ter feito esforço, ter pedido a Deus, ter seguido a linha da palma da minha mão e não ter vindo tão só até aqui. </i><br />
<i>porque mesmo assim, ocê morando em cada canto da vida que calhou de ser minha (naquilo que eu escrevo, naquilo que eu gosto, na direção que eu tomo, nas músicas que eu escuto, nos lugares que sonho), eu sinto uma falta danada d'ocê. </i><br />
<i>de quem eu só sei um nome, e mesmo desse jeito, sem eira ou beira, eu vejo direitinho a presença que sinto todos os dias, pouco antes de adormecer...</i><br />
<div>
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;">[para alguém sempre partindo...]</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-u2QfSz33cXA/XJA7vbYFXZI/AAAAAAAABps/quDorM51SYA7sgf8UkZQQmuvVVN9AEZogCLcBGAs/s1600/ausencia.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="564" data-original-width="564" height="320" src="https://2.bp.blogspot.com/-u2QfSz33cXA/XJA7vbYFXZI/AAAAAAAABps/quDorM51SYA7sgf8UkZQQmuvVVN9AEZogCLcBGAs/s320/ausencia.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3613469469853865650.post-15427406611289195432019-02-25T07:46:00.000-08:002019-02-25T07:45:59.932-08:00. linha torta .<i>preciso de ti pra ter cá os pés no chão. sou de voar alto demais, invento da vida passarinhos, um jeito de tocar de asas as nuvens e às vezes até algumas estrelas... </i><br />
<i>preciso de ti pra quando eu fizer poemas, e pra quando não os tiver também. e que sorrias de qualquer forma, sem entender nem mais nem menos, a ausência escrita a nanquim nos meus papéis amarelados. </i><br />
<i>preciso de ti pra me lembrar os meus tombos e pra entender que não necessito cavar com as unhas, a perfeição esquecida do meu próprio coração. saber que sou carne, osso, pele, desejo, suspiro. e que posso sim aprender a olhar nos olhos sem temer os dias feitos de manhãs. </i><br />
<i>preciso de ti pra dissolver entre as esquinas do imenso e tormento mundo, que refiz em muro pra me proteger: do frio, do sol quente do verão, dos pingos de chuva, das nuvens acinzentadas, do céu de todo azul, dos quatro sentidos: tato, olfato, visão, audição... </i><br />
<i>preciso de ti pra me esquecer um pouco do que é singular e empregar mais plurais em tudo o que digo, vivo, escrevo. </i><br />
<i><br /></i>
<i>nós, vós, eles... </i><br />
<i><br /></i>
<i>preciso de ti pra que a solidão se comova e caia de me deixar um pouco em paz, </i><br />
<i>até o próximo verão...</i><br />
<i><br /></i>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-sS_Okjr9jJk/XHQNJjRbO9I/AAAAAAAABpY/YNVR4AdRgAMuxwo1n1gegj8Eo7UTbZ64ACLcBGAs/s1600/preciso-de-voc%25C3%25AA-as-cores-dela.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="705" data-original-width="564" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-sS_Okjr9jJk/XHQNJjRbO9I/AAAAAAAABpY/YNVR4AdRgAMuxwo1n1gegj8Eo7UTbZ64ACLcBGAs/s320/preciso-de-voc%25C3%25AA-as-cores-dela.jpg" width="256" /></a></div>
<i><br /></i>Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3613469469853865650.post-34226208145872049412019-02-04T14:42:00.001-08:002019-02-04T14:42:49.638-08:00. respiro .<i>no breve espaço do tempo que pareia com meu coração, penso nas formas de existir, essas que nos gastam pouca pressa.</i><br />
<i>é preciso ter olhos leves pra ver o canto dos passarim, o rastro voo da borboleta, o vento pétala d'uma flor.</i><br />
<i>coisa toda que mora do lado de dentro e que cá no fundo, a gente precisa regar todo dia, mesmo entre tanto estranhamento de viver.</i><br />
<i>porque se a gente não cuida da forma nossa de ser verbo e infinito morando mesmo no amor, seguir adiante fica a cada dia mais esquisito.</i><br />
<i>e a gente mesmo foi feito pra se reconhecer:</i><br />
<i>no riso,</i><br />
<i>na força,</i><br />
<i>na luta,</i><br />
<i>na fé...</i><br />
<i>amarrar fita de Senhor do Bonfim, carregar pimenta e sal grosso, ter pedra que for de proteção, agarrar firme na reza e na oração. </i><br />
<i>não importa muito de onde é que vem o jeito nosso de acreditar...</i><br />
<i>certo é que a gente aprenda a ser som depois de tanto silêncio vivido no peito e na garganta. </i><br />
<i>e comece outra vez...</i><br />
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: right;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-MVeoqDFhq-4/XFi_3tSYsQI/AAAAAAAABpM/UKCu-eIf9kUfhlO-SN03HJT_knCN6xUqwCLcBGAs/s1600/8749e1906de729db79c2234eac27cd79.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="705" data-original-width="564" height="320" src="https://2.bp.blogspot.com/-MVeoqDFhq-4/XFi_3tSYsQI/AAAAAAAABpM/UKCu-eIf9kUfhlO-SN03HJT_knCN6xUqwCLcBGAs/s320/8749e1906de729db79c2234eac27cd79.jpg" width="256" /></a></div>
<i><br /></i>Débora Gomeshttp://www.blogger.com/profile/17919372642909254852noreply@blogger.com0