segunda-feira, 18 de março de 2019

. ausência .

eu me separei d'ocê. 
de tempos em tempos eu faço isso, e caio numa solidão danada, projetando um tanto de realidade naquilo que nunca existiu. 
parece que eu fico procurando ocê onde é que cê nunca esteve: nos rostos dos outros, nas coisas que eles sonham, nos poemas que ainda leio.
no fundo, é isso um jeito meu de fugir das coisas. 
porque eu sempre fui meio assim: caço jeito de ir embora antes da hora, maneira minha de desvencilhar o tempo, antes que seja tarde.
mas acontece que tarde já é. e cê há de convir comigo, que eu posso decorar todas aquelas canções francesas que me fazem lembrar das ruas em que ocê passou, mas não vou nunca poder viver ocê de novo.
ao menos não agora. não nesse tempo...
mas aí, eu ao menos entendo... que todo esse jeito meu, tão agudo de não pertencer a lugar algum, é metade culpa sua, metade culpa minha.
que eu devia mesmo ter feito esforço, ter pedido a Deus, ter seguido a linha da palma da minha mão e não ter vindo tão só até aqui. 
porque mesmo assim, ocê morando em cada canto da vida que calhou de ser minha (naquilo que eu escrevo, naquilo que eu gosto, na direção que eu tomo, nas músicas que eu escuto, nos lugares que sonho), eu sinto uma falta danada d'ocê. 
de quem eu só sei um nome, e mesmo desse jeito, sem eira ou beira, eu vejo direitinho a presença que sinto todos os dias, pouco antes de adormecer...

[para alguém sempre partindo...]



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