quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

. [do livro de cartas] a gente nunca esquece .

querido Salvador,

diz meu coração, que cê só anda um pouco perdido, sem saber como voltar. sem muito jeito pra crer nessas ideias dele, apenas lhe pedi: 'não se engane, coração. não acredite em tudo que sente'.

existem muitos caminhos, Salvador. estradas curtas, estradas longas, estradas com poucas ou infinitas curvas. aprendi, ainda muito pequena, que quando a gente tem pouca certeza, mas alguma fagulha no coração, a gente consegue chegar onde se deve, aprendendo a amar a trajetória inteira.

não sei o que te aconteceu... se cê cansou dessa brincadeira de longitudes, se seu tempo anda desencontrado, se cê esqueceu minhas poesias, se cê achou melhor seguir, me deixando dentro desses vazios. mas seja lá o que for, não tenha medo. a gente não deve culpar destino algum, nem dizer desses agoras, que às vezes se fazem tarde demais.

mas me escreva quando sentir saudade. as portas vão estar sempre abertas pr'ocê.

com amor,
Alice.



quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

. avec toi .


queria eu, escrever bonito, uma coisa qualquer que cê pudesse ler. que tivesse passarim na janela, rima de jardim, perfume de roseira, cor de girassol. que te fizesse sentir daí, d'onde cê tá e que eu nem sei, uma vontade danada de ler minhas palavras, ficar vidrado nelas, se apaixonar lentamente pelo sentimento que elas brotariam n'ocê. que te desse, ainda, uma vontade de me dizer de volta, de me mandar um bilhetinho, de se ver que nem as constelações todas, que desenho só procê.

mas eu (vê só, que besteira!), quando dano a escrever procê, só sei dizer dessas coisas de amor e que cê nunca vai ler, eu bem sei. enfeito tudo de cor e purpurina, encho o verso de rodeios pra ficar bonito, uso entrelinhas e quase esbarro em desejos que cê jamais entenderia. por isso fico aqui: cabisbaixa, nuns dias meio turvos sem notícias suas, num descaminho doído que nem caco de vidro na sola de pé descalço.

meu sonho mesmo era que cê lesse alguma coisa que eu escrevi... fosse escrito procê ou jogado no vento, de raras vezes que a escrita muda de tom. e se apaixonasse por um versinho só, que cai sempre de ter bem mais do meu coração, do que eu mesma posso ser. se acontecesse isso, d'ocê me gostar primeiro pelas palavras e só depois pelos olhos, mesmo que cê fosse embora, de cá eu saberia que cê iria levando a melhor parte que é de mim...