terça-feira, 30 de março de 2010

Arco-íris

- Ontem à tarde tinha arco-íris, você viu?
- Não. Acho que as cores daí não conseguem alcançar aqui.
- Achei que arco-íris ia para todo lugar.
- Não entendo muito bem de arco-íris. Apenas gosto, pelas cores...
- Me lembrei de você.
- E ele pode bem ter chegado aqui e eu só não ter visto. Ando tão distraída e no jornal não há janelas.
- Pensei em você.
- Vou dormir.
- Resolvi que vou te visitar em breve.
- Boa noite pra você também.
- Acho que vai ser bom te ver.
- Não sei.
- Pois eu sei que será bom pra mim.
- Pois eu não sei se será pra mim...

.

'(...)eu tive que ficar quieta no meu canto, toda lacerada pela falta.
Foi um período solitário em que vivi o luto necessário.
Ele nem desconfiou que eu também estava triste, talvez se sentisse melhor se soubesse.
Mas eu tinha que fazer valer minha palavra, demorei muito tempo tomando coragem.
Demorei muito tempo desparafusando aquela gaiola e, depois, reaprendendo a voar.
Tive ímpetos de escrever uma carta falando das qualidades dele, de tudo que havia me feito crescer.
Mas quando fui escrever só consegui dizer: desculpe, não se pode negociar com a paixão.
Porque eu também não entendo às vezes esses caminhos que a vida tece.
E nós que morávamos um no outro, ficamos sem casa.
Perdoe a falta de abrigo, é que agora eu moro no caminho.'


Marla de Queiroz
 

domingo, 28 de março de 2010

A Grande Fuga

"(...) procurando a grande fuga
Entra em seu carro e dirige por aí
Longe de todas as coisas que somos
Põe um sorriso e inspira, e expira
e diz:
Tchau Tchau, tchau para todo o barulho
Oh, ele diz, Tchau tchau para todo o barulho (...)"

tradução de um trecho da música 'The Great Escape' de Patrick Watson

... achei essa música no blog Das Delicadezas da minha amiga Tatita!
e apaixonei.
Tatita sempre me trazendo as delicadezas certas nos momentos certos.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Sobre ser feliz...

Se as cores dos dias faltarem, a gente cria os sorrisos maiores do mundo...
Vai se equilibrando nas correntes que cercam as praças.
Vai fazendo as claves voarem no céu.
Se torna malabarista da própria vida.
E sorri!
E faz o outro sorrir também.
Sai espalhando encanto pelos cantos.
Sai doando abraços sinceros pra quem lhes merecer.
Olha com aquele olhar perdido que sai lá do coração.
Enche de alegria a moça meio triste sentada na grama ao lado, que saiu de casa meio cedo só pra ver isso tudo acontecer.
E se der vontade de chorar?
A gente pega as tardes de outono e as transforma nas melhores manhãs.
E sai pra viver o dia inteiro como se sempre fosse cedo e nunca houvesse tarde demais.
E qualquer coisa, a gente inventa um monte de estrelas quando anoitecer.
E guarda tudo numa mala bem antiga assim que o sol acordar.
E vai vivendo aos poucos. Um dia de cada vez.
Como se todos os dias pudessem ser tão felizes! Quanto o tanto que a gente quiser...

[dedico este texto a alguém que fez meu dia sorrir!]

quarta-feira, 24 de março de 2010

Problemas...

"I never meant to cause you trouble
And I never meant to do you wrong,
And I, well if I ever caused you trouble
Oh no, I never meant to do you harm"
Coldplay

segunda-feira, 22 de março de 2010

Ao primeiro dia de Outono...

"Para as coisas que a gente não entende... alguns minutos.
Para as que a gente não sabe o que dizer... o resto do tempo pra pensar."

Sábado o dia amanheceu verão e entardeceu outono.
Fico feliz pelo outono.
Fiquei feliz pelo fim de semana.
Mas tenho por dentro a sensação de que tem alguma coisa faltando.
E enquanto isso, vou adiando as decisões que preciso com café e tinta para tecido.

Hoje conheci uma banda e o nome dela é Cinza.
Hoje eu ouvi uma canção e o nome dela é "Sonhos e Afins".
Fiquei pensando... 
E a chuva agora à tarde nem me deixou sentir o outono no ar.
Só me deixa sentí-lo no coração ameno, triste e indeciso... tentando acertar qualquer coisa, nem que seja um detalhe só...

Do sábado eu fiquei com o céu azul, as crianças sorrindo, o chopp verde, a angústia de uma quase volta, os sorrisos que consegui e os que me angustiaram ainda mais.
Do domingo eu fiquei com a saudade, a multidão, as fotografias, os amigos...
Tenho a leve impressão de que os próximos dias serão intensos demais.
Pelo menos até todas as folhas amarelarem, caírem e o outono passar...


ps.: essa foto foi parte do meu momento feliz de sábado Bia.Tirei pra cumprir nosso trato.

Plástico Bolha...

