segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Esperando por um título que ainda não escolhi...

"eu sei que às vezes a gente vive um desencontro danado mas eu queria agradecer, do fundo do meu coração, por você existir..." Anônimo

A vida tem se dividido entre manhãs ensolaradas e tardes tempestuosas. Faz um calor danado, e eu, que sempre preferi frio, ando tentando me adaptar a essa cidade quente e sem mar.
Uns dias atrás comecei a pensar em ir embora daqui... não sei pra onde mas me deu uma vontade de sentir o frescor do mundo. E tem tanto lugar bonito por aí, tanta coisa de sorrir e se admirar!
Mas eu, que nunca consegui me prender a lugar algum, aquietei meu coração distraído colocando-o pra repousar na beirada de um abraço.
E ele gostou de ficar ali quando descobriu que a vida sem cuidado e carinho é praticamente impossível.
Aí vez enquando volto a querer ir embora... molhar os pés na água ou esfriar o nariz até ficar vermelho de tanta neve. Ou encontrar a bela docilidade dos jardins com flores de primavera o ano todo ou a mágica absurda que imagino que deva existir nas ruas de Paris. E o engraçado é que de repente, isso tudo parou de fazer tanto sentido na solidão que passou a ser sonhado por mim buscando uma divisão, porque é tudo grande demais pro meu coração sozinho.
É nessas horas de delicadeza e descuido que a gente descobre o amor... quando quer recolher tudo que há de mais bonito na vida e juntar uma maneira de dividir com o abraço onde nosso coração repousa. Quando a gente quer morar no outro e deseja o tempo todo que o outro more na gente também, que é pra não sobrar espaço, nem faltar graça, nem existir mais solidão...
Muitas vezes, depois de descobrir esse amor, virá a dúvida. Mas até ela é um jeito de amar, um jeito de cuidar da gente mesmo e da possibilidade do outro sorrir.

Não sei até quando vai durar. Sempre digo que essas coisas de "pra sempre" são muito vagas e relativas. Mas eu sei que se a gente fôr embora um do outro um dia, restará pra cada um a certeza um tanto clichê de que valeu a pena e foi bonito, de verdade. Porque quando vai ficando velho, a gente vai aprendendo com os baques que amor da vida a gente não encontra todo dia, nem em qualquer esquina... é trabalhoso, demanda tempo, dedicação, respeito, cuidado... tem que ser com coração. Caio Fernando Abreu cita Guimarães Rosa em um conto e eu cito os dois aqui mais ou menos assim: o que tem que acontecer, tem muita força. E com a força que tem, só pode ter sido feito pra dar certo sabe... assim, limpinho, claro e bonito, do jeito que é.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Um tempo...

“A gente não vê quando o vento se acaba” Guimarães Rosa

Ontem mãe ligou dizendo que meu pé de graviola deu fruta e já tinha até virado suco pro almoço de domingo. Ela estava com a voz tão cansada e me deu vontade de correr só pra dar um abraço nela e dizer de novo que era só a gente querer e esperar mais um pouco, que tudo ia melhorar...
embora a gente tenha passado parte da vida em momento de espera, pra mãe ainda é dificil entender que as coisas não melhoram de um dia pro outro...
me deu saudade. E convenhamos, por mais dolorida que a saudade seja, é bom que ela exista pra que a gente não esqueça que, seja lá pra onde nosso caminho nos levar, metade do que a gente é vai sempre estar guardado onde a gente cresceu e passou maior parte da vida.

Depois do telefonema e ainda com saudade, comecei a pensar várias coisas e uma delas foi a maneira como tenho vivido meus dias. E conclui que parece que desliguei o manual e comecei a viver no automático. Sem maiores emoções, e só com a “divertida” condição de achar que em silêncio e sozinha, alguma coisa vai se abrir e me salvar. Aí eu resolvi que nesses meus dias de saudade, silêncio e solidão, vou me afastar um pouco daqui pra tentar encontrar um caminho. E vou porque o trajeto pode ser cansativo e triste e esse cansaço refletido em palavras pode não ser boml Esse encontro pode levar um dia, dois, uma semana, um mês, um ano! E enquanto isso, vou recolhendo muitas lantejoulas e purpurinas pelo caminho, enquanto semeio a certeza que mãe ainda vai aprender também: “é só a gente querer e esperar mais um pouco, que tudo vai melhorar”...
eu sei que sim...


quinta-feira, 18 de novembro de 2010

"eu juro vai ser melhor assim"

"eu já não ligo mais para você
hoje não canto
não falo, não saio, não durmo bem
os tênues fios que me ligam a você estão hoje em prantos
e no entanto arriscamos tanto nos envolver"

Graveola e o Lixo Polifônico, 'Dois Lados da Canção'

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Quando não sabe, a gente aprende...

tem chovido muito nos lados de cá. Vez enquando faz um frio!
ando um pouco exausta... e às vezes me pego sem chão, mas sempre respirando fundo, pra ninguém perceber o quanto eu me permito doer...
vivo numa luta diária. comigo mesma, pelejando pra não desistir.
Esse silêncio, essa (s) saudade (s), esse tempo que consome, essas ausências sem fim...
Outro dia, uma pessoa muito querida me perguntou sobre felicidade e a gente conclui, que por sorte ou falta dela, a gente nunca conseguiu ser feliz na companhia do outro sem pensar no tempo.
E ele nos traiu, assim como seres humanos traem, e como a gente não esperava.
Acho que ainda não é aqui sabe? Não é aqui que eu quero ficar... não é aqui que eu quero aprender a ficar.
Porque tem um mundo tão bonito lá fora e eu não conheço nem metade dele, que não sejam fotografias.
E eu quero conhecer, antes que fique preto e branco e envelheça... eu preciso.

