quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Novo Ano

"O que eu desejo para o novo ano é suavidade. E um bocado de alegria. E desejo também perdão: a mim mesma que sou passível de erros, mas que não preciso e não devo viver mergulhada na culpa. Desejo também carinho: uma alma acariciada fica doce, desvendada, amorosa. Desejo coragem, porque o medo paralisa e impede a melodia nova e é preciso arriscar para continuar (re)criando harmonias. Desejo muita inspiração, porque as palavras sempre me fizeram a companhia mais maciça para a solidão genuína que sinto. E foram elas que consertaram muitas dores ao longo da minha caminhada, coisas que só pude curar investigando, compartilhando, tendo aqui meus cinco dedos de prosa com vocês. Desejo um pouco de disciplina, pois um ser criativo precisa de rebeldia, mas também de horários e planejamentos. Desejo desapego pelas pessoas, mas um pouco mais de ambição material porque ninguém sobrevive apenas de metafísica. Desejo maturidade. Quando se tem maturidade, dá-se melhor o valor que tem cada coisa, sem supervalorizar o que é irrelevante ou subestimar um pequeno aprendizado. Desejo muita paz: um coração sossegado entrega-se com mais confiança. Desejo saúde e disposição. Desejo proteção espiritual. E desejo continuar sendo merecedora dessa boa sorte de falar e poder ser atentamente ouvida, de calar e ser respeitada, de amar e ser correspondida, de atrair pessoas de coração bom e muita sensibilidade, e de poder descobrir a cada dia que a verdadeira erudição está na simplicidade."

Marla de Queiroz

domingo, 26 de dezembro de 2010

Prece.

... as horas, os dias, o passado, o presente.
Tormento.
... as janelas brancas, o vento, o sossego, um quase janeiro permeando os resquicios de dezembro.
E a gente desejando, pedindo, clamando que a vida se renove a cada instante.
Sem perceber que as cores vão mudando os tons e a vida vai, nos descaminhos, encontrando um jeito pra florir.
Ah meu bem... quem dera fosse outono o ano todo.
E sei que desejaste só pr'eu sorrir, só pra tudo ficar meio bege e sair desse branco tão puro e delicado.
Mas não adianta. 
O cansaço é grande, a dor também e a solidão de ti é maior ainda.
Mas me acalmo. E ou eternizo essas ausências sem fim ou dou um basta nelas de uma vez com a coragem que não adquiri nem com o tempo.


"Abençoados os que esquecem", ela disse.
E que assim seja.
Abençoe. 
Amém.

Sobre Poesia

da solidão. do espanto. do amor. da melancolia. do transbordamento. do ir-remediável. para além dos muros.

"Sobre Sete Ondas Verdes Espumantes"
Um filme através da obra de Caio Fernando Abreu

(clique na imagem para visualizar o primeiro trailler)



quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Do livro de cartas (nº2)

Hoje, quando abri meu email, me deparei com a seguinte mensagem na caixa de entrada:Oi, boa noite. Acompanho seu blog diariamente e percebi que já faz algum tempo que você não atualiza. Você abandonou o blog? Gostava tanto de ler seus textos. Espero que esteja tudo bem. Com carinho,”. Optei aqui por não dizer o nome dessa pessoa que me fez pensar o que realmente tem acontecido. Comecei a tentar justificar com a falta de tempo, com a falta de inspiração, com a falta de assunto, mas eu só consegui pensar se será mesmo que está tudo bem comigo e se estou mesmo abandonando minhas cores. Tive uma fase meio ruim, pesada e triste. Conscientemente, me afastei para tentar me entender melhor e não passar tanta tristeza e insegurança por aqui. Mas aí eu decidi voltar. E quando a gente decide, tem que ser de verdade e foi depois desse email que eu percebi que se decidi realmente, não foi direito nem certinho, como deveria ser. Fiquei feliz com esse delicado puxão de orelha. Dá-me a impressão de que minhas cores transformadas em palavras, conseguem tocar o coração e talvez até clarear a vida de algumas pessoas...
Não sei o que tem acontecido comigo ao certo. Ando feliz com a minha vida, tenho grandes e bons amigos, uma família adorável e um amor tranquilo pra cuidar do meu coração. Mas escrever, ainda que seja um dos meus maiores prazeres e talvez o que sei fazer melhor, anda deixando a desejar. Pode ser cansaço mesmo... mas seja lá o que fôr, peço desculpas a quem vem aqui procurando algo novo e se depara apenas com as mesmas palavras e imagens.

2011 tá aí, batendo na porta prometendo encantamentos e realizações. Acho que talvez seja por aí que as coisas devam funcionar, procurando sempre os caminhos doces e cheios de ternura e cor, que passam tão despercebidos se a gente não abrir bem os olhos e ver com o coração.
Desejo a quem passar por aqui, um Feliz Natal e alegrias multiplas para o próximo ano. E que antes de qualquer dor, que o caminho de cada um direcione cada passo para o sonho, porque bem já disseram um dia (e eu acredito) que a vida sem ser sonhada, é praticamente impossível...


Boas Festas!

"Quero fim de ano, pés descalços na areia, a brisa do mar, fim de tarde tranquilo, música boa, sem relógio, despertador ou qualquer coisa que me mostre o tempo passando.
 Quero sair de noite olhar pro céu e ver estrelas, ter tempo pra ver como a lua é bela, observar pessoas, rir, chorar, pensar, viver, cantar, sentir. [...]
Porque não morri. Porque é verão e eu quero ver, rever, transver, milver tudo que não vi."

Caio F. Abreu

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

...

Quis olhar fundo, bem dentro dos olhos dele e pedir:
"Não me deixe nunca, por favor!"
Mas preferiu silenciar os lábios e fazer do pedido um pensamento e do pensamento um abraço.
"Promete que nunca vai me deixar?", pensou ela outra vez.
E sem nem sequer entender, ela sabia que a resposta era sim.
Ela sabia... um coração sentiu o bater do outro e assim ficou tudo bem...

