segunda-feira, 25 de julho de 2011

Monólogo (em Dó# Maior)

- (...) mas eu continuo  aqui, intacta, com alguns sonhos perdidos, algumas verdades cortantes e várias mentiras de efeito anestésico e cicatrizante. Já desisti de coisa demais nessa vida, meu bem... já perdi muito tempo tentando completar as metades que me eram dadas, esperando que o resto fosse o suficiente enquanto os rostos envelheciam vendo o coração esfriar, o olho lacrimejar, a casa escurecer, o corpo silenciar. E não que fossem tristes os silêncios. Pelo contrário: talvez fossem a única alegria, já que sempre foi neles que nasceram os quadros, os amigos, as notas, as intenções. Não que fossem tristes as tristezas, as solidões, as ilusões, os esquecimentos. Era bonito, eu sei. Mas é que eu já desisti de coisa demais nessa vida e eu não sei querer mais tudo de volta, eu não sei querer voltar a não ser para os domingos e suas tardes amenas de outono, a não ser pelos sorrisos, pelas companhias, pela rotina sempre constante, pelos copos d'água e pelas xícaras de café... eu não sei querer voltar a não ser pelo amor e às vezes, por mais duro que possa parecer (e tenha certeza: não é), nem ele é suficiente pra me dar força pra recolher todos os cacos espalhados pelo chão e devolver pra um passado que é meu mas que talvez nunca tenha me pertencido. Não que tenha sido triste, porque talvez, no fundo, até a tristeza nem exista... mas deixa... eu só não queria desistir, não agora, não dessa vez...

domingo, 24 de julho de 2011

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Aos verdadeiros...



"É no olhar, sobretudo, que a amizade se confirma. É no jeito de olhar que nos reconhecemos no primeiro momento, nós, amigos recentes de longas datas. Isso porque amigo tem esse olhar bom: ele nos olha como se realmente quisesse nos ver, sem nenhum outro interesse que não seja a oportunidade boa e rara de partilhar amizade. Ele nos vê e permanece ao nosso lado, esse conforto que palavra alguma é capaz de traduzir. Esse detalhe grandioso que faz toda a mágica acontecer, porqueamar é também a arte de cuidar com os olhos."

(Ana Jácomo)

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Das solidariedades do amor

Há exatamente uma semana, torci meu pé. Justo eu que, nos meus quase 24 anos, de curativo só conheci os adesivos cor da pele, que a gente chama comercialmente de BandAid, passo agora uns bons minutos dos meus dias me dedicando a arte de enrolar aquelas faixas meio beges no meu tornozelo. 
Já quis quebrar o braço (direito) algumas vezes só pra ter um gesso cheio de assinaturas e ficar um tempo sem ir à escola, claro. Mas sempre tive tanto cuidado e medo, que essa "sorte" nunca me pegou.
Fiquei me perguntando, no entanto, se quando a gente vai envelhecendo as articulações ficam mais fracas, as percepções ficam mais reduzidas ou a gente passa a pensar mesmo que é esperto demais pra torcer o pé no degrau bem na porta da Redação do nosso emprego novo, a caminho do refeitório na hora do almoço...
Pois bem: as coisas são possíveis sim de acontecer a qualquer instante, de um jeito que nos deixa mais frágeis que o normal permitido... e eu acho que é na fragilidade que o amor mais mora e é nela também (a fragilidade), que precisamos mais dele (o amor).
E aí, eu chego bem onde queria chegar desde sábado, quando, em um corredor de supermercado, pensei escrever esse post...
Involuntariamente (eu sei), procurando alguma coisa que não me lembro mais o que, peguei Nelio umas duas ou três vezes dando uns passinhos meio mancos, como tem sido todos os meus desde o pé torcido. Não resisti e ousei brincar dizendo que o amor, além de tudo, é solidário... a gente sofre com a dor do outro, entristece se ele chora e mesmo que Carpinejar diga o contrário, fica feliz (ainda que egoisticamente) com a felicidade estampada no sorriso do outro. É involuntário... quando a gente vê, já tá lá dentro de uma vida que nunca foi nossa passando por emoções e compartilhando (além de outras diversas coisas) tempo...
É quando a gente se descobre frágil que se depara com todos os sentimentos sem máscaras, com seus espinhos, suas estradas tortuosas, suas solidariedades, doçuras e delicadezas... é aí que a gente reencontra o amor, que vez enquando, a gente guarda numas caixas dentro do coração, pensando mesmo que ele vai suportar ficar preso lá por muito tempo...

domingo, 17 de julho de 2011

...bordado em flor.

