domingo, 2 de abril de 2017

. questões do infinito .

Hoje fez um dia bonito, como nem sempre são os dias aqui. As amenidades de outono gelaram minha manhã e, se pudesse, teria ficado todo o tempo em casa, sentada em frente ao computador, lendo, escrevendo, desenhando um pouco. Talvez sentisse menos tua falta. É que a sinto (muito!), principalmente quando saio às ruas e vejo rostos nada semelhantes ao teu. “As pessoas aqui carregam uma alegria triste”, pensei. E concluí que vem daqui essa minha mania de sorrir nos lábios o que os olhos tanto choram.

Te guardo em saudade, já lhe falei várias vezes. Ocorreu-me agora, aquele poema falado pela Matilde Campilho, com seu cantado sotaque “português-de-Portugal”:

“é terrível a existência de duas retas paralelas
porque elas nunca se cruzam. 
e elas apenas se encontram no infinito”.

Sei que se interessas por essas questões de infinito e por qualquer outra coisa que pareça te tirar daqui, das gaiolas desse mundo. Ele às vezes também ressoa como algo do qual nunca fizeste parte, eu sei. Mas consegues lidar com isso bem melhor do que eu, que ando desfazendo um tanto de nó, tentando o encontro de um único laço.

É estranho pensar que o que mais nos afasta foi meu maior começo de amor. Lembro bem quando você me disse: ‘eu ando sempre distraído demais nesse passo que é viver’. E eu compreendi ali que dizias sobre liberdade e teu amor pelo vento no rosto em dias de estrada. Sempre soube ler tuas entrelinhas, embora eu pareça chegar quando você já está partindo.

“Não se esqueça de me escrever”, eu deveria ter dito. No entanto, espero sempre uma fresta de sol nos dias frios, para me aquecer as meias e o moletom escuro. Você não vem, eu já sei. ‘Nem em palavra e nem em verbo’, repito para não esquecer. Porque algumas vezes, eu deixo de me lembrar que te conheci em uma manhã de primavera, quando a gente ainda acreditava no amor. E se hoje eu aprendi a temer os silêncios, é porque entendi que eles podem ensurdecer qualquer coração partido. 

[te guardo nessas palavras. para que se torne o motivo da minha terceira fuga...]

..................................

Matilde Campilho.:

Um comentário:

Jaya Magalhães disse...

Débora,

Sempre que volto aqui e te leio, fico querendo encontrar palavras que descrevam o que sinto quando termino um texto teu. Acredito que até hoje não consegui. É uma mistura tão grande coisas tão simples...

Você escreve com uma leveza imensa. Uma clareza bonita. E ainda que a maioria das palavras carreguem sempre esse tom cinza de saudade e amor contrariado (pelo universo, talvez), eu sinto uma paz bem boa quando saio daqui. Respiro melhor.

Eu espero que as saudades de hoje, em meio a lembranças assim tão belas, possam encontrar as cores de um reencontro. A primavera cabe em todas as estações, sempre digo.

Um beijo meu.

P.S.: pode vir pros trinta que eu prometo deixar um lugar bonito preparado pra você, agora que já estou aqui.