Pedi a ele que me desse um Pai Nosso com três Ave-Marias.
Mas que tolice a minha! Ele não sabe rezar...





quinta-feira, 11 de novembro de 2010

"Eu quero...



... brincar de esconde-esconde
E te dar minhas roupas
E te dizer
E te dizer que eu gosto dos seus sapatos
E sentar na escada
Enquanto você toma banho
E massagear sua nuca
E beijar seus pés
E segurar sua mão
E escrever suas cartas
E carregar suas caixas
E rir da sua paranóia
E falar sobre o dia
E falar sobre o dia
E te dar fitas que você não vai ouvir
E tirar fotos suas
Enquanto você dorme
E te querer de manhã
Mas deixá-lo dormir mais um pouco
E beijar suas costas
E acariciar sua pele
E te dizer o quanto amo
Seu cabelo, seus olhos, seus lábios, sua nuca, seu peito, sua bunda, seu...
E sentar na escada
Até o seu vizinho chegar
E sentar na escada
Até você chegar
E me preocupar quando você se atrasa
E me surpreender quando adianta
E te dar girassóis
E ir a sua festa
E dançar até não agüentar mais
E sentir muito quando estou errada
E ficar feliz quando você me perdoa
E olhar suas fotos
E desejar ter te conhecido desde sempre
Sempre
E ouvir sua voz no meu ouvido
E sentir sua pele na minha pele
E ficar assustada quando você está bravo
E seu olho ficou vermelho
E o outro olho ficou azul
E te querer quando te cheiro
E te ofender quando te toco
Te abraçar quando está ansioso
E te segurar quando dói
Choramingar quando estou do seu lado
Choramingar quando não
E babar no teu peito
Me derreter quando você sorri
E não entender
Porque você acha que estou te rejeitando
Quando eu não estou te rejeitando
E me perguntar como você pode achar
Que alguma vez te rejeitaria
E me perguntar quem você é
Mas te aceitar de qualquer maneira
Mas te aceitar de qualquer maneira
E te falar
Sobre o menino da floresta encantada
Do anjo que voou através do oceano
Porque ele te amava
E escreveu poemas pra você
E me perguntar porque você não acredita em mim
E ter um sentimento
E ter um sentimento
Tão profundo
Que não consiga encontrar palavras para ele
E querer comprar um gatinho para você
Do qual você teria ciúmes
Por receber mais atenção que eu
E te segurar na cama
Quando você tem que ir
E chorar
Chorar feito criança
Quando você for embora
E te pedir em casamento
E você fala não mais uma vez, mas continuar pedindo
Porque apesar de você achar
Que não estou falando sério
Eu sempre falei sério
Sempre
Desde a primeira vez que te perguntei
E vagar pela cidade
Achando vazia sem você
E querer o que você quer
O que você quer
Você
E achar que estou me perdendo
Mas saber que estou segura com você
E te contar o que eu tenho de pior
E tentar
E tentar te dar o melhor de mim
Por você não merecer nada menos
E achar que está tudo acabado
Mas segurar mais uns dez minutos
Antes de você me expulsar da sua vida
E pensar que tudo está acabado
E me esquecer de mim
E tentar ficar mais perto de você
Porque é maravilhoso te descobrir
E fazer amor com você
Às três da manhã
E de algum modo
E de algum modo
Expressar um pouco desse devastador
Imortal
Irresistível
Incondicional
Envolvente
Acalentador
Desconcertante
Ininterrupto
Insaciável
Amor que sinto por você
E isso tem que parar
Isso tem que parar
Parar
Isso tem que parar"

Texto original da peça CRAVE, de Sarah Kane 


Achei aqui: Das Delicadezas

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Sobre o tempo...

