segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

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"Se eu gosto de poesia? – Gosto de gente, bichos, plantas, lugares, chocolate, vinho, papos amenos, amizade, amor. Acho que a poesia está contida nisso tudo."

Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

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Eu saberia ir embora da tua vida, sem reclamar ou te pedir pra reconsiderar ou implorar pra me deixar ficar.
Saberia desligar o telefone até esquecer teu número que sei de cór, saberia apagá-lo sem deixar qualquer vestigio, qualquer marca, só pra não te importunar nas noites de longa solidão.
Saberia construir minha vida e levá-la a diante com força e graça, do jeitinho que sempre planejei antes de você chegar.
Saberia esperar com paciência todos os teus impasses, perdoaria todos os teus deslizes, cuidaria de todas as tuas feridas, transferiria pra mim toda tua tristeza.
Saberia escrever menos dor e mais sorrisos, cuidaria mais de mim, cortaria o cabelo outra vez, perderia meus quase 10 quilos a mais, comeria menos chocolate e mais frutas de sobremesa, faria minhas outras 5 tatuagens de uma só vez, tomaria cuidado com minha pele clara exposta ao sol.
Eu saberia até ser menos implicante e jamais cortaria os pulsos, nem morreria de amor como quase morri um dia. Jamais colocaria tuas roupas na rua, nem quebraria o vidro da tua janela, nem cortaria as flores do teu jardim.
Eu saberia lidar com tudo de maneira amigável, sem rancores, sem escandâlos nem brigas.
O que eu não sei é conviver com a frieza das coisas, como se elas fossem calculáveis e previsiveis. Porque elas não são. Pelo menos pra mim...
Então, se é pra transformá-las de uma hora pra outra, prefiro que elas deixem de existir. Me é menos doloroso...

"Tristeza"

Tristeza é quando chove
quando está calor demais
quando o corpo dói e os olhos pesam
tristeza é quando se dorme pouco
quando a voz sai fraca
quando as palavras cessam
e o corpo desobedece
tristeza é quando não se acha graça
quando não se sente fome
quando qualquer bobagem nos faz chorar
tristeza é quando parece
que não vai acabar
 
Martha Medeiros 
 
 

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Das belezas da vida


... essa foto é de um amigo muito querido. Não sei por que, mas como disse pra ele, essa em especial, me chamou uma atenção enorme e me impressionou muito.
Ele sempre me mostra o lado de lá por um prisma que não consigo imaginar de cá.
Costumo dizer que ele tem no lugar dos olhos duas lentes capazes de focar as coisas mais bonitas e nas mãos, a possibilidade de registrar essa beleza e entregá-la de volta pro mundo, pra que a gente perceba o quanto é simples.
Desejo sempre que vejo o olhar dele em fotografias (e acho que ele sabe disso e se não souber, fique sabendo agora que é de coração), que não pare, nunca! Porque quando nos meu dias mais cinzentos, eu abro os olhos e vejo uma imagem dessa, vai embora qualquer tristeza e começo a colorir tudo outra vez...

Foto: Thomas Henrique de Lima (guardem esse nome. que ele ainda há de ser ouvido muito por aí)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Auto-Retrato

- Olha, eu sei que tá meio tarde mas tô ligando só pra te dizer que eu entreguei os pontos. Como assim que pontos? Esses que a gente foi costurando pra tentar construir essas coisas que as pessoas chamam de amor e que eu, por vezes, prefiro chamar de silêncio. Tava até dando pra suportar mas quando fui reparar vi que tá ficando remendado demais sabe? Esse negócio de ter que saber e ter que aprender um punhado de coisas, não me cai bem. Eu não consigo, eu não tenho paciência, eu não sei lidar com as pessoas nem com a tua vida nem com essa chuva forte nem com essa nuvem cinza pairando em cima da gente. Como assim você não vê? Tá aqui, extensa, grande, flutuando nas coisas que a gente construiu. Não é exagero, só você não consegue perceber. E eu tô cansada! Sim, eu já sabia que você não teria o que dizer e que se a insatisfação é minha, sou eu que devo pegar minhas coisas e ir embora e me virar e procurar meu jeito de chorar menos e encontrar minha própria felicidade. Mas num é tão simples assim você entende? Você tinha que dizer que sente muito, que eu não posso te deixar, que vai ficar triste sem mim, que as coisas vão mudar e que essa nuvem vai sumir aos poucos ou até de uma vez... só depende de você. 
 (...)
Eu vou desligar o telefone e num volto hoje pra casa. Tá um frio do lado de fora que só de pensar em abrir a porta e tudo se misturando aqui dentro e essa nuvem que não vai embora, que insiste em ficar e que vai tomando conta da minha alegria e das minhas vontades e da minha graça de continuar costurando nossa simplicidade, vai acabar me consumindo! E a gente não precisa disso! Não, eu não preciso de tratamento: eu preciso é de você.

Ah, sempre Caio.

"Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena. Remar. Re-amar. Amar."

