domingo, 5 de fevereiro de 2017

.não tenha pressa.

eu desenho o teu retrato. 
pelo grau da nossa distância, é bem possível que eu tenha esquecido de algum detalhe que lhe é importante: uma ruga na testa que surgiu desde que você partiu, um novo fio de cabelo branco se juntando aos vários que você sempre teve na lateral esquerda da cabeça. 
"a gente não tem mais 20 anos", eu sei.
eu tentei colocar alguma cor no retrato, mas meus dias estão cinza. como os seus, nessa cidade que não te deixa sair. 
ela não te abandona, ela te acolhe, ela se fez seu lar. e não importa o quanto chove... é teu silêncio que me importa. porque ele antecede uma saudade imensa em minha vida, que eu sempre pressinto, e até mascaro com sorriso, floral e aspirina, até você voltar, como se nada tivesse acontecido. e se alojar de novo nas minhas gavetas, nas minhas paredes, no meu peito. 
é quase um ciclo. que eu não fecho porque gosto da dor. e porque tenho medo de perder as lembranças que me salvam em dias assim...
"eu gosto de você", cê me disse. 
e eu não acreditaria se não tivesse salvo sua voz em uma parte intocável do meu coração. 
"é que eu tenho medo", cê me respondeu. 
e a gente nunca mais viveria tudo isso de novo, porque não deixou pistas no caminho pra voltar.
"é daqui em diante", eu te escrevi.
com todos os vícios que adquirimos, com todos os machucados que nos curamos. é assim se a gente quiser seguir...
tem um pedaço seu em cada esquina dessas ruas em que você nunca esteve. 
talvez isso seja amor. ou só saudade...



Um comentário:

Jaya Magalhães disse...

Talvez sejam os dois, Débora.

Eu estava com saudades dos teus textos. Do teu jeito de expressar as dores. Os amores. Da tua escrita que flui tão fácil e suave...

Li os textos antigos e me perdi aqui um tempo bom, recuperando a ausência.

Um beijo meu.