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Leve

"Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais. Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta."
Lya Luft

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Dezembro

Amanheceu tudo muito dezembro.
A chuvinha na janela lembrando a neve que a gente não tem, o calor brando de verão, céu nublado, as ruas se enfeitando pro Natal...
E a gente vai percebendo lentamente (que é pra não assustar) que o tempo passou de novo e que mais um ano se foi.
Daí fazemos um balanço, listamos nossas conquistas, estabelecemos prioridades e necessidades para o ano que vem, lembramos dos sufocos e obstáculos, agradecemos as muitas alegrias que mesmo em meios conturbados, a vida nunca esquece de proporcionar...
Nos sentimos livres e prontos para mais um janeiro (e suportariamos até dois).
... aquela cara de recomeço, aquele cansaço renovado, o vazio das ruas, o silêncio, a sensação de que "tudo será melhor que ano passado", a previsível certeza de que "daqui pra frente farei tudo diferente", o doce descuido de se esquecer que em fevereiro as imprevisibilidades recomeçam...
Porque a vida é imprevisível... e fevereiro também não poderia deixar de ser.
Sabe, pra mim dezembro é bonito. Apesar de deixar pra trás a primavera, ele passa depressa em verão pra antecipar meu tão querido outono... 
Deve amanhecer assim por mais uns dias, até chegar Natal... porque Natal tem outro cheiro, outra cor, outro som. 
Mas aí é assunto pra outro post, outro tempo...

"Então fingirás - aplicadamente-, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam."
Caio F. Abreu


quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Feito pra começar

 
Um dia desses, nessa semana ainda, um amigo me chamou no msn, me entregou um link e disse "ouça pra alimentar sua alma". Abri e me deparei com o novo cd de Marcelo Jeneci. Uma preciosidade! Já conhecia algumas músicas (que esse mesmo amigo me apresentou) mas não com arranjos tão bem feitos e encantadores quanto os novos. Além das canções, com letras milimetricamente elaboradas pra tocar a alma da gente lá no fundo. Dou destaque pra "Por que Nós?" e "Longe", que Arnaldo Antunes gravou e que no cd aparece na voz doce de Laura Lavieri. Sem me esquecer de indicar também a faixa que dá nome ao cd "Feito pra Acabar", que recebeu um lindo arranjo orquestrado. 


Bom... e pra quem quiser alimentar a alma assim como eu, deixo de presente o link para baixar o cd  http://umquetenha.org/uqt/?p=10781

Vale a pena conferir. É realmente uma das melhores produções do ano, ao menos na minha opinião. =)

"(...)Fomos serenos num mundo veloz
Nunca entendemos então por que nós
Só mais ou menos(...)"
Trecho de 'Por que Nós?'

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Esperando por um título que ainda não escolhi...

"eu sei que às vezes a gente vive um desencontro danado mas eu queria agradecer, do fundo do meu coração, por você existir..." Anônimo

A vida tem se dividido entre manhãs ensolaradas e tardes tempestuosas. Faz um calor danado, e eu, que sempre preferi frio, ando tentando me adaptar a essa cidade quente e sem mar.
Uns dias atrás comecei a pensar em ir embora daqui... não sei pra onde mas me deu uma vontade de sentir o frescor do mundo. E tem tanto lugar bonito por aí, tanta coisa de sorrir e se admirar!
Mas eu, que nunca consegui me prender a lugar algum, aquietei meu coração distraído colocando-o pra repousar na beirada de um abraço.
E ele gostou de ficar ali quando descobriu que a vida sem cuidado e carinho é praticamente impossível.
Aí vez enquando volto a querer ir embora... molhar os pés na água ou esfriar o nariz até ficar vermelho de tanta neve. Ou encontrar a bela docilidade dos jardins com flores de primavera o ano todo ou a mágica absurda que imagino que deva existir nas ruas de Paris. E o engraçado é que de repente, isso tudo parou de fazer tanto sentido na solidão que passou a ser sonhado por mim buscando uma divisão, porque é tudo grande demais pro meu coração sozinho.
É nessas horas de delicadeza e descuido que a gente descobre o amor... quando quer recolher tudo que há de mais bonito na vida e juntar uma maneira de dividir com o abraço onde nosso coração repousa. Quando a gente quer morar no outro e deseja o tempo todo que o outro more na gente também, que é pra não sobrar espaço, nem faltar graça, nem existir mais solidão...
Muitas vezes, depois de descobrir esse amor, virá a dúvida. Mas até ela é um jeito de amar, um jeito de cuidar da gente mesmo e da possibilidade do outro sorrir.

Não sei até quando vai durar. Sempre digo que essas coisas de "pra sempre" são muito vagas e relativas. Mas eu sei que se a gente fôr embora um do outro um dia, restará pra cada um a certeza um tanto clichê de que valeu a pena e foi bonito, de verdade. Porque quando vai ficando velho, a gente vai aprendendo com os baques que amor da vida a gente não encontra todo dia, nem em qualquer esquina... é trabalhoso, demanda tempo, dedicação, respeito, cuidado... tem que ser com coração. Caio Fernando Abreu cita Guimarães Rosa em um conto e eu cito os dois aqui mais ou menos assim: o que tem que acontecer, tem muita força. E com a força que tem, só pode ter sido feito pra dar certo sabe... assim, limpinho, claro e bonito, do jeito que é.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Um tempo...

“A gente não vê quando o vento se acaba” Guimarães Rosa

Ontem mãe ligou dizendo que meu pé de graviola deu fruta e já tinha até virado suco pro almoço de domingo. Ela estava com a voz tão cansada e me deu vontade de correr só pra dar um abraço nela e dizer de novo que era só a gente querer e esperar mais um pouco, que tudo ia melhorar...
embora a gente tenha passado parte da vida em momento de espera, pra mãe ainda é dificil entender que as coisas não melhoram de um dia pro outro...
me deu saudade. E convenhamos, por mais dolorida que a saudade seja, é bom que ela exista pra que a gente não esqueça que, seja lá pra onde nosso caminho nos levar, metade do que a gente é vai sempre estar guardado onde a gente cresceu e passou maior parte da vida.