(Caio Fernando Abreu)

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

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"Quando a gente gosta, a gente começa emprestando um livro, depois um casaco, um guarda-chuva, até que somos mais emprestados do que devolvidos.
Gostar é não devolver, é se endividar de lembranças"
Fabrício Carpinejar
 
 

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

"Bem - me - leve"

Apanhador Só

"eu pensava ter uma bicicleta
e pedalar até a tua rua
dizer que ainda sou tua
eu queria ser um avião bem leve
pra sobrevoar o teu terraço
e tapar teu sol
fazer tu perceber
que sem eu aí não tem
ninguém pra te aquecer
perfume atrás da orelha
vestido bem vestido
um sorriso no rosto
um punhado de amigos
que é pra,
se acaso eu te encontrar um dia,
tu ver como eu ainda tô bonita
ou mais
ainda mais ainda
ou mais
ainda mais bonita"
 
 
... porque música boa tem essa coisa bonita de levar a gente pra onde quiser... 
 
Conheça e ouça: 

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Sobre o dia ter amanhecido cinza e o sol querer aparecer

    "Dançarás- disse o anjo- Dançarás com teus sapatos vermelhos... 
    Dançarás de porta em porta... Dançarás, dançarás sempre."
    (Andersen: Os Sapatinhos Vermelhos)

Pelas frestas da janela, entravam pequenos raios de sol que iluminavam a casa toda. De alergia, lacrimejava os olhos e espirrava continuamente sem conseguir parar. Estava introspectiva e já fazia tempo. Falava pouco, quase nem cantava mais e lia, muito! E ouvia também. Adquiriu com o tempo o maravilhoso dom de ouvir, seja uma música bonita ou qualquer desejo, pedido, tristeza ou prazer alheio, sem ousar um conselho sequer.
Havia os que viam nos seus olhos e na sua solidão aumentada, um pouco de melancolia e nostalgia. No entanto, era tudo uma questão de prática! De olhar pra dentro e descobrir as verdadeiras razões e sensações da vida e ficar lá por um tempo, para aproveitar a calmaria tão inconstante do próprio coração.
Até nos momentos de pura indelicadeza (costumava aumentar o tom de voz sem querer ou ser agressiva com palavras sutis e mal colocadas) conseguia enxergar a própria salvação. A partir do momento que percebe-se os próprios erros, o caminho vai ficando mais claro e começa então a ficar mais fácil perceber pra que lado direcionar o próximo passo, sem jogar o próprio corpo num grande abismo. E o mais importante, é que toda a inquietude foi transformada em pequenas doses azuladas de certezas e esperanças, que preenchiam os espaços acinzentados do céu de janeiro.
“Chega logo o outono”, desejava. “Tá faltando amarelo na minha vida.”, dizia. “Colore, pinta, faz um desenho bonito. Que a vida é curta demais pra se chorar desilusões por muito tempo...”

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Achados

"Eu escrevo porque hoje faltou luz e consegui enxergar.
Porque ao perder a claridade dos olhos, quase me perco toda. 
Eu e o amor, que me vinha descendo pelo rosto.
Hoje eu dancei, e o suor que caía por meu corpo também exalava amor.
E eu, suada e cega, percebi que a maior parte dos desencontros acontecem por conta da miopia interna resultante do olhar negligente. 
E que o amor não é coisa de um lugar só, de um instante só.
Amor, decidi hoje, é o que fica no ar depois de uma noite escura de descompassadas danças." 

Cleice Souza

sábado, 1 de janeiro de 2011

2011



Lembro de quando era criança (porque pequena ainda sou e acho que não há muito o que se fazer quanto a isso) e as pessoas grandes diziam que o mundo acabaria no ano 2000. E eu tinha tanto medo de não crescer, de não sobrar nada, de não conhecer as coisas bonitas, de perder o mundo todinho, de ter que parar de viver...
Porque já tinha se passado muito tempo e no entanto, ainda me faltavam tantas coisas que eu nem sabia direito como podiam existir, mas que transformadas em sonho, faziam parte do meu caminho.
Aí não acabou como o anunciado. E desde então, vi o mundo viver mais dez anos... e eu fui junto com ele, meio que aos trancos e aos barrancos, do jeitinho que é sempre porque tem que ser... porque se não fôr, o valor se perde e tudo se transforma numa estranheza só.

E cá estou eu no meu primeiro dia de 2011... desejando que seja diferente, como fazemos em todos os janeiros (ou nas segundas-feiras de cada mês). Cá estou... com o coração cheio de saudade, amor e certezas, como nunca antes. Cá estou... feliz, sorrindo, depois de perceber que a vida deu-me mais bençãos que dores, mais presentes e ombros amigos que lágrimas e tristezas.
Percebo então, que talvez como a primeira vez nesses dez anos de "mundo não acabado", o último (esse 2010) me deu de presente a oportunidade de pedir menos e agradecer mais... pelas amizades consolidadas, pelo trabalho, pelos esforços reconhecidos, pelas inúmeras alegrias, pelas mudanças, pelas escolhas, pela graça e calmaria do amor encontrado...

Dizem (as mesmas pessoas grandes) que o mundo vai acabar de novo em 2012.
E eu, que luto para não crescer como elas, prefiro acreditar que vai dar tempo pra me formar e que vão segurar mais um pouquinho, só até eu me casar em maio de 2013 e conhecer Paris lá pra 2015.


E com serenidade (essa, que me é companhia no momento), desejo que 2011 seja tão bonito como o ano que ontem era presente e agora já é passado. E como não poderia deixar de ser, lembro Caio F. Abreu e seu desejo repetido 7 vezes: Que seja doce.
E será... eu sei.  =)