segunda-feira, 27 de julho de 2015

.tomar nota:

cada coisa 
(semente, planta, chuva, sombra, pessoa) 
tem seu tempo.
amor também.
há de ter tempo de 
surgir (nos olhos), 
crescer (no sorriso), 
amadurecer (nas mãos), 
permanecer (nos passos), 
sofrer (nas cicatrizes), 
morrer (nos desencontros), 
renascer (nos recomeços).
pular ou apressar qualquer caminho é tirar o amor do rumo,
é dar-lhe chance de não querer ficar.
há de se compreender:
as coisas mais fortes, carecem de tempo para criar suas raízes...






...

[primeiro dia de julho]


sexta-feira, 24 de julho de 2015

.para enfrentar agosto. e atravessar a vida.

já faz um tempo que queria lhe escrever. mas não sabia como começar a lhe dizer qualquer coisa. também, você não me dá tempo... engole minhas palavras com sua ausência e me tem muda, silenciosa, quieta. o horóscopo disse que tenho até amanhã, 25, pra resolver as coisas importantes da vida, porque Vênus, meu planeta regente, vai dar uma volta sozinho, deixando as coisas suspensas e imóveis até setembro. sei que você não acredita em nada disso. mas prevejo um agosto difícil, me atendo às previsões de Caio (Fernando Abreu), em suas sugestões de como atravessá-lo. 


"É preciso, quem sabe, ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente 'ah!', escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante:ir, sobretudo, em frente."


tenho ido. saio de casa para sentir o fim do inverno, vou ao teatro, visito exposições, bebo vinho, vejo alguns amigos, faço planos pra atingir um sonho, e os ipês rosa/roxo/lilás teimam em enfeitar os dias e o meu sorriso. não há você em nada, além do pensamento e de algumas esquinas. me perdoe. é que ainda não aprendi a ler seu coração, nem suas entrelinhas, nem suas mágoas. justo eu, que tenho percebido tudo com a sensibilidade que os últimos dias me devolveram na alma, me pego confusa, sem sequer acertar uma previsão em que meu sentimento te encontra. vai ver, sua não crença me bloqueia. vai ver, meu quase amor por você faz com que minha alma crie o que não existe... 

(no fim da tarde, a 31a Bienal de São Paulo me perguntou "como sentir coisas que não existem". eu não soube responder, mas entendi. agosto vai ser um mês difícil. e eu não poderei mais me agarrar a você para continuar sorrindo...)

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 ♫ The Paper Kites "Tenembaum"

quarta-feira, 15 de julho de 2015

.poema.

se eu fosse te escrever um poema, 
certamente diria da lembrança de um dia em que baixei a cabeça no seu ombro e, 
no segundo seguinte, senti seu cabelo recostando no meu...
Mas eu não sei fazer rima. 
E meu coração nasceu assim: sem poesia. 
E por isso prefiro deixar desse jeito, 
só com as memórias que terminam com um beijo doce na testa 
e cinco dedos das mãos 
tentando se enlaçar nos meus...


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quarta-feira, 8 de julho de 2015

. você vai voar, eu sei .

Dizem que nasceu em uma dessas manhãs bem frias de julho, em que não é permitido sair de casa sem meias para proteger os pés. Não tinha sol. Assim como também não havia solidão nos olhos ou palavras que fizessem algum sentido, mesmo que tivessem a mínima importância. Cresceu assim. Preferira que fosse outono, claro, mas como sempre disse, “a gente não escolhe quando chegar e nem tem coragem suficiente pra decidir quando partir”.
Nunca se queixou da vida, nem foi de criar muitos sonhos ou expectativas. Era meio feliz e só. Quando criança, não pensava em envelhecer. Foi deixando o caminho ser traçado, no tempo dele, com todas as implicações e docilidades que isso pudesse significar. Era dessas pessoas que choram em público e que carregam a fragilidade nos olhos. Não tinha pressa de viver, até porque sabia que quanto mais adiasse a vida, mais longe se manteria da morte e da dor.
Tinha dias, no entanto, em que entristecia e queria partir. Viver em qualquer outro lugar que pudesse lhe trazer algo novo. Perto ou distante. Não importava. Aí, quando era assim, eu só dizia a ela que as coisas iam melhorar, embora eu mesmo desacreditasse nisso algumas vezes. Então eu apagava as luzes. Cobria-lhe os pés gelados com a coberta encolhida no pé da cama. Dava-lhe um beijo na testa e ela sorria confortada, meio feliz, meio sofrida como passou a ser. Imagino que se sentia menos só quando era assim. Imagino que fechava os olhos todas as vezes pensando: “até quando, meu Deus!”.
Deus.
Porque fé ela ainda tinha.
O que eu gostava mesmo era dos dias em que ela ficava satisfeita e gargalhava da vida feito criança. Daí fazia planos, prestava conta do dinheiro que guardava, pensava em viajar, em arrumar o cabelo, comprava uma roupa nova, e me parecia ter sido feita pra viver assim: na alegria das pequenas coisas. Nesses dias, a esperança dela redescobria a minha e, automaticamente, o mundo parecia menos vazio e a minha solidão ficava um pouco menor.
Meu medo maior era de que ela desistisse, ‘entregasse os pontos’, como dizem por aí. Meu medo era que ela se doesse muito, ainda mais do que já doía, e resolvesse parar de acreditar nas manhãs. Meu medo era que ela perdesse as forças e eu não tivesse coragem suficiente pra lhe amparar e pra lhe cuidar as tristezas. Meu medo era que ela não suportasse e, assim, minha vida se tornasse insuportável também.
Ela não aprendeu a dizer “eu te amo”, mas eu lhe dizia sempre que a saudade apertava ou quando eu sentia simplesmente que a minha vida seria pra sempre um buraco vazio sem ela. Daí a gente se sorria, mudava de assunto e tudo continuava como tinha que ser: em silêncio, como quem crê na beleza dos recomeços.