Depois do telefonema e ainda com saudade, comecei a pensar várias coisas e uma delas foi a maneira como tenho vivido meus dias. E conclui que parece que desliguei o manual e comecei a viver no automático. Sem maiores emoções, e só com a “divertida” condição de achar que em silêncio e sozinha, alguma coisa vai se abrir e me salvar. Aí eu resolvi que nesses meus dias de saudade, silêncio e solidão, vou me afastar um pouco daqui pra tentar encontrar um caminho. E vou porque o trajeto pode ser cansativo e triste e esse cansaço refletido em palavras pode não ser boml Esse encontro pode levar um dia, dois, uma semana, um mês, um ano! E enquanto isso, vou recolhendo muitas lantejoulas e purpurinas pelo caminho, enquanto semeio a certeza que mãe ainda vai aprender também: “é só a gente querer e esperar mais um pouco, que tudo vai melhorar”...
eu sei que sim...


quinta-feira, 18 de novembro de 2010

"eu juro vai ser melhor assim"

"eu já não ligo mais para você
hoje não canto
não falo, não saio, não durmo bem
os tênues fios que me ligam a você estão hoje em prantos
e no entanto arriscamos tanto nos envolver"

Graveola e o Lixo Polifônico, 'Dois Lados da Canção'

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Quando não sabe, a gente aprende...

tem chovido muito nos lados de cá. Vez enquando faz um frio!
ando um pouco exausta... e às vezes me pego sem chão, mas sempre respirando fundo, pra ninguém perceber o quanto eu me permito doer...
vivo numa luta diária. comigo mesma, pelejando pra não desistir.
Esse silêncio, essa (s) saudade (s), esse tempo que consome, essas ausências sem fim...
Outro dia, uma pessoa muito querida me perguntou sobre felicidade e a gente conclui, que por sorte ou falta dela, a gente nunca conseguiu ser feliz na companhia do outro sem pensar no tempo.
E ele nos traiu, assim como seres humanos traem, e como a gente não esperava.
Acho que ainda não é aqui sabe? Não é aqui que eu quero ficar... não é aqui que eu quero aprender a ficar.
Porque tem um mundo tão bonito lá fora e eu não conheço nem metade dele, que não sejam fotografias.
E eu quero conhecer, antes que fique preto e branco e envelheça... eu preciso.

Pedi a ele que me desse um Pai Nosso com três Ave-Marias.
Mas que tolice a minha! Ele não sabe rezar...





quinta-feira, 11 de novembro de 2010

"Eu quero...



... brincar de esconde-esconde
E te dar minhas roupas
E te dizer
E te dizer que eu gosto dos seus sapatos
E sentar na escada
Enquanto você toma banho
E massagear sua nuca
E beijar seus pés
E segurar sua mão
E escrever suas cartas
E carregar suas caixas
E rir da sua paranóia
E falar sobre o dia
E falar sobre o dia
E te dar fitas que você não vai ouvir
E tirar fotos suas
Enquanto você dorme
E te querer de manhã
Mas deixá-lo dormir mais um pouco
E beijar suas costas
E acariciar sua pele
E te dizer o quanto amo
Seu cabelo, seus olhos, seus lábios, sua nuca, seu peito, sua bunda, seu...
E sentar na escada
Até o seu vizinho chegar
E sentar na escada
Até você chegar
E me preocupar quando você se atrasa
E me surpreender quando adianta
E te dar girassóis
E ir a sua festa
E dançar até não agüentar mais
E sentir muito quando estou errada
E ficar feliz quando você me perdoa
E olhar suas fotos
E desejar ter te conhecido desde sempre
Sempre
E ouvir sua voz no meu ouvido
E sentir sua pele na minha pele
E ficar assustada quando você está bravo
E seu olho ficou vermelho
E o outro olho ficou azul
E te querer quando te cheiro
E te ofender quando te toco
Te abraçar quando está ansioso
E te segurar quando dói
Choramingar quando estou do seu lado
Choramingar quando não
E babar no teu peito
Me derreter quando você sorri
E não entender
Porque você acha que estou te rejeitando
Quando eu não estou te rejeitando
E me perguntar como você pode achar
Que alguma vez te rejeitaria
E me perguntar quem você é
Mas te aceitar de qualquer maneira
Mas te aceitar de qualquer maneira
E te falar
Sobre o menino da floresta encantada
Do anjo que voou através do oceano
Porque ele te amava
E escreveu poemas pra você
E me perguntar porque você não acredita em mim
E ter um sentimento
E ter um sentimento
Tão profundo
Que não consiga encontrar palavras para ele
E querer comprar um gatinho para você
Do qual você teria ciúmes
Por receber mais atenção que eu
E te segurar na cama
Quando você tem que ir
E chorar
Chorar feito criança
Quando você for embora
E te pedir em casamento
E você fala não mais uma vez, mas continuar pedindo
Porque apesar de você achar
Que não estou falando sério
Eu sempre falei sério
Sempre
Desde a primeira vez que te perguntei
E vagar pela cidade
Achando vazia sem você
E querer o que você quer
O que você quer
Você
E achar que estou me perdendo
Mas saber que estou segura com você
E te contar o que eu tenho de pior
E tentar
E tentar te dar o melhor de mim
Por você não merecer nada menos
E achar que está tudo acabado
Mas segurar mais uns dez minutos
Antes de você me expulsar da sua vida
E pensar que tudo está acabado
E me esquecer de mim
E tentar ficar mais perto de você
Porque é maravilhoso te descobrir
E fazer amor com você
Às três da manhã
E de algum modo
E de algum modo
Expressar um pouco desse devastador
Imortal
Irresistível
Incondicional
Envolvente
Acalentador
Desconcertante
Ininterrupto
Insaciável
Amor que sinto por você
E isso tem que parar
Isso tem que parar
Parar
Isso tem que parar"

Texto original da peça CRAVE, de Sarah Kane 


Achei aqui: Das Delicadezas

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Sobre o tempo...