Varri tudo que tinha dentro do meu coração.
Tirei tudo das gavetas, limpei, deixei tudo vazio pra não correr risco de transbordar de novo.
Aí comprei 7 metros de plástico bolha e um rolo de durex daqueles bem largos.
Tem mais ou menos um mês que embrulhei meu coração.
Isolei das coisas externas.
Nada mais entra, nada mais sai.
Num é egoísmo não.
É só um não saber o que fazer direito.
Então, melhor se defender.
Do que deixar o coração desprotegido de novo...

sábado, 20 de março de 2010

Passa.

"Acendi um incenso.
No rádio, Chico canta 'Vai passar'.
Sim, vai passar. Passa. Passará."

Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 18 de março de 2010

Das coisas que fazem sorrir...

Faz uns dois dias que resolvi dar leveza a minha vida e fazer dela o melhor lugar pra mim, porque não vou conseguir fugir dela tão fácil assim...
Nesses dois dias li mais, escrevi mais, voltei a ouvir canções que fazem bem e alegram a alma e o coração.
Hoje acordei assim: ouvindo Villa Lobos e as Bachianas Brasileiras.
Acho que nunca tinha prestado tanta atenção nelas como hoje e estou por demais encantada.
Queria que todas as manhãs fossem tão doces como essa...

segunda-feira, 15 de março de 2010

É teu...

- Trouxe pra você.
- O que é?
- Abra!


Depois de alguns minutos...


- Neste cd estão todas as músicas que escolhi pra você nesses dois anos. No caderno, todos os textos que te escrevi. Nos envelopes, todas as palavras que queria ter dito mas que só consegui escrever. Nessa caixinha menor, do lado direito, estão as fotos que imprimi pra nunca esquecer o seu rosto. Na agenda do lado, seus números de telefone porque apesar de tê-los decorado, quero não precisar deles nunca mais.
- Por que está me dando tudo isso?
- Porque preciso me livrar de você. Isso já está guardado comigo a muito tempo. E toda vez que volto pra casa fico triste quando vejo isso tudo lá. Então, neste último fim de semana resolvi guardar tudo nessa caixa e te devolver. Não é mais meu. É seu agora.
- Por isso você veio aqui?
- Sim. Eu precisava te ver. Não dava pra mandar pelo correio.
- Não sei o que te dizer.
- Não precisa dizer nada. Só ouça as canções.
- Também tenho algo pra você.
- O quê?
- O quadro e todo seu amor por mim. Quero te devolver.
- Não. Fique com tudo. Não preciso de mais nada. Eu só precisei de você o tempo todo. mas agora não tenho mais tempo nenhum...

.


"-Às vezes sinto falta de mim.
-Eu também, menina.
-Sente falta de si?
-Não, de você. E dói.
[Silêncio]
-Me abraça?
-Sempre."

Caio Fernando Abreu

domingo, 14 de março de 2010

Antecipando as estações...

... o mês de agosto parecia já ter chegado
de tanto que ventava lá fora.
outono? ainda não era. Mas era quase.
Da janela entreaberta, dava pra ver o céu azul com algumas nuvens e ouvir as folhas que dançavam no ritmo do vento.
Do lado de dentro, ela ainda sorria...
sorria uma vontade grande de sonhos a realizar.
sorria um amor imenso que trazia no coração.
sorria um sorriso calmo de quem se sentia em casa outra vez.
E ao mesmo tempo em que sorria, ela também chorava.
chorava uma saudade que já doía.
chorava a falta que sentia de alguém e de alguns meses atrás.
chorava a hora de mais tarde ter que ir embora...

É certo que faltavam ainda muitas rodas- gigantes pra rodar.
E o tempo ia continuar passando.
E as coisas? Essas, iam enfim entrar em seus lugares pra bagunçar outras e assim seguir em frente.
Era hora de fechar a janela, apagar a luz e voltar pra vida de agora deixando no quarto escuro todas as lembranças e vontades que a volta lhe despertou.
Porque as águas de março vão logo fechar o verão
E ela? Tem esperado o outono e só...
Porque não cabe mais.
E ela está triste demais por se lembrar.
... e aceitar...

terça-feira, 9 de março de 2010

Assim...

