sexta-feira, 18 de outubro de 2013

. metaforicamente

O mundo é bem maior do que você pensa, embora ele caiba na palma da tua mão em algumas manhãs chuvosas de verão. E é bonito vê-lo pelo reflexo dos seus olhos e do seu coração, embora algumas vezes os dois fiquem um pouco embaçados pela poeira da vida.

Não me lembro bem ao certo qual foi o dia, mas a impressão que sempre tive é a de que você me trouxe uma caixa fechada de alegrias desde que chegou. E mesmo que doa às vezes, já que todo sorriso traz consigo uma consequência, lhe abrirei os braços sempre que você partir e voltar. E partir outra vez. E voltar de novo... porque deve ser assim a vida. E acredito que o coração da gente (ou ao menos o meu) sempre sabe, nem que por alto, a quem amar.

Por isso não se assuste com o tamanho da vida. Com o tempo. Com seus sonhos. Com a tristeza. Com os dias de chuva. Com a solidão. O mundo é bem maior que seu coração, mas não é capaz de abraçar silêncios. Nem de apartar magoas. Nem de matar de saudade. E é sim bem maior que a gente pensa. Mas nunca vai ser tão grande quanto a alegria de dividir o vento, o caminho, o passo, a mesa, a vida com você. Ah, que maior que isso ele nunca vai conseguir ser...

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

. caio .

"Sou tão talvez neuroticamente individualista que, quando acontece de alguém parecer aos meus olhos uma ameaça a essa individualidade, fico imediatamente cheio de espinhos — e corto relacionamentos com a maior frieza, às vezes firo, sou agressivo e tal. É preciso acabar com esse medo de ser tocado lá no fundo. Ou é preciso que alguém me toque profundamente para acabar com isso. Tenho medo de já ter perdido muito tempo. Tenho medo que seja cada vez mais difícil. Tenho medo de endurecer, de me fechar, de me encarapaçar dentro duma solidão-escudo."

. Caio Fernando Abreu in 'Carta a Vera Antoun' .
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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terça-feira, 8 de outubro de 2013

. do livro de cartas .

[escrita em um dia qualquer de outubro]

foi bom vê-la sorrir insistentemente outra vez. fazia tempo que teus olhos semi abertos te impediam de ver todas as cores do mundo e eu sempre achei isso um desperdício. tudo bem. prefiro sim que às vezes a escuridão te impeça de sofrer. mas convenhamos que até a dor é mais bonita quando se sorri.
sei também o quanto isso é difícil pra você. tantos carros, tanto barulho e uma sensação estranha de não pertencer a lugar algum. e ainda ter que acordar, fazer café, trabalhar, estudar, voltar pra casa, dormir, acordar, fazer café... mas há uma esperança nisso tudo e você sabe. há sempre uma ponta de esperança nos silêncios. e em todo o resto que movimenta a vida.
aproveite as tardes frias da última semana de mais um ano seu que termina, Alice. encare como um presente generoso de alguém que deseja que você seja feliz até nas primaveras. vista polainas quando for a feira. tem feito dias gelados aqui fora. espero que continue cuidando do seu coração...

Com carinho,
Salvador.