... aí descobres que o sol não é um planeta e sim uma estrela.
E começa a perceber que o tempo passa independentemente do quanto se dedica a ele.
Aprenderás com as superficialidades da vida, que nada dura pra sempre.
Nem os momentos mais intensos são eternos.
Verás no movimento dos dias passando, o fio fino entre a destreza e a delicadeza...
Aprenderás com a dureza e riqueza dos dias, que o mais importante ainda são os sonhos construídos, idealizados e realizados com amor...
Sentirás desejos e vontades, dentre ir embora e ficar; dentre ficar só e não suportar a solidão; dentre nunca mais voltar e ficar um pouco mais até amanhã...
Encontrarás vários caminhos e nenhum deles será certo. Vai descobrir dura ou docemente, que na vida não existe certo e nem errado e sim as nossas cruas e individuais escolhas.
Entenderás que as estrelas vão estar sempre no mesmo lugar, até nas piores tempestades.
Somos nós que giramos... somos nós que cavamos e levantamos as paredes de nossas construções.
Sentirás vontade de voltar no tempo e perceberás que passou e que o que resta agora é uma leve esperança e crença no amanhã...
Vai chorar e entender que a solidão é bonita e reconfortante, apesar de...
Vai abrir os braços, livrar-se da rotina dos costumes ao menos por dentro, ao menos de coração.
Descobrirás na leveza dos dias, as doçuras e armadilhas da própria vida...
Abrirás as portas e janelas e num respiro fundo, entenderás o quanto dói e o quanto é tudo tão bonito e ao mesmo tempo...

...

"Ontem tomei um táxi e me distraí tanto olhando pela janela que no meio do caminho estendi a mão para o banco vazio do lado querendo pegar tua mão. Tô com saudade."

Caio F. Abreu


sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Só pela música...

... dá pra imaginar a vida doce, como a voz e a melodia de Yann...

alors tu te lèves,
tu vas faire du café,
et tu restes assis,
sans rien faire.
est-ce que ça va revenir ?... 
qu'est-ce qu'on va faire ?...



Do livro de cartas (n° 1)

Querida Ana,

Eu não me esqueci do seu aniversário. Me lembrei de você o dia todo, mais do que nos dias normais. Só que a vida anda uma correría estranha e não consegui colocar crédito no telefone por ausência financeira. Não tenho costume de rezar, mas pedi a Deus por você esta manhã. As coisas andam dificeis por aqui Ana. As pessoas correm tanto! E os carros também. Às vezes acho que não vou conseguir acompanhar e preciso parar um pouco pra respirar. A respiração aqui também é escassa, ar muito poluído, pouca circulação de ventos, essas coisas todas.

Outro dia da semana passada, desejei muito que você estivesse aqui. Tem tanta coisa bonita nesse mundo que eu queria mostrar pra você Ana! A Orquestra Sinfônica ensaiou uma peça linda: "Dom Quixote". Vem um Ballet (do Rio de Janeiro eu acho) dançar aqui sábado, naquele teatro grande do Palácio das Artes. Queria levar você e te convidar pr'um café depois (eu até deixaria você tomar chá).
Sabe Ana, sinto muita saudade do nosso tempo e das coisas simples e tão bonitas que me faziam sempre tão feliz. Não se preocupe minha amiga, eu não estou triste. Mas é que relembrar as coisas me deixa um tanto melancólica... lembra do tempo que a gente perdia sentadas na praça pra conversar? Perdia não: ganhava! E os sorvetes? Você mais nova, mas sempre mais sensata que eu, acertava sempre em não fazer misturas muito doces (meu exagero completava-se com aquela maravilhosa calda quente de chocolate). Aqui não tem sorvetes nem sorveterias nem domingos como os daí...

Outro dia, tive quase voltando Ana. Tenho certeza de que você me receberia de braços abertos. Mas aí eu pensei que você seria a primeira também a me dar os parabéns e o melhor abraço em cada vitória minha. Aí eu resolvi ficar... nem que por mais um pouco de tempo, pelo menos até encontrar o que fazer da minha vida. 

Estou te pintando um presente que não sei quando vou entregar, pois não sei quando vou te ver Ana.

A gente tá precisando de uma foto nova...

Vem me visitar qualquer dia! Vou mudar de casa outra vez semana que vem...

Te desejo toda a felicidade do mundo. Assim, branquinha, sem egoísmo nenhum, pr'eu te ver sorrindo e ficar feliz também...

Te cuida menina. A vida é bonita demais, mesmo com tantos poréns...

Amo-te Ana!

Avisa quando vier. Estou esperando desde já. Não sei fazer cookies sem você.

E sinto saudade...
E Feliz Aniversário.

Com Carinho,

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Abacate

"Sinto falta daí. 
Mas digo que na verdade sinto falta do colo, do conforto, do útero.
E que devo ficar por aqui"
Caio F. Abreu
Hoje acordei assim: sentindo muita saudade.
E os últimos dias, tão corridos, quase me fizeram esquecer como ela é bonita.
Sim! Bela... e com cores até.
A gente tem mania de achar ruim tudo que dói... mas não pensa às vezes que além da dor, a saudade carrega também amor.
Acho (não tenho certeza de quase nada nessa minha vida), que a gente só sente saudade daquilo que ama, daquilo que faz bem dentre tudo que fez parte da nossa vida.Ou que ainda faz, mas anda muito longe, por outros lados, encantando em outros cantos...
E pensando assim, a gente começa a achar um mundo de coisas de um passado, não muito distante, mas que a gente cria...

Ah... e tanto texto só pra dizer que sinto saudade de mãe... e o quanto me faz falta aqueles olhos cor de abacate olhando pros meus com tanta serenidade...

domingo, 31 de outubro de 2010

quase



"Nada por dentro e por fora além daquele quase-novembro, daquele vento, daquele céu-azul – daquela não-dor, afinal."


