quarta-feira, 29 de agosto de 2012

. thé à la pomme .

eu toquei pra você a canção que eu não sabia, só porque era bonita. aprendi nota por nota, porque vez enquando ela te fazia feliz. e porque em dias de aniversário, eu sempre soube que seu coração adormece mais tristinho.
eu troquei meu tango pra tocar sua bossa nova de cór. que besteira eu fiz, não é mesmo querida? eu deveria saber que o dó sustenido pouco importaria diante dos seus projetos e sua alegria. justo eu, que sempre fui mais de bemois e tons graves, arrisquei num agudo frouxo sem sequer desafinar.
e eu dancei de um lado ao outro com gosto, cheio de mim e de uma dor estranha, que chegava, às vezes a incomodar. você diria que a vida é mesmo bonita, enquanto eu lembraria aquela canção francesa e a minha vontade descontrolada de ir embora de uma vez, antes do último sol de inverno e de mais um setembro chegar.
mas eu fiquei. parecia andar em cacos e tinha, algumas vezes, o estomâgo cheio de ar. porque as borboletas nunca mais bateram asas aqui dentro. e eu, que pensava que tinha esquecido como era essa coisa de paixão, cadeiras e chá, usei da minha sinceridade e deixei você sair em linhas tortas, que é pra não ver o passado ao olhar pra trás.

a má notícia é que anda chovendo demais no meu carnaval.
a boa notícia é que eu continuo vivendo na ponta dos pés.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

. paixão a gente não cura com aspirina .

...é como andar na corda bamba, com a pontinha dos pés: um frio na barriga, dois suspiros e milhares de sorrisos ao alcançar a travessia...
 
 
 
 

sábado, 11 de agosto de 2012

. (des) memória .

e então comecei a pensar o que seria da vida quando ela fosse embora. nunca tive tanto medo de perder alguém, porque, como costumo dizer, quem perde pai ou mãe tão de repente um dia, supera qualquer baque da vida com uma coragem tão sutil que corre o risco de ser confundida com frieza. mas ela não... com ela era diferente. nunca duvidei que a amava e acho que ela também sempre me amou. do jeito dela. silenciosa como mãe e como acabei aprendendo a ser.

semana passada eu sabia que não estava nada bem. saiu da cozinha, sentou no sofá da sala e desatou um choro que me partiu o coração... tentei acalmar a tristeza dela ouvindo os motivos e dando a desculpa de que tempo faz isso mesmo, "logo logo vai passar". melhor que ninguém, ela sabia que não era bem assim e que, daqui pra frente, tudo seria sintoma da idade que ela escondia semanalmente por trás da tinta-cor-castanho-escuro que lhe tampava os milhares de fios brancos... 

............

eu senti muito medo quando o telefone tocou às 10 da noite e vou continuar sentindo se ele tocar às 2 da manhã, ao meio-dia ou a hora que for. porque, de tanto pensar, eu descobri que a vida sem ela seria assustadora. seria como romper milhares de laços que me ligam a uma porção de coisas importantes, mas que nunca me preocuparam porque estavam sempre seguras nas mãos dela. seria como arrancar um pedaço do meu coração, que já anda meio retalhado tamanhas as desavenças da vida, mas que, como ela mesma me disse da última vez, 'são todas passageiras'. seria como ter que reaprender: a acordar, a comer, a sorrir, a amar, a viver...


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

. me escreva um postal ou me guarde em saudade .

ele só veio porque era preciso. e porque pedi. ou você acha mesmo que eu te dexaria ir, sem olhá-lo para dizer ao menos um 'até logo'?
eu sei que você não gosta dessas despedidas prolongadas. parece que fica sempre alguma coisa por ser dita, algum olhar largado no chão na hora de bater a porta. eu sei que você preferia ir em silêncio, carregando as malas nos braços, como quem sai fugindo de alguma coisa ou de um passado qualquer.
eu sei minha querida. eu sei de tudo... sei que é um bom emprego e a melhor chance de recomeçar longe dos fantamas que te assustam tanto. sei que você precisa ir, que aqui não há mais lugar pra você e que mais cedo ou mais tarde, essa sua necessidade de dias frios e tardes com mar iria te levar mais longe, pra bem longe. mas você sabe também que não dá para apagar lembranças e viver como se não tivesse memória. nem seu avô, com todos os problemas da idade, se esqueceu dos lugares por onde passou, das mangas que panhou no quintal, dos filhos que foram para longe, dos amores que não viveu.
a vida já tem linhas tortas demais pra gente fingir que tudo é em vão... e espero que você entenda que algumas coisas não tem mesmo solução, mas nem por isso merecem ser vistas pelas costas ou com os olhos marejados de sal...


"sei que ninguém mais envia cartas hoje em dia. cheguei a quase acreditar em você e sua teoria de que os correios ainda vão falir com o avanço das tecnologias. mas eu sei que seu coração é antiquado ao ponto de me mandar um postal. ou uma fotografia. e uma poesia em papel de carta azul."

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

. menino .

eu quis dizer a ele que, juntos, podiamos colecionar sonhos e construir novas ilusões.
ele, no entanto, preferiu escrever linhas tortas e esperar o amor que já veio, mas não vai voltar.

eu lhe estendi a mão...
e uma porção de passarinhos fizeram morada em seu coração.

e ainda assim, a gente conseguiu se fazer sorrir... 
mesmo sem ele me contar qual a sua cor preferida...

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

...

"- Ah. Menina, o que foi que aconteceu com você? O que foi que fizeram com você?
- Eu não sei, eu não entendo. Roubaram a minha alegria..."

Caio F. Abreu