segunda-feira, 24 de outubro de 2016

.eu não sei dançar a dois.

o ponteiro do relógio marcava um tempo diferente do meu.
enquanto cê me explicava a diferença entre verso, estrofe e refrão, eu olhei no fundo dos seus olhos e te contei:

"eu não sei fazer rima. 
então não me queira poesia".

cê sorriu. 
aquele seu sorriso leve, de quem acha graça sem pressa e enlaça o silêncio pra gente não se soltar.
que se cê não se importasse, eu pediria permissão pra morar dentro do seu riso todas as manhãs. 
e cá no fundo, eu sabia que toda essa minha urgência em fazer parte do seu passo, ia acabar me deixando sem eira, beira e sem rumo de voltar.
porque é assim: 
toda vez que a gente encontra alguém que enche nosso peito de vontade de ter paz, a gente fica meio achando que é preciso segurar pelas pernas, pra não escapar. 
cê me disse, com os olhos, que não ia a lugar nenhum em que eu não pudesse estar.
e eu não entendi.
danei de colocar-te um peso nas costas e fui embora, mesmo sabendo que deveria me encostar no seu peito só pra ouvir seu coração pulsar.

"eu não sei dançar a dois", te escrevi.
"dois pra lá, dois pra cá", cê me respondeu.
e foi nesse compasso, que eu achei muito mais delicado te fazer melodia e não poema.
pra se cantar.
te (en) cantar.

silêncio.



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