quinta-feira, 27 de outubro de 2016

.quando estiver quase esquecendo.



sou de choro fácil. e jamais me esconderia de você por trás das suas cortinas. 
desculpa. é que tenho medo de tudo. sempre tive. 
(de altura, da solidão, do barulho, do cheio, do vazio, da perda, da entrega, dos encontros). 
e de todas as vezes, essa não podia ser diferente?
não, não foi. 

é que eu sofro de distâncias. sempre sofri.
e quando parei nos seus olhos, eu entendi porque alguns abismos são maiores que os outros.
"e aí, vai saltar?"
é que ainda tenho medo de tudo. sempre tive.
(do seu sorriso, do seu abraço, da sua voz, do seu silêncio, do seu passo, desse encontro).
e de todas as ilusões, essa não poderia ser diferente?
talvez, mas não sei.

é que sou de Libra, com Lua em Câncer.
e não sei esquecer. 
e não sei amar de jeito simples. 
e não sei como te dizer "não vá embora".
me ensina um jeito de te fazer ficar?
porque eu tenho medo de tudo. e sempre vou ter.
(das minhas memórias, dos meus destinos, dos meus sonhos, da minha voz, dessas palavras).
e de todos os medos, esse não poderia ser diferente?
sim, mas não foi.

é que eu aprendi a coragem e a conjuguei com a solidão.
assim mesmo: sem eira, sem beira, sem verbo.
por isso eu vou ter sempre medo de tudo. 
(de onda em mar revolto, de voar ao lado da asa, de ir embora e deixar a mobília, de ficar e não ter nunca mais pra onde ir, de te deixar pra trás) 
e de todos os amores supostos, esse não podia ser diferente?
sim. e é... 

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

.eu não sei dançar a dois.

o ponteiro do relógio marcava um tempo diferente do meu.
enquanto cê me explicava a diferença entre verso, estrofe e refrão, eu olhei no fundo dos seus olhos e te contei:

"eu não sei fazer rima. 
então não me queira poesia".

cê sorriu. 
aquele seu sorriso leve, de quem acha graça sem pressa e enlaça o silêncio pra gente não se soltar.
que se cê não se importasse, eu pediria permissão pra morar dentro do seu riso todas as manhãs. 
e cá no fundo, eu sabia que toda essa minha urgência em fazer parte do seu passo, ia acabar me deixando sem eira, beira e sem rumo de voltar.
porque é assim: 
toda vez que a gente encontra alguém que enche nosso peito de vontade de ter paz, a gente fica meio achando que é preciso segurar pelas pernas, pra não escapar. 
cê me disse, com os olhos, que não ia a lugar nenhum em que eu não pudesse estar.
e eu não entendi.
danei de colocar-te um peso nas costas e fui embora, mesmo sabendo que deveria me encostar no seu peito só pra ouvir seu coração pulsar.

"eu não sei dançar a dois", te escrevi.
"dois pra lá, dois pra cá", cê me respondeu.
e foi nesse compasso, que eu achei muito mais delicado te fazer melodia e não poema.
pra se cantar.
te (en) cantar.

silêncio.



quarta-feira, 19 de outubro de 2016

.[do livro de cartas] todo início de amor.

Bisa sempre me disse, Salvador, que a gente só ama uma vez. Sempre achei isso muito perigoso... E se o amor passar por nós sem que a gente perceba? Teremos perdido aí a única chance que a gente teve de amar?

Eu gosto de você. Ainda não sei o que isso quer dizer, mas saber que o seu sorriso é o mais bonito desse mundo, me conforta. Chega a me doer o peito essa sua ideia de ir embora outra vez. De pensar nisso, me parece que vou perder o fôlego aos pouquinhos e ficar sem ar até que você volte.

Eu tenho medo que você fique e seja infeliz. Eu tenho medo que você parta e seja tão, mas tão feliz, que nunca mais volte. Eu tenho medo de imaginar que os dias sem você vão ser minha maior dor de cabeça... Mas eu preciso deixar que você vá. Que de todas essas opções, a que eu mais temo é a primeira, somada à ideia de que aqui, você nunca realizaria seus sonhos...

O mundo é grande por demais, Salvador. Mas visto assim, pela lente dos seus olhos, ele fica tão possível, que imagino que se a gente apertar um pouquinho, conseguimos até coloca-lo em uma garrafa.

Se isso é amor? eu não sei. Sei só que meu coração entra num ritmo descontínuo sempre que você diz que vai chegar. E então eu sinto aquelas palpitações leves no estômago e dou sorrisos pequenos, como se eu ainda acreditasse que é possível ser feliz...

Tomara que Bisa esteja errada e a gente tenha mais de uma chance de amor. Desconfio, aqui dentro, que se assim fosse, em todas elas eu amaria você. 

Sempre com sorrisos,

Alice.



segunda-feira, 10 de outubro de 2016

.entreaberta.

quando cê foi embora, eu fiquei um tempo sem saber o que é que teria sido.
aí, eu fui perdendo as forças e a noção das coisas, como se de repente, eu não morasse mais num reflexo de espelho... eu fiquei sem lugar. como quando a gente quase se afoga e fica remando, debatendo os braços, pra tentar sair daquela água e se salvar.
eu me afoguei na sua partida de um jeito que sair era difícil, mas ficar também eu não podia. 
aí eu passei a inventar as coisas, fingindo que amor e dor não combinam.
desse jeito, aos poucos, cê foi se transformando em uma pintura bonita, desbotando nas paredes de mim.
de vez enquando, nos intervalos entre uma saída e outra, ainda sinto vontade de te alcançar de novo, só mais uma vez. e, como se nada tivesse acontecido, te dar um abraço aconchego. solução pra ser silêncio e não mais pavor.
mas cê sabe também... não dá jeito mais de ser, quando a gente já não mais é há tempos.
aí, eu faço desses dias nublados minha oração. e quase em prece, recorto seu sorriso das nuvens, procurando um pouco de azul.
funciona.
e tem sido um gosto descobrir cores de novo...