... aí descobres que o sol não é um planeta e sim uma estrela.
E começa a perceber que o tempo passa independentemente do quanto se dedica a ele.
Aprenderás com as superficialidades da vida, que nada dura pra sempre.
Nem os momentos mais intensos são eternos.
Verás no movimento dos dias passando, o fio fino entre a destreza e a delicadeza...
Aprenderás com a dureza e riqueza dos dias, que o mais importante ainda são os sonhos construídos, idealizados e realizados com amor...
Sentirás desejos e vontades, dentre ir embora e ficar; dentre ficar só e não suportar a solidão; dentre nunca mais voltar e ficar um pouco mais até amanhã...
Encontrarás vários caminhos e nenhum deles será certo. Vai descobrir dura ou docemente, que na vida não existe certo e nem errado e sim as nossas cruas e individuais escolhas.
Entenderás que as estrelas vão estar sempre no mesmo lugar, até nas piores tempestades.
Somos nós que giramos... somos nós que cavamos e levantamos as paredes de nossas construções.
Sentirás vontade de voltar no tempo e perceberás que passou e que o que resta agora é uma leve esperança e crença no amanhã...
Vai chorar e entender que a solidão é bonita e reconfortante, apesar de...
Vai abrir os braços, livrar-se da rotina dos costumes ao menos por dentro, ao menos de coração.
Descobrirás na leveza dos dias, as doçuras e armadilhas da própria vida...
Abrirás as portas e janelas e num respiro fundo, entenderás o quanto dói e o quanto é tudo tão bonito e ao mesmo tempo...

...

"Ontem tomei um táxi e me distraí tanto olhando pela janela que no meio do caminho estendi a mão para o banco vazio do lado querendo pegar tua mão. Tô com saudade."

Caio F. Abreu


sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Só pela música...

... dá pra imaginar a vida doce, como a voz e a melodia de Yann...

alors tu te lèves,
tu vas faire du café,
et tu restes assis,
sans rien faire.
est-ce que ça va revenir ?... 
qu'est-ce qu'on va faire ?...



Do livro de cartas (n° 1)

Querida Ana,

Eu não me esqueci do seu aniversário. Me lembrei de você o dia todo, mais do que nos dias normais. Só que a vida anda uma correría estranha e não consegui colocar crédito no telefone por ausência financeira. Não tenho costume de rezar, mas pedi a Deus por você esta manhã. As coisas andam dificeis por aqui Ana. As pessoas correm tanto! E os carros também. Às vezes acho que não vou conseguir acompanhar e preciso parar um pouco pra respirar. A respiração aqui também é escassa, ar muito poluído, pouca circulação de ventos, essas coisas todas.

Outro dia da semana passada, desejei muito que você estivesse aqui. Tem tanta coisa bonita nesse mundo que eu queria mostrar pra você Ana! A Orquestra Sinfônica ensaiou uma peça linda: "Dom Quixote". Vem um Ballet (do Rio de Janeiro eu acho) dançar aqui sábado, naquele teatro grande do Palácio das Artes. Queria levar você e te convidar pr'um café depois (eu até deixaria você tomar chá).
Sabe Ana, sinto muita saudade do nosso tempo e das coisas simples e tão bonitas que me faziam sempre tão feliz. Não se preocupe minha amiga, eu não estou triste. Mas é que relembrar as coisas me deixa um tanto melancólica... lembra do tempo que a gente perdia sentadas na praça pra conversar? Perdia não: ganhava! E os sorvetes? Você mais nova, mas sempre mais sensata que eu, acertava sempre em não fazer misturas muito doces (meu exagero completava-se com aquela maravilhosa calda quente de chocolate). Aqui não tem sorvetes nem sorveterias nem domingos como os daí...

Outro dia, tive quase voltando Ana. Tenho certeza de que você me receberia de braços abertos. Mas aí eu pensei que você seria a primeira também a me dar os parabéns e o melhor abraço em cada vitória minha. Aí eu resolvi ficar... nem que por mais um pouco de tempo, pelo menos até encontrar o que fazer da minha vida. 

Estou te pintando um presente que não sei quando vou entregar, pois não sei quando vou te ver Ana.

A gente tá precisando de uma foto nova...

Vem me visitar qualquer dia! Vou mudar de casa outra vez semana que vem...

Te desejo toda a felicidade do mundo. Assim, branquinha, sem egoísmo nenhum, pr'eu te ver sorrindo e ficar feliz também...

Te cuida menina. A vida é bonita demais, mesmo com tantos poréns...

Amo-te Ana!

Avisa quando vier. Estou esperando desde já. Não sei fazer cookies sem você.

E sinto saudade...
E Feliz Aniversário.

Com Carinho,

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Abacate

"Sinto falta daí. 
Mas digo que na verdade sinto falta do colo, do conforto, do útero.
E que devo ficar por aqui"
Caio F. Abreu
Hoje acordei assim: sentindo muita saudade.
E os últimos dias, tão corridos, quase me fizeram esquecer como ela é bonita.
Sim! Bela... e com cores até.
A gente tem mania de achar ruim tudo que dói... mas não pensa às vezes que além da dor, a saudade carrega também amor.
Acho (não tenho certeza de quase nada nessa minha vida), que a gente só sente saudade daquilo que ama, daquilo que faz bem dentre tudo que fez parte da nossa vida.Ou que ainda faz, mas anda muito longe, por outros lados, encantando em outros cantos...
E pensando assim, a gente começa a achar um mundo de coisas de um passado, não muito distante, mas que a gente cria...

Ah... e tanto texto só pra dizer que sinto saudade de mãe... e o quanto me faz falta aqueles olhos cor de abacate olhando pros meus com tanta serenidade...