quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

.[do livro de cartas] sobre o tempo.

o tempo, Salvador, esse senhor de olhos turvos e roupas claras, me ensinou que quanto maior o amor, mais chance temos de nos machucar. e você há de concordar comigo, quando digo que não somos bons em manter as coisas por perto: temos essa mania bonita de liberdade. e não nascemos pra encarar de olhos abertos o que torna a vida mais real e menos sonhada. por isso nosso querer acabou se tornando nossa maior distância e também a nossa maior saudade.

e se te escrevo assim, enquanto ainda é verão, é porque alimentar esse abismo que a gente mesmo criou, é o jeito que encontrei de me manter ligada a você. não se assuste, querido. enquanto o tempo passa, continuo ouvindo minhas músicas, escrevendo minhas cartas, conhecendo outros lugares, fazendo novos planos, encontrando pessoas diferentes, vivendo outras histórias, nesse quase gerúndio que tanto te assusta.

Bisa me disse semana passada, que a gente só resiste a toda essa distância porque ela é nosso escudo, nossa fuga, nossa razão de continuar quando tudo é caos. por isso gostamos tanto dela: ela protege nosso coração da dor. 
acho que compreendi. 
e sei também que enquanto continuar sonhando, meu amor vai ter sempre o peito seu pra se recostar. e é por isso que, dessa vez, não prometerei lhe visitar no outono. 
espero que compreenda também...


"Me escreve antes que eu me vá. 
Nem que seja um bilhetinho. 
Gostaria muitíssimo de levar
a tua bênção, ou uma força qualquer 
- boas vibrações." 
Caio F. Abreu 

Sempre com amor,
Alice.








quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

.entrelinhas [ou nossa primeira tentativa de (a) mar]

cê sempre foi, desde que chegou, a maior chance de equilíbrio que eu tive.
coube n'ocê uma vontade minha de fazer as coisas darem certo.
deu no meu peito, de repente, um desejo manso de pegar a sua mão e ir embora por aí, uma porção de vezes, pra onde cê quisesse sonhar.
coisa dessas de confiar de olho fechado em alguém que chegou por pouco e, desse pouco em pouco, se alojou na minha vontade de ser algo melhor do que sempre fui.
não vou te falar nada de amor. eu sei que cê tem medo dessas coisas.
e eu também tenho, porque já mirei muita rima errada nessa imensidão. 
também não vou te dizer que cê é uma chance boa que eu tenho de continuar em paz.
cê não entenderia.
porque isso tudo aconteceu numa manhã em que cê sorriu e disse que tava ali. que custasse o que fosse, agora eu podia respirar porque eu tinha ocê do lado.
e foi o que eu fiz... peguei um fôlego danado e cheguei até aqui: braço, mão, corpo atados. mas sem desistir... uma diferença só! de se notar em cada sopro que eu não verso, mas que cê poesia.
porque cê tem a ver com essa coisa de eu me sentir feliz sendo a pessoa que eu sou. 
[mar-verso-sonho-riso-luz-vontade-força-passo-coragem-gosto]
e isso provavelmente é algo muito maior do que a gente poderia imaginar. 
só espero que quando tudo isso acabar, cê leia essas palavras e entenda as entrelinhas:
que todas as suas surpresas, foram meu maior nó no seu laço.
e que, se eu pudesse, escolhia ter te conhecido antes do nosso coração ser caco de vidro.
mas como não posso, aceito colar caco por caco, desde que cê não vá-se embora nunca mais...