quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

.poema suspenso [ou quase um poema].

cê tinha olhos de gente que chega pra ficar por um tempo
que a gente não mede, mas torce pra que não seja breve.

[pausa]

não entendo.
só sei que foi o suficiente pra que cê escrevesse dois poemas inteiros e um verso incompleto, sem rima ou qualquer cor.
- as palavras são incolores - você disse.
- eu vejo vida e sentimento em tudo - te respondi.

foi aí que a gente desandou. 
e começou a nossa sucessão de erros.
enquanto cê preferiu ficar suspenso, eu agarrei todas as incertezas e levei-as pra dançar, nessa confusão toda que é viver.
ousei palavras difíceis como reciprocidade, entendimento e tempo.
só que cê preferiu retribuir com silêncio, vazio e distância. 
mesmo sabendo que são essas as três coisas que mais me ferem, além das minhas próprias escolhas.

- eu não sei fazer rima - já tinha te dito.
- gosto da solidão - você me advertiu. 

e eu deveria ter entendido que algumas coisas precisam de pressa.
outras, de espaço.

- o meu tempo é diferente do seu - conclui.
- as portas estarão sempre abertas - você se despediu.

[recomeça]

desde então, eu sinto todo dia uma vontade grande de entrar.
te pegar pela mão e mostrar que vai ficar tudo bem, mesmo quando já não for mais carnaval.
mas aí, lembro que o caminho sempre apontou a minha partida, que ainda é só o começo do verão e que não estarei mais por perto na próxima primavera.

porque seus olhos de espera, me ensinaram que é sempre cedo demais para querer ficar...



terça-feira, 13 de dezembro de 2016

.c'est fini [ou o tempo certo das coisas].

se fizeres teu caminho inverso, qualquer hora dessas a gente se esbarra.
e, com sorte, reescreve todo o passo que desviou.
mas por agora, deixa! que eu não sei inventar um jeito de não partir e tenho chão demais pra riscar com carvão e giz. 

.do outro lado.
dentro.

que, embora a gente ainda prefira acreditar que amor da vida não existe, eu quero construir morada num coração aberto, que tire meu silêncio pra dançar sempre que os dias pensarem em se resumir em solidão.
não pense que não me dói qualquer partida.
mas é que fiz desse sorriso meu escudo. 
e aprendi desde menina que o mundo é grande demais pra gente fincar estaca em qualquer chão.

por isso falo baixo.
ouço mais do que digo.
pareço às vezes não me importar.
desconfio da esmola.
desconfio do santo.
tenho medo do mar.

há de chegar o dia em que nosso silêncio vai dizer tanto! 
e a gente não vai mais precisar partir.
ou insistir.
até lá, tem café fresco e forte no bule na cozinha,
pra que seu dia passe e você sequer sinta que faltou alguma coisa.
porque vai ver, nunca faltou nada.
vai ver, o vazio sempre veio do meu peito.
e das minhas vontades de voar...