Caio F. Abreu

Eu quis te escrever algo bonito...

Sempre pensei que o amor fosse outra coisa.
e achava que assim como nos filmes, ele chegaria quando eu menos esperasse e levaria todo o meu sossego embora.
Quando conheci Amélie (a Poulain), queria que o amor fosse tão mágico quanto narrado no filme. E acreditei que fosse. E passei a procurar um Nino só pra mim...
bonito eu também sempre achei...
e já logo pensava que reduziria todas as minhas noites de sono e transformaria a minha vida inteirinha em outra coisa que eu nunca parei pra pensar qual.
sempre pensei que a gente tivesse que esperá-lo e de tanto esperar, cheguei a pensar que ele tinha se perdido no caminho.
experimentei uma ou duas chances de amor e só...
fui percebendo que ou as coisas andavam muito erradas, ou eu não tinha sido feita pra essa coisa de amar.
aí fui esquecendo enquanto planejava minha vida e meu caminho.
fui construindo sonhos com tudo que eu podia, com tudo que eu tinha...
idealizei minhas coisinhas bem ajeitadas dentro de um apartamento, meu café, minha escola de música e uma casinha pra mamãe morar (ela não gosta de apartamentos nem de cidade grande).
eu construí a minha solidão e passei a morar nela. Era tudo tão confortável e cômodo lá dentro!
e assim, passei a colecionar ilusões...
e com o tempo, fui descobrindo outras pessoas pra dedicar amor. Eu ainda tinha avó e família e amigos (embora talvez, o amor pelos últimos seja o mais frustrante).
E então, foi com o tempo que aprendi que o amor é como compor uma sonata: desafina um pouco, se perde nos compassos, extrapola uma ou outra nota, mas não perde a harmonia, nem a doçura, nem a delicadeza...
E descobri que, ao contrário do que dizem nas novelas, ninguém morre por amor, pois amor é dança, é vento, flor bela e perfumada, borboleta livre no ar...

eu encontrei o amor da minha vida em um minuto de dia amanhecendo. O sol entrou pela janela, fazia um calor danado e tive certeza de que tudo ficaria bem e de que, se aquele não fosse o caminho certo, era ao menos o mais bonito...
eu tinha uma mão pra segurar na minha, um abraço pra acolher o meu, um sorriso pra enfeitar os dias...
e eu tive uma vontade enorme  de parar o tempo naquele minuto. E de morar nele pra sempre!
No entanto, eu só pedi a Deus que abençoasse nosso instante...
e foi assim que descobri que, na verdade, o amor é um constante amanhecer...



quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Em paz...

É bom saber que está tudo bem... o trabalho, o coração, a vida.
E pra tua pergunta, a minha resposta é não.
Eu não esqueci você.
Nem as alegrias, os sorrisos, as brincadeiras e nem as rosas.
Mas chega uma hora que as coisas começam a tomar proporções diferentes e os caminhos, viram rumos desencontrados...
E é nessa hora que a gente precisa pegar tudo que tem e saltar.
Pra que esse tudo que nos foi tão bonito um dia, não se perca no tempo.
Quando salta, a gente salva e eterniza as alegrias da vida.
E foi isso o que fiz.
Eu não esqueci você e não vou esquecer nunca.
Porque não fui preparada pela vida pra descartar pessoas...
Fui preparada pra cuidar delas e amá-las sempre, mesmo apesar de...
Então, lhe deixo a simplicidade de Caio...
Como sempre, ele sabe melhor do que eu, o que dizer...

"A gente finge que arruma o guarda-roupa, arruma o quarto, arruma a bagunça. Tira aquele tanto de coisa que não serve, porque ocupar espaço com coisas velhas não dá. As coisas novas querem entrar, tanta coisa bonita nas lojas por aí. Mas a gente nunca tira tudo. Sempre as esconde aqui, esconde ali, finge para si mesmo que ainda serve. A gente sabe. Que tá curta, pequeno, apertado. É que a gente queria tanto. Tanto. Acredito que arrumar a bagunça da vida é como arrumar a bagunça do quarto. Tirar tudo, rever roupas e sapatos, experimentar e ver o que ainda serve, jogar fora algumas coisas, outras separar para doação. Isso pode servir melhor para outra pessoa. Hora de deixar ir. Alguém precisa mais do que você. Se livrar. Deixar pra trás. Algumas coisas não servem mais. Você sabe. Chega. Porque guardar roupa velha dentro da gaveta é como ocupar o coração com alguém que não lhe serve. Perca de espaço, tempo, paciência e sentimento. Tem tanta gente interessante por aí querendo entrar. Deixa. Deixa entrar: na vida, no coração, na cabeça."
Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

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"Há alguma coisa aqui que me dá medo. 
Quando eu descobrir o que me assusta, saberei também o que amo aqui..."
Clarice Lispector 


 

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Cidadezinha Silenciosa...