Eu tinha que continuar... mesmo que o mundo desabasse nos meus pés, que o céu ficasse cinza o ano todo e que o sol jurasse nunca mais aparecer. Eu precisava continuar mesmo que eu perdesse todas as pessoas que amo e percebesse que meus amigos nunca foram de verdade e que tudo que construí até hoje foi em vão.
Eu precisava continuar... mesmo que as folhas nunca mais caíssem no outono e nem as flores saíssem na primavera.
Eu precisava continuar mesmo que perdesse todas as minhas cores, todos os meus sonhos, todo meu tempo...
Eu precisava continuar mesmo que o violino fosse embora, que as lembranças doessem e a dor de alguém me doesse também.
Eu tinha que continuar mesmo que a saudade cortasse o coração transformando sorrisos em lágrimas.
Tinha que continuar mesmo que pra ficar muito triste por um tempo e pra chorar tanto até desidratar.
Precisava continuar... mesmo que não tivesse pra onde ir, mesmo que acordasse com preguiça de levantar, mesmo que você não viesse mais.
E eu continuei... porque ainda não tinha perdido minha família e porque o telefone tocou e a voz do outro lado me fez perceber que os melhores amigos do mundo são os poucos que tenho.
Continuei porque apesar de ter chovido, o sol apareceu à tarde, fez um baita calor e os ponteiros do relógio não pararam pra me esperar.
Continuei porque ainda podia sonhar e isso era suficiente.
Continuei porque ainda existia vento, porque a música ainda me dava vida e ainda vivia dentro de mim.
Continuei porque ainda tinha uma cafeteria pra ser minha, uma viagem as ruas de Paris, um medo de altura pra perder.
Continuei porque ainda não tinha voado, nem aprendido malabarismo, nem andado de montanha-russa com você...
Continuei porque precisava. Porque não dava mais pra parar.
Continuei porque você não me enviaria seus melhores sorrisos via Sedex. Então eu precisaria buscá-los onde quer que fosse.
Continuei porque ainda dava pra respirar. E se dava pra respirar, é porque ainda existia vida. E se existia vida, era pra viver...
Mesmo que aos trancos, aos barrancos, entre lágrimas, erros e acertos.
Continuei. Sem esperar nada demais. Sem me preocupar com o tempo...
Tinha uma pedra no coração. Na verdade, tem.
Nem sei quando ela vai sair de lá, mas sei que um dia vai.
E que cada passo vai valer cada dor e que cada dor vai valer cada lágrima.
E toda lágrima vai virar cristaizinhos furta-cor, pra recolorir.
Continuei. Porque ainda tinha tudo e tudo era suficiente pra me fazer feliz.
E ainda não vou parar. Porque ainda não acabou. Porque não tem cara de fim.

domingo, 7 de março de 2010

Estive pensando...

... porque aprendi que tudo passa, é que resolvi sorrir.
Existe aquilo que Caio Fernando Abreu chama de impulso vital e que eu prefiro chamar de vento...
Uma vez, li num conto de Guimarães Rosa a seguinte frase:
"A gente nunca sabe onde o vento se acaba."
E passei a me perguntar se o vento tem fim.
Hoje descobri que não.
Porque as coisas verdadeiras resistem a tudo!
Amor, carinho, cuidado, amizade, respeito, verdade...
Essas coisas que não vão acabar nem se perder.
Assim como o vento...

sexta-feira, 5 de março de 2010

.

"... pipa no ar de papel crepom
grito de torcida
minha alma está solta
saudade no coração
roupas de frio no verão
a Lua Crescente sorri
Ainda é noite clara aqui..."

quinta-feira, 4 de março de 2010

Sem Cor...

Ela pediu um café enquanto esperava.
Ninguém iria chegar mas ela estava triste demais pra se lembrar disso.
A noite passada passou e ela não dormiu.
10 anos se passaram e ela sabia que se viessem mais 100, ela não se esqueceria.
"Mas ela era muito pequena pra se lembrar!"
E hoje é muito grande pra esquecer.
Ainda bem que ela tem força de sobra. Pra suportar...
E pensar que vem chegando dia 10 de março e que tudo volta e adquire uma velocidade gigante!
E o ritmo dela não acompanha mais. Não hoje. E talvez nem amanhã.
Não é fácil. Ela sempre soube que nunca seria.
Mas hoje está tão difícil segurar que choro por ela as lágrimas que ela guarda, só pra não ter que explicar a ninguém.
Explicar que a saudade dói.
E perguntar por que as pessoas vão embora... cedo demais.

"... eu continuo aqui
meu trabalho, meus amigos
e me lembro de você em dias assim
dias de chuva, dias de sol
e o que sinto, não sei dizer..."
Legião Urbana, 'Love In The Afternoon'

.

"... tanta afinidade assim eu sei que só pode ser bom..."

Tiê, 'Assinado Eu'

.a música que
me acordou essa manhã.

segunda-feira, 1 de março de 2010

A gente nunca sabe até quando vai suportar.

... os azulejos eram azuis.
e as janelas brancas.
Não tinha montanha aquela manhã.
Tinha só uma nuvem grande encobrindo tudo.
E ela sorriu.
Fazia tempo que não sentia tanto frio!

- Deve ser a chuva que caiu esta madrugada!
- E choveu?
- Sim! Você não viu?
- Não. Eu sonhei.
- Sonhou com o quê?
- Não sei. Não me lembro.
- Pedi que colocassem mais fotografias nas paredes, você viu?
- Por que você fez isso?
- Porque achei que você fosse gostar.
- Eu gostei.
- Promete que vai deixar que eu fique com as lembranças quando fôr embora?
- Mas eu não vou embora!
- A gente nunca sabe até quando vai suportar a solidão. 
- Eu sei!
- Sabe?
- Sei que sem você serei sempre só. Mesmo que com você eu também seja.
- Já falei o quanto gosto de você?
- Não sei. Não me lembro.
- Eu gosto de você.
- Obrigada.
- Por que?
- Por existir...