segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

. linha torta .

preciso de ti pra ter cá os pés no chão. sou de voar alto demais, invento da vida passarinhos, um jeito de tocar de asas as nuvens e às vezes até algumas estrelas... 
preciso de ti pra quando eu fizer poemas, e pra quando não os tiver também. e que sorrias de qualquer forma, sem entender nem mais nem menos, a ausência escrita a nanquim nos meus papéis amarelados. 
preciso de ti pra me lembrar os meus tombos e pra entender que não necessito cavar com as unhas, a perfeição esquecida do meu próprio coração. saber que sou carne, osso, pele, desejo, suspiro. e que posso sim aprender a olhar nos olhos sem temer os dias feitos de manhãs. 
preciso de ti pra dissolver entre as esquinas do imenso e tormento mundo, que refiz em muro pra me proteger: do frio, do sol quente do verão, dos pingos de chuva, das nuvens acinzentadas, do céu de todo azul, dos quatro sentidos: tato, olfato, visão, audição... 
preciso de ti pra me esquecer um pouco do que é singular e empregar mais plurais em tudo o que digo, vivo, escrevo. 

nós, vós, eles... 

preciso de ti pra que a solidão se comova e caia de me deixar um pouco em paz, 
até o próximo verão...


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

. respiro .

no breve espaço do tempo que pareia com meu coração, penso nas formas de existir, essas que nos gastam pouca pressa.
é preciso ter olhos leves pra ver o canto dos passarim, o rastro voo da borboleta, o vento pétala d'uma flor.
coisa toda que mora do lado de dentro e que cá no fundo, a gente precisa regar todo dia, mesmo entre tanto estranhamento de viver.
porque se a gente não cuida da forma nossa de ser verbo e infinito morando mesmo no amor, seguir adiante fica a cada dia mais esquisito.
e a gente mesmo foi feito pra se reconhecer:
no riso,
na força,
na luta,
na fé...
amarrar fita de Senhor do Bonfim, carregar pimenta e sal grosso, ter pedra que for de proteção, agarrar firme na reza e na oração. 
não importa muito de onde é que vem o jeito nosso de acreditar...
certo é que a gente aprenda a ser som depois de tanto silêncio vivido no peito e na garganta. 
e comece outra vez...