segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

. [do livro de cartas] todo começo de adeus .

minha querida,
não se desespere!

há tempo pra tudo: pras folhas secas, pros sonhos maduros, pras amoras ficarem doces, pro teu amor acontecer. não espere que as coisas desapareçam, pra só então começar a viver. toma em tuas mãos todos os presentes do tempo. respira o vento que sopra lentamente no teu rosto e segue o teu coração, esse aliado bobo que é morada pra tanto sentimento bom.

recolhe esse pranto que você insiste em viver, minha Alice. e põe no lugar toda essa força que tua voz esconde, sempre que vai se achegando o verão. teu sonho é guia de bom caminho, teu lar é música de bem viver. enquanto teus olhos tocarem o céu todas as manhãs, vai ter fruta no quintal, chuva boa no fim da tarde, flor nascendo em contra tempo, caminho se abrindo na vontade do teu bem-querer.

por isso, se tiver que chorar, chore. mas que seja depressa. guarda que não vieste morar nesse tempo pra ser porta voz de qualquer sofrer. colore teus versos com anil e nunca, nunca mais permita que o que vem de fora, seja maior que o teu sentir.

eu estarei sempre por perto, com morangos frescos e chá de maçã e canela. 
pra que você jamais se esqueça do que é essencial.

é sempre com amor,
Bisa.



terça-feira, 12 de dezembro de 2017

. quando cê disse que vinha .

comecei a escrever porque cê disse que vinha.
fiz um livro inteiro com as histórias que não te contei. mas que vivi, enquanto te esperava chegar.
achei engraçada a forma como as palavras se dispunham milimetricamente, pra contar pro papel sobre toda a fantasia que criei pra te manter por perto. num desatino que, por vezes, chegou até a parecer amor. 
fui tecendo as minhas páginas com todo esse quase que cê sempre trazia em cada mão.
nunca aprendi a fazer rima, porque o tempo entre seus olhos e os meus, calhou de ser breve demais. e porque tive medo também... principalmente de descobrir que coração, ilusão e nós em par, poderiam muito bem morar, ao mesmo tempo, no mesmo verso. e isso, mais que a saudade, me entristeceria por toda a vida.
também não me separo dos dramas. como cê tanto diz, eles estão calejados no meu peito, cansado de tanto insistir. também pudera! tanta beira de abismo em flor, como é que fui calhar de me jogar no seu silêncio?
o que me preocupa - devo lhe dizer - nem muito é essa sua ausência, insistida em me procurar. 
mas é que eu continuei a escrever porque cê não veio. 
e, nesse tanto que me lancei à sorte - da nossa própria solidão -, aprendi a conjugar todos os verbos no infinitivo e sem plural, nuns instantes de vazio, armaduras e tanto ar. 
desaprendi muita coisa enquanto te esperava. 
e, talvez, isso é que diga muito sobre as partes em branco que o tempo me ensinou a te escrever...