domingo, 27 de novembro de 2011

Memória...

Mãe me disse ontem por telefone, que vó parece estar entregando os pontos. Passa os dias deitada rezando entre um cochilo e outro, levanta só para comer (quando come), tem falado pouco, não senta mais na varanda para ver a rua e o dia, disse entre uma conversa e outra que está muito cansada. 
Ao contrário de muitas pessoas com seus quase 90 anos, vó nunca falou em morrer. Sempre teve força suficiente para encarar pneumonias, cirurgias nos olhos, feridas que não cicatrizam na pele já muito frágil, dores fortes na coluna e nos joelhos que os médicos de uns dias pra cá disseram que não tem solução. Emagreceu quando foi preciso, encarou com bom humor a necessidade de usar aparelho nos dois ouvidos, usou bengala por uns dias até se lembrar que tinha força suficiente para caminhar sozinha, mesmo se escorando nas paredes...
Lembro os biscoitos guardados nas latas, sempre prontos com café quente quando eu saia do trabalho e passava para vê-la. Lembro ela guardando bem escondido, as coisas que eu levava todo início de mês e que ela adorava! mas que diziam que ela não podia comer. Lembro o jardim sempre bem cuidado e os almoços de domingo que nunca tinham a mesma graça quando ela não estava. Lembro as lágrimas correndo dos olhinhos dela quando fui me despedir antes de mudar e num abraço ela disse que daria tudo certo...
Aí mãe vem me dizer que ela tem andado desanimadinha, até nos dias de sol. E eu fiquei com muito medo de que a luz dela se apague, levando um pouco da minha também. Porque ela, além de amor, é também a esperança que eu tenho. Porque diferente de tanta coisa, de tanta gente, ela nunca deixou de acreditar na vida, nos dias amanhecendo, em mim...
E eu, que perdi pai muito cedo e mesmo assim não me acostumei com a ordem natural da vida, chorei de soluçar de saudade, de medo, de solidão... simplesmente por não saber o que fazer, o que pensar, o que dizer aqui dessa distância toda, sem poder vê-la todos os dias e ajudar a curar-lhe as aflições...
Pedi a Deus um pouco de alegria para esse dia cinzento de chuva. Acho que ele preferiu me dar fé...

"Esperar é ter esperança?" Lygia Fagundes Telles


domingo, 20 de novembro de 2011

"Depois"

"(...) depois, de aceitarmos os fatos
Vou trocar seus retratos
Pelo de um outro alguém
Meu bem vamos ter liberdade
Para amar à vontade
Sem trair mais ninguém
Quero que você seja feliz
Hei de ser feliz também
Depois"

Marisa Monte

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Sobre ser feliz...

Desde que você foi embora de vez, ela não escreve mais com frequência.
Andou triste por uns dias... não por você ter ido.
Mas por ter levado consigo, a capacidade que ela tinha de dar vida às palavras.
Hoje em dia ela escreve pouco. Mas vive mais.
E feliz, como é mesmo melhor ser.
Porque dizem que as coisas mais bonitas só são escritas nos momentos de tristeza.
Então ela guardou os cadernos, as canetas e os rascunhos, pra transformar a vida em capítulos e escrever em linhas tortas ou palavras incertas, a própria felicidade.

Obrigada por ter lhe tirado as palavras...

domingo, 6 de novembro de 2011

"Parabéns para você, que dia a dia aprende mais sobre você mesma. Que erra para aprender. Que é forte o suficiente para seguir em frente – sem lamúrias, mas com maturidade e sensatez. Que de vez em quando esquece a própria idade e o juízo em algum canto. E depois acha, como mágica. Parabéns para você, que tem um sonho. Que não desiste, apesar do que falam. Que não se abala, apesar do medo. Que sente uma fraqueza interna, mas caminha com passos firmes. Que fica tonta, mas não desmaia. Que apesar de cada pedra no caminho, corre. Que reclama dos problemas, mas entende que a vida é feita deles. Que tenta entender o defeito alheio – e procura perceber os seus."
 
Clarissa Corrêa (via "Que Seja Leve")
 
 
 
 

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Um pouco de ópera

Rodolfo e Mimi (foto: GuiaBH)

 Sem ter um motivo muito específico, nunca gostei de ópera ou apresentações orquestrais com tenores, cantores solistas ou coisa parecida. Sempre me encantou mais o movimento dos instrumentos e seus sons 'individuais' do que misturá-los a vozes e encenações. Mas algo me chamou atenção na Ópera La Bohème, que ficou em cartaz aqui em Belo Horizonte, no Grande Teatro do Palácio das Artes por pouco mais que uma semana. E tanto chamou atenção que, pela primeira vez, desejei muito assistir uma ópera. Pois bem... ganhei um par de ingressos para o penúltimo dia e fui: cheia de expectativas e com esperança de me surpreender. E realmente me surpreendi. 
Apesar de se passar em Paris, La Bohème é uma ópera escrita por um italiano, Giacomo Puccini, e teve sua primeira apresentação em fevereiro de 1896 em Turim, na Itália. Em quatro atos (o maior foi o primeiro, com 30 minutos), a história gira em torno dos personagens principais: Rodolfo, um poeta parisiense que se apaixona por Mimi, uma florista e pintora que sofre de tuberculose. Neste primeiro ato, os dois se conhecem, apaixonam e, no decorrer dos próximos três atos, vivem os desdobramentos das histórias de amor, com seus momentos felizes e tragédias típicas, ainda mais para a época em que foi escrita.
Confesso que o início só me fez pensar que minhas impressões continuariam as mesmas: nada de óperas na minha vida. Mas o cenário, a história e a desenvoltura dos personagens foram me prendendo a partir do segundo ato, cheio de cores, que contou com a participação da Cia. de Dança Palácio das Artes, do Coral Infantojuvenil também do Palácio e do Coral Lírico de Minas Gerais. Sim: o segundo ato me conquistou pelo seu encanto. Daí então, eu já quis ficar para ver o que aconteceria no terceiro e do terceiro, minha curiosidade aumentou ainda mais para descobrir o desfecho dos personagens no quarto e último ato.
Conclusão: saí do Palácio das Artes revigorada, apaixonada com o que vi e ouvi. Além dos solistas, que vieram de diferentes estados e países (mas um deles é mineiro), a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, que ficou no fosso, escondidinha, na minha opinião, também executou um trabalho maravilhoso, sob regência do maestro Roberto Tibiriçá.
No final de tudo, eu só queria pegar o telefone e contar cada detalhe de La Bohème para o Nelio Souto, que gentilmente me presenteou com os convites (sempre me proporcionando os melhores momentos e aprendizados com suas surpresas), mas que não pôde me acompanhar.
Sei que a temporada já acabou (os ingressos esgotaram nos primeiros dias) mas como é a terceira vez que a montagem é produzida em Belo Horizonte (a primeira foi em 1981 e a segunda em 1996) recomendo aos mineiros (e não mineiros também) que se surpreendam com La Bohème como eu me surpreendi... 

Saiba um pouco mais sobre a ópera  no site da Fundação Clóvis Salgado (clique para acessar)