Fechou os olhos, respirou fundo por longos minutos porque lhe parecia (meio que absurdamente) que o ar deixara de ser suficiente e que a vida perdera um pouco da cor...
E por mais que a realidade sempre lhe parecesse mais distante que as coisas sonhadas, não haveria, dessa vez, ilusão capaz de ser inventada pra lhe tirar o amargo do sorriso e a dor dos ombros cansados...
E antes de assinar a própria desistência (essa que seria quase que sem perdão), chorou as lágrimas todas que lhe cabiam e decidiu desinventar a própria solidão.
E antes que re-dissesse ser sofrida a vida, concluiu com destreza e gosto, o quanto é bonito o tempo transformando com delicadeza e força, os momentos da gente em lembranças doces...
E antes que concluísse não valer a pena, viu que a vida ainda valia ser cantada, e mais que isso: ainda podia virar em versos simples, uma bela canção de amor...

De todas as coisas...

quarta-feira, 13 de julho de 2011

"É preciso saber ouvir. Acolher. Deixar que o outro entre dentro da gente. Ouvir em silêncio. Sem expulsá-lo por meio de argumentos e contra-razões. Nada mais fatal contra o amor que a resposta rápida. Alfange que decapita. Há pessoas muito velhas cujos ouvidos ainda são virginais: nunca foram penetrados. E é preciso saber falar. Há certas falas que são um estupro. Somente sabem falar os que sabem fazer silêncio e ouvir. E, sobretudo, os que se dedicam à difícil arte de adivinhar: adivinhar os mundos adormecidos que habitam os vazios do outro."
Rubem Alves

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Meu começo...

... essa semana mãe veio me ver. E eu, pouco acostumada com essas aventuranças dela, me surpreendi sem deixar, claro, de me achar uma das pessoas mais felizes do mundo.
Nesses quase dois anos e meio que saí de casa, ela nunca veio pra ficar...
Das poucas vezes que apareceu por aqui (acho que devem ter sido umas 4, no máximo 5), chegava domingo cedo com uma de minhas tias e ia embora logo após o almoço (isso, quando ficava para almoçar).
E nem era má vontade não... mas acho que às vezes, ela tem um pouco de medo de viver...
Mais do que me trazer alegria, ela me deu também orgulho... sei que parece bobagem mas esse processo todo para chegar aqui (ir pra rodoviária, comprar passagem, viajar sozinha e descer em um lugar quase completamente desconhecido), foi uma vitória pra ela e eu vi isso bem estampado em seus olhinhos-cor-de-abacate e de certa forma, isso me fez sorrir, mesmo sabendo que a hora de ir embora também chegaria depressa, assim como meus momentos felizes...
A vida tem me deixado um tanto frágil, é verdade. Algumas vezes, fico um pouco sem saber o que fazer e acabo agindo errado ou pelo menos, deixo o tempo passar sem ter a real dimensão do quanto nem é tão dificil assim acertar, quando se quer que a vida seja harmoniosa...
De tudo, no entanto, me alegra o fato de ser inverno e estar fazendo um pouco de frio e de logo mais chegar a primavera com suas delicadezas sutis...
... me alegra o fato de ter aprendido com destreza a lidar com a solidão, ao ponto de precisar de algumas dosagens dela para suportar os dias e suas limitações...
... me alegram, os laços eternos que estabeleci durante o caminho e o amor incondicional que mãe (e acho que pai também) me ensinaram a sentir...
... me alegra (e talvez esse seja hoje um dos meus maiores motivos para sorrir), ter por perto pessoas das quais me orgulho tanto e que também se orgulham de mim assim, sem pedir nada em troca, sem precisar coisas grandiosas e necessitando apenas dividir e compartilhar...

...aí ontem eu comecei outra vez... talvez fosse mais fácil dizer recomeço mas não acho tão bonito quanto começar mesmo... porque penso que quando a gente recomeça, estamos só repetindo um início que já tentamos antes, enquanto começar, é escrever um capítulo novo no livro de histórias da nossa vida...
não sei bem que rumos ela (a vida) vai tomar... talvez não precise mais que essa vontade mesmo de coisas novas ou de recuperar o que a gente foi deixando no chão, ao esbarrar nas paredes do caminho.
Só sei que existe uma leveza nas coisas e que preciso senti-la para então, fazer com que permaneça nos meus dias...
E eu agradeço: a Deus pela fé e ao caminho pela esperança...

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Das janelas abertas...

... ele contou que era amor e que quando é a gente sabe, mesmo que a pessoa vá embora.
aí ela lhe disse que sabia faz tempo, desde o primeiro dia que o viu, sentado no jardim das memórias dela.
e mesmo que nunca mais fossem dançar a mesma música nem escrever a mesma história nem rabiscar desenhos nas mesmas linhas, eles sabiam das coisas que existiram e que deixariam apenas saudade...
- saudade é dor que a gente não cura com aspirina nem novalgina nem outro genérico qualquer - ela disse.
- enquanto o tempo passa a gente esquece - ele disse.
e mesmo que o amor dele não fosse dela e que o dela não fosse mais dele como fora um dia, saudade é dor que só se cura com a presença, um chocolate ou um abraço apertado... que seja um qualquer.