É impressionante como Itaúna perde um pouco sua vida aos sábados depois das 14h e só a recobra domingo à noite, ou segunda-feira, quando as pessoas começam a sair para trabalhar pela manhã.
O horário dos ônibus é adiantado em até 10 minutos (tempo considerável para quem se acostumou a marcar seus passos por um relógio) e estes, passam sempre quase vazios.
Sábado foi a primeira vez que vi Itaúna aos 23 e percebi que ela ainda funcionava como aos 21, quando saí de lá.
Exceto pela praça central, agora praticamente interditada por uma "grande e inovadora" reforma, algumas lojas novas no centro e outras antigas com suas fachadas reformadas, tudo continua no mesmo lugar.
As únicas pessoas nas ruas aos sábados depois das 14h, são as que ainda voltam do trabalho ou as poucas que ainda vão trabalhar. Outras (e essas poucas mesmo) que saem para ir à Igreja, à banca de revistas que fica aberta até às 20h, ou os senhores que jogam truco e xadrez embaixo das árvores (e quando chove, nem eles resistem).
À noite, o movimento gira em torno da avenida principal cercada por bares e sorveterias. As pessoas costumam andar de um lado para o outro, sempre bem arrumadas e sorridentes. Meus amigos costumavam sentar para beber e conversar no posto de gasolina que tem em uma esquina. Sempre achei interessante, apesar de sempre ir embora  cedo.
No sábado, voltando pra casa num ônibus vazio,  olhei para o posto procurando rostos conhecidos e não encontrei. O tempo havia passado por ali também e pela vida de cada um deles...
Sempre gosto de voltar pra cá (Belo Horizonte) antes de Itaúna recobrar a vida que perde aos sábados depois das 14h. Não sei... acho que essa ausência de vida, a deixa mais serena, mais tranquila, mais interiorana.
Pode ser cisma minha, mas acho que ela fica mais bonita sem tantas pessoas correndo de um lado pro outro.
Bem... as pessoas em Itaúna não correm muito... vai ver é por isso que qualquer movimento mais acelerado, pareça tão estranho pra mim, visto lá.
Vai ver é por isso que, mesmo que eu tenha saido de lá por escolha, eu gosto tanto daquele lugar.
Itaúna, pra mim, é um constante amanhecer...

...


"Estive pensando nesse mistério que faz com que a vida da gente se encante tanto por outra vida." 
Ana Jácomo

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

J'ai trouvé une raison

O dia acordou nublado e frio...
Olhei pro céu e pedi a Deus que fosse bonito, doce, calmo, sereno...
... pedi que não fosse apenas mais uma quarta-feira de acordar às 6h35 e sair às 7h15 pra trabalhar...
Desejei que tivesse mais motivos pra sorrir, mais motivos pra acreditar, mais chances de encontrar...
Pedi mais fé, mais clareza nos olhos, mais pureza no coração.
Desejei mais compreensão, mais certeza, mais força, mais decisão.
Desejei menos solidão, menos tristeza, menos dor...

Talvez um cinema mais tarde, um chocolate quente ou um capuccino.
Amanhã já é 23...

Para ouvir: I Found a Reason, Cat Power

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"De repente toda mágica se acabou..."

O Teatro Mágico

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

ei!

e se você me ouvisse mais, se acreditasse mais em mim, talvez fosse mais fácil te fazer entender que é de verdade.
que é grande. que é bonito. que conforta...
a gente se perde muito no tempo, eu sei.
mas senta aqui do lado, vai passar um filme bonito na TV e tem um CD novinho pra gente dividir.
tem uma vontade enorme no meu coração... de dividir a vida com você.
mas se o tempo passar por mim, vai carregar, levar embora... sem te esperar.
e eu espero... que definitivamente, alguém defina o que fôr melhor pra acontecer.
porque hoje eu tô tão calma, tão zen e... tão sozinha!
que se você abrisse a porta, talvez eu nem conseguisse ouvir.
que se você batesse a porta, talvez eu nem me importasse em te ver sair...

"LePethitPrince"


Memórias de um dia especial... (07 de outubro de 2010)

Thiago Pethit

ps.: não podia deixar de dizer que no CD "Berlim, Texas" achei uma cosinha tão fofinha! no mapa mundi no encarte, vem escrito em letras pequenas, embaixo, Gravado na Primavera de 2009. Achei tão poético! rs

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

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"Pensando em escrever para minha mãe, em mudar de vida, de emprego, de cidade, de país, que vontade, querida mamãe, de ser feliz, de ter um grande amor bem limpinho, bem clarinho, um amor de manhã bem cedo, não diga nada a ninguém, não é preciso, mas cá-entre-nós-que-ninguém-nos-ouça, não vem dando muito certo, tenho tentado, juro, beijos no pai, que ele não saiba que estou ficando velho, não conte a tia Flora que perdi as ilusões, que já nem lembro mais, e encho o saco disso e apago a luz e durmo e sonho."
Caio Fernando Abreu

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Quando chega a hora de ir...

"(...)eu quis ir embora tantas vezes...
mas aí a gente foi ficando, ficando... e foi tudo ficando tão dificil!
O sol, as cores, os compassos...
E eu sei que não foi sua culpa... eu entendo!
Mas você precisa entender também que não foi de propósito.
Essas ausências, essa angústia, essa tristeza, essa dor.
Não sei lidar com a solidão, embora ache que nada nunca me coube tão bem quanto ela.
E sabe... a gente devia ter se despedido antes.
E você sabe o quanto tentei...
Mas a gente foi juntando e colecionando tantos pedidos de desculpa...
Quando na verdade, não existia erro nenhum.
Era só se despedir e ir sabe...
E você pediu tanto que eu fiquei...
Me acostumei a ficar e aos poucos, fui me perdendo, sem ter mais pra onde ir...
E então, você vem dizer assim tão de repente, que precisa ir?
Mas e eu?
O que eu faço comigo e com todos os costumes  e todas as canções e todos os cantos e todas as alegrias tristes?
eu não devia ter pensado tanto em você...
E preciso parar de pensar... pra me reconstruir...
Porque quando a gente quer ir embora, eu aprendi que a gente deve ir.
E foi por isso que não te pedi pra ficar, nem fiz nenhum esforço qualquer...
A porta fechou, o guarda-roupa ficou vazio, a poltrona na sala mudou de cor...
Aí eu chorei. Só aí eu chorei..."

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

"Que seja Doce..."


"Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias. Bem assim: que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo.
Repito sete vezes para dar sorte: que seja doce, que seja doce, que seja doce, e assim por diante. Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder.
Que seja doce o dia quando eu abrir as janelas e lembrar de você. Que sejam doces os finais de tardes, inclusive os de segunda-feira – quando começa a contagem regressiva para o final de semana chegar. Que seja doce a espera pelas mensagens, ligações e recadinhos bonitinhos. Que seja (mais do que) doce a voz ao falar ao telefone. Que seja doce o seu cheiro. Que seja doce o seu jeito, seus olhares, seu receio. Que seja doce a leveza que eu sentirei ao seu lado. Que seja doce a ausência do meu medo. Que seja doce o seu abraço. Que seja doce o modo como você irá segurar na minha mão.
Que seja doce. Que sejamos doce. E seremos, eu sei"
Caio Fernando Abreu

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

À outubro, com carinho...

"Acordei com a sensação de que o tempo era outra coisa. 
E a vida também. 
Com uma saudade que tinha feições familiares. 
Cheiro conhecido. Braços longos. 
Que eu tentava sufocar das mais variadas formas e continuava lá, pulsando, doída e doce, desde sempre."  
Ana Jácomo

Existem umas coisas que movem a vida da gente.
E por mais que sejamos responsáveis por nossas próprias escolhas, algumas alternâncias acontecem sem nos deixar muito o que fazer.
A saudade vem movendo meus últimos dias... por ela, sinto vontade de escrever e por ela me anulo, sem saber muito pra onde ir ou o que fazer e dizer...
Caio Fernando Abreu dizia sempre que os dias mais dificeis estão em agosto e setembro.
Pra mim, continuam sendo os de outubro... com suas surpresas e suas alegrias tristes.
Costumo dizer que quem resiste aos meus outubros, resiste à minha vida inteira...
E ela, que hoje é só saudade, anda tentando se trasnformar em resolução...
Talvez seja a massa de ar quente, o céu cinzento e o calor... sinto tanta falta do frio de fora!
... talvez seja esse silêncio ensurdecedor.
A agitação de violinos descompassados, buscando soluções nos sons, é hoje, a ausência que mais me dói...


"Toda alma é uma música que se toca"
Rubem Alves




terça-feira, 28 de setembro de 2010

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"A casa tá ótima. 
Outro dia tive um ataque e pintei a escada toda de amarelo, bem amarelo.
A gente atravessa setembro.
Te quero bem, se cuida." 

Caio F. Abreu

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Hoje é 23

"É primavera, curam tristezas
Tudo muda demais por aqui (...)"

Thiago Pethit


Feliz Primavera!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Quase...

Senta do meu lado e fica aqui um pouco...
Nem precisa ficar por muito tempo, mas senta!
Conta alguma coisa nova, alguma história bonita ou se não quiser, nem precisa contar nada.
Mas fique! Que o céu nem está tão bonito hoje e me deu uma vontade enorme de pintá-lo de outra cor...
Tenho um universo inteiro de cores aqui...
E se quiser, dá pra colher uma a uma e montar um quadro bem bonito pra colocar na sua parede.
É quase primavera, eu sei.
E estou triste por não conseguir sentir... nem a leveza no ar, nem o cheiro das flores.
Tudo bem... sei que você vai dizer que ainda tenho amanhã pra sair de casa e me despedir do céu de inverno e me preparar pra acordar em flor no outro dia...
Mas existe uma diferença enorme entre as coisas... e eu sinto tanto!
Então... senta do meu lado... fica aqui um tempo.
Nem precisa muito...espera só até a primavera chegar...

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Faz bem...

... tem um bom tempo que não indico música aqui né.
Então, por culpa do domingo bonito que eles me deram, deu vontade de trazê-los pra cá.
Porque eles também colorem os dias... com a leveza e delicadeza combinadas em canções...
... que vão da Tempestade à Calmaria, e formam um enorme Conto do Faz de Conta...

 Com vocês, Monograma !
http://www.myspace.com/monograma


"(...) Deixa, eu ser de novo
Aquele seu, todo seu
Sem meias palavras
Ou meias trocadas
Deixa eu ser sua manhã (...)"
 


quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Cartão Postal

- Dá um abraço?
- Não posso!
- Por que?
- Porque vai machucar...
- Prometo que vai ser de leve...
- Vai machucar!
- Não consigo entender...
- Você me machuca... mesmo de longe... mesmo sem olhar e sem cuidar de mim todas as noites. Você deixa tudo preto e branco...

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Tudo vai ficar em calma

"É que eu tenho um monte de sonhos e planos nas mãos, sabe?
E às vezes parece tudo tão distante assim, com as coisas como estão!
Mas não é nada com você... é comigo.
É dentro, entende?
Mas vou ficar calma e aos poucos vai ficar tudo bem, eu prometo!
Enquanto isso só te agradeço... pela calmaria"

Girassóis

Existem as pessoas que vão ficar guardadas pra sempre no tempo...
essas que enchem a nossa vida de girasssóis e palavras de afeto e de alma.
E que só são eternas, porque o coração permite.
E a gente fica com a alegria mágica de saber que existiu...
E com a sensação forte de ainda existir...

12 de setembro- Caio faria 62 anos

"Gosto de pensar que quem já morreu fica num lugar quentinho, que a gente não vê, cuidando de quem ainda não morreu. E se você quiser agradar a essa pessoa, é só fazer coisas que ela gostava. Aí ela fica ainda mais quentinha e cuida ainda melhor da gente."
Caio Fernando Abreu

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

"Dia a dia, lado a lado"


"Eu sonhei que estava exatamente aqui
Olhando pra você
Olhando pra você, exatamente aqui
Cê não sabe mas eu tava exatamente aqui
Olhando pra você
Cê não sabe mas eu tava exatamente aqui
Pronto para despertar
Perto mesmo de explodir
Parto para não voltar
Pranto para estancar
Luto para acordar
Tonto de tanto te ver
Perto mesmo de explodir
Prestes a saber porque
Porque o sol se vai
Porque o raio cai
Se a nuvem vem também
Por que você não vem?
Nada a ver ficar assim sonhando separado
Se no fundo a gente quer o dia a dia, lado a lado
Eu não vou deixar você com esse medo de se aproximar
Pra ter um fim toda história um dia tem que começar
É natural que seja assim, você aí e eu aqui, exatamente aqui"

Tulipa Ruiz e Marcelo Jeneci 
(clique para ouvir)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Fuga.

