quarta-feira, 20 de março de 2013

. calmaria anunciada .

passado o verão, que, pra mim, é a estação mais eufórica e longa do ano, com uma obrigação escondida de ter-que-ser-feliz-a-qualquer-custo [porque é ano novo, e tem céu azul, sol, praia, férias, janeiro], vem a calmaria delicada do outono. Que faz das manhãs mais leves e das tardes mais doces e preguiçosas. Que vê os intervalos como uma possibilidade de encerrar alguns ciclos e inaugurar outros novos em qualquer anoitecer de vento leve.

gosto do outono. Dá-me a impressão de que é possível reinventar os dias a qualquer minuto e prepará-los pra outros verões que ainda possam vir. Gosto de pensar que a vida [ao menos a minha] se reinaugura a cada fim de março numa esperança meio boba de que, além da leveza, outono traga também força, surpresas e presentes [e, de tanto acreditar, acaba sendo assim]. Gosto do vento fresco, das cores, do café no fim da tarde de domingo, do silêncio entrando pela porta da frente, das folhas secas estalando por baixo dos pés...

gosto de imaginar que felicidades, ainda que imprevisíveis, se anunciam quando é outono. e que o coração pode descansar dos saculejos e agitações do mundo.
acho um pecado desperdiçar cada estação como se todas fossem iguais...

quinta-feira, 14 de março de 2013

. em partes .

3.

Outro dia te vi saindo. Era sábado, você usava um cachecol vermelho, um óculos escuro grande e eu fiquei feliz de te ver, embora tenha me preocupado com sua pele branca tão exposta ao sol da tarde. Eu sei que nunca dei a mínima pras suas alergias de calor. Sei também que sempre fui realista demais te mandando ir ao médico, enquanto o que você queria é que eu me levantasse e comprasse o remédio que tinha acabado e sempre lhe aliviava dores. Sei que vai dizer que não preciso me preocupar porque você está bem. Sei que não vai acreditar se eu disser que me preocupo inclusive com as sardas que você tenta esconder com corretivo e pó compacto, e com as manchas no seu braço esquerdo, que já estão pulando para o direito. Mas é verdade. E eu acho que você precisa se cuidar... que cada dia a mais é um a menos. Que nem sempre é preciso esperar uma nova estação para recomeçar, que você é frágil demais para enfrentar esse mundo sem poesia. Que já são quatro semanas e eu preciso confessar que cochilei na janela esperando você voltar aquele dia. E foi aí que você passou por meus olhos sem que eles percebessem.

E eu apenas sinto muito...

[trecho dos Mini Contos - parte II | parte I: ver aqui]