Esta manhã choveu...
Não, não se preocupe que eu não vi. Só senti o cheiro pela manhã...
Você percebeu também que o dia acordou mais leve?
Parecia guardar uma surpresa em cada esquina...
Tenho andado um pouco triste, um aperto por dentro, sabe?
E eu não faço nem idéia de onde vem... só sei que resulta num desânimo danado, uma vontade de interromper o caminho bem no meio e ficar lá quietinha, até passar...
Porque passa, né? Pois é o que dizem, e eu gosto de acreditar vez enquando, pra me doer menos.
Ando me doendo muito. Só que dessa vez é diferente...
Aquelas feridas que a gente procura com as próprias mãos, se você olhar bem, não vai encontrar.
Mas andam me ferindo tanto! E me dói inteira, desde o primeiro fio de cabelo, até a ponta do dedão do pé.
Acho que preciso de ajuda...
Algum socorro espiritual, um livro de auto-ajuda, uma solução drástica ou vou fugir daqui.

Não sei quando ainda... mas vou.
Tá difícil segurar, viu?
Tem caído raios na minha janela todos os dias...

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Sobre presentes...

"Deixe que ele respire, como uma coisa viva. E tenha muito cuidado: ele pode quebrar.
Como um bebê ou um cristal: tome-o nas mãos com muito cuidado. Ele pode quebrar, o momento presente. Escolha um fundo musical adequado — quem sabe, Mozart, se quiser uma ilusão de dignidade. Melhor evitar o rock, o samba-enredo, a rumba ou qualquer outro ritmo agitado: ele pode quebrar, o momento presente. Como um bebê, então, a quem se troca as fraldas, depois de tomá-lo nas mãos, desembrulhe-o com muito cuidado também. Olhe devagar para ele, parado no canto do quarto ou esquecido sobre a mesa, entre legumes, ou misturado às folhas abertas de algum jornal. Contemple o momento presente como um parente, um amigo antigo, tão familiar que não há risco algum nessa presença quieta, ali no canto do quarto. Como a uma laranja, redonda, dourada — mas sem fome, contemple o momento presente. Como a cinza de um cigarro que o gesto demorou demais, caída entre as folhas de um jornal aberto em qualquer página, contemple o momento presente. E deixe o vento soprar sobre ele.

Desligue a música, agora. Seja qual for, desligue. Contemple o momento presente dentro do silêncio mais absoluto. Mesmo fechando todas as janelas, eu sei, é difícil evitar esses ruídos vindos da rua. Os alarmes de automóveis que disparam de repente, as motos com seus escapamentos abertos, algum avião no céu, ou esses rumores desconhecidos que acontecem às vezes dentro das paredes dos apartamentos, principalmente onde habitam as pessoas solitárias. Mas não sinta solidão, não sinta nada: você só tem olhos que olham o momento presente, esteja ele — ou você — onde estiver. E não dói, não há nada que provoque dor nesse olhar.

Não há memória, também. Você nunca o viu antes. Tenha a forma que tiver — um bebê, um cristal, um diamante, uma faca, uma pera, um postal, um ET, uma moça, um patim — ele não se parece a nada que você tenha visto antes.

Só está ali, à sua frente, como um punhado de argila à espera de que você o tome nas mãos para dar-lhe uma forma qualquer — um bebê, um cristal, um diamante e assim por diante. E se você não o fizer, ele se fará por si mesmo, o momento presente. Não chore sobre ele. No máximo um suspiro. Mas que seja discreto, baixinho, quase inaudível. Não o agarre com voracidade — cuidado, ele pode quebrar. Não ria dele, por mais ridículo que pareça. Fique todo concentrado nessa falta absoluta de emoção. Não espere nada dele, nenhuma alegria, nenhum incêndio no coração. Ele nada lhe dará, o momento presente.

Deixe que ele respire, como uma coisa viva. Respire você também, como essa coisa viva que você é. Contemple-o de frente, igual àquela personagem de Clarice Lispector contemplando o búfalo atrás das grades da jaula do jardim zoológico. Você pode estender a mão para ele, tentar uma carícia desinteressada. Mas será melhor não fazer gesto algum.

Ele não reagirá, mesmo todo pulsante, ali à sua frente.
Respire, respire. Conte até dez, até vinte talvez. Daqui a pouco ele vai começar a se transformar em outra coisa, o momento presente. Qualquer coisa inteiramente imprevisível? Você não sabe, eu não sei, ele não sabe: os momentos presentes não têm o controle sobre si mesmos. Se o telefone tocar, atenda. Se a campainha chamar, abra a porta. Quando estiver desocupado outra vez, procure-o novamente com os olhos. Ele já não estará lá. Haverá outro em seu lugar. E então, como a um bebê ou a um cristal, tome-o nas mãos com muito cuidado. Ele pode quebrar, o momento presente. Experimente então dizer “eu te amo”. Ou qualquer coisa assim, para ninguém."

Caio Fernando Abreu

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Amanhã é setembro...

"Sentia algo que não podia definir,
como uma vontade louca de correr,
 de olhar o céu,o sol, as flores."
Caio F. Abreu
 


... uma calma veio lhe acordar pela manhã.
Pela primeira vez, durante todo o mês de Agosto,  nuvens brancas como algodão sobrepunham o azul claro do céu.
Prometeu que nada tiraria seu bom humor...
Nem o calor do verão querendo chegar, nem o excesso preso nas pessoas, nem as cismas, os medos e as superstições que Agosto trás.
Na verdade, nem havia bom humor.
Mas havia um desejo enorme de que ele existisse e isso era o suficiente pra insistir.
"Com um pouco de fé, a gente enfrenta quantos Agostos for preciso"
Saiu de casa como a Dona de toda Fé do mundo...
"Sorri que o dia vai dormir Agosto e acordar Setembro!"
E logo logo